Capítulo 20.5° - Os ossos e edifício tremeram

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Augustus, elfo



Estou cansado. Haviam recuado para a área dez, rumo ao abrigo subterrâneo abaixo do edifício governamental. Os civis estavam no alojamento submerso com um terço dos soldados de Sangue Branco e duas dúzias dos de Semiramis. Augustus ficara na entrada do prédio junto a mais trinta, com centenas no interior, retaguarda e cinquenta sobre a construção.

Aeolus e o grupo que fora atrás do Ícaro decapitado não voltaram. Alguns civis escoltados por aventureiros, outros por gangsters, chegaram em meio as ondas de ontem à agora.

Uma maré deles, cadáveres ambulantes com aço desembainhado nas mãos e murmúrios nos lábios, estava à frente de Augustus. Socou a mandíbula de um oni para fora de seu rosto, partiu um vampiro ao meio e decepou seis cabeças com um único balanço da espada retrátil Mordecostas. De novo. Mais uma vez. Mais vezes do que podia contar.

Estou com fome.

Zéfiro e outros magos mantinham as tentativas daqueles vindo por telhados vizinhos improdutiva. Três trios de mensageiros foram enviados para contatar os demais polos do exército e dos aventureiros em Semiramis. Reforços podem aparecer a qualquer momento. Augustus desviou do machado de um enorme zumbi e fez a espada subir o cortando os cotovelos. São fracos, a maioria é provavelmente de rank quatro ou cinco. Suor empapava-lhe os trajes sob o peitoral de aço .

Os homens e mulheres as laterais do elfo arfavam e tinham as armas erguidas de três a cinco centímetros mais baixas do que quando chegaram. O ar fedia a um misto de transpiração e carne congelada. Mais da metade já fora substituida por sujeitos descansados, mas ainda está pesado. Os mortos vem e vem e vem, param por uma dúzia de minutos e continuam por horas. Alguns eram fortes, de rank dois... talvez um. Um talho sob a axila de Augustus que ia até o mamilo havia sido curado por Helena não fazia uma hora, a fenda ainda pairava na armadura.

Minha visão está começando a ficar turva.

Era meio dia. Que se foda o governo de Semiramis.

— Zéfiro, suba as paredes!

Nenhuma palavra foi dita, a terra a frente do prédio, a partir do segundo degrau, se ergueu rapidamente levando zumbis ao alto, os vivos recuaram e Augustus cortou os mortos que ficaram do lado de cá da rocha elevada com magia. Quantos magos poderiam fazer isso? A estrutura chegou a sete metros e outra foi erguida a esquerda, direita e trás. Mesmo enfraquecido, não consigo pensar em alguém mais capaz que Zéfiro.

Talvez ele pudesse vencer a Jormungand.

O som de metal acertando pedra soou, o muro tremia e as fileiras de guardas observavam em silêncio, suor os escorrendo a pele e olhos completamente abertos. Não vai segurá-los.

— Helena! Poção de vigor!

A elfa disparou de dentro do salão com um cantil de dez litros. Ela atravessou até a vanguarda, entregou o recipiente ao primeiro da ala direita e continuou até parar a frente de Augustus.

— Não acha que deve trocar de turno com alguém? — ela, e o deu o recipiente. Ele bebeu. Era frio e doce. O elfo piscou devagar, ajeitou a postura e respirou fundo.

— Ainda não.

— Pode acabar nos matando se o inimigo passar por cima de você, velhote.

Sorriu tenuamente.

— Alguém cobrirá o buraco da minha morte antes que possam fazê-lo.

Ela continuou a repassar a bebida.

A criança de Jaime Fearblood está viva e forte. A parede quebrou em diferentes pontos e o topo desabou sobre os zumbis e os degraus. Ainda não sei se isso significa algo. A ponta aguçada de uma lança voou contra seu olho, Augustus recuou o tronco e a lâmina chegou a um centímetro de sua íris. Antes que a arma recuasse subiu a própria, abrindo o peitoral do zumbi ao meio.

Sangue frio o atingiu a face.

Jaime Fearblood ficaria grato? Aparou o golpe de uma cimitarra e quebrou o quadril de outro zumbi com um chute. Se meus filhos sobrevivessem para ver esse inferno após minha morte, eu ficaria agradecido? Dividiu um licantropo no meio. Uma chance de crescer e formarem suas próprias famílias... outra bem maior de morrer dolorosamente.

Um longo frio o percorreu da nuca a sola dos pés.

Será que em Sangue Branco... monstros e zumbis também...? As pernas tremeram, a pele empalideceu dois tons e o coração comprimiu vigorosamente. Uma lança o atravessou o estômago. Cuspiu sangue, soltou a espada e agarrou a haste com as duas mãos. Os olhos vítreos de um vampiro com metade do rosto derretido o encaravam. Agonia o gritava pelos nervos. Filho da puta.

Cerrou os dentes, tensionou os músculos ao limite e agarrou as têmporas dele. Preciso ir para casa, saia da minha frente, droga! Esmagou a cabeça do morto, uma massa rósea e liquido frio deslizou-o palmas abaixo. Augustus tossiu mais vida carmesim para fora, agarrou a haste da lança e... os zumbis haviam parado, os punhos do que acabara de destruir continuavam firmes na arma.

''Amaldiçoados sejam aqueles de pé, com calor em suas veias e um fim ainda por ver'' as criaturas murmuraram em uníssono. Duros arrepios dedilharem a espinha do elfo. Doía, a arma o atravessando as entranhas e saindo a esquerda da base da coluna.

Algo mudou. Os companheiros de Augustus desmembravam os recém paralisados zumbis. Uma desses decepou os braços do que empalara Augustus, puxando o elfo para trás e dizendo algo. O mundo foi substituído por uma tela branca e agonia. Então voltou. Uma parede alva a frente, atrás de duas elfas, Helena e Arítimeia que o encaravam. Olhou para baixo o buraco do acerto regredira até uma cicatriz vermelha. Eu quase morri, de novo.

Começou a se levantar, balançou uma negativa às palavras que deixaram a boca de Helena e virou o rosto para ver os homens e mulheres sentados e armados sobre poltronas, fitando o chão, conversando, afiando a lâmina ou assobiando.

Não precisam de mim. Passou por entre as elfas. Stephanie Feablood deveria ter me matado, pelo pai dela, pela cidade, povo...

Não devia saber quem eu era. Sem fardamento e lutando como um outro guarda qualquer de Semiramis. Respirou fundo. Mas não interessa agora. Preciso ir para casa, ter certeza que minha família está bem.

Uma mão envolveu-lhe o pulso.

— Coma algo primeiro. Vegetais e carne.

Não tenho tempo... forçou o braço a frente, o agarro permaneceu.

— Comerei.

— Ótimo, velhinho, não gostaria de achar outra lança entre suas entranhas.

Sorriu. É uma boa jovem, é uma pena que tenha que estar no meio dessa bosta. A seguiu a borda interior da estrutura e contrária a entrada. Saliva o subia a boca, não comia desde a tarde anterior. O estoque possuía treze toneladas de carne, arroz, bebidas alcoólicas, frutas e pães.

Um rugido cruzou o ar, ossos e edifício tremeram. Perdurou, pondo frio a afundar presas de aço na carne e os músculos a bambearem. Uma ventania abriu violentamente a porta dupla acompanhada do estrondor de enormes asas batendo.

Isso não... não pode ser... um...

A parede explodiu. 

A Queda das EspadasWhere stories live. Discover now