Prefácio

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Lady Marlene, Grã-Duquesa dos Vales do Sul, herdeira das Ilhas de Elsa, estava exultante. Acabara de descobrir que, apesar de sua saúde frágil, em seu ventre, havia uma criança.

A Grã-Duquesa esperava o esposo no jardim. Havia se sentado na grama e olhava para o horizonte tentando vê-lo. Já se passara três quartos de hora desde que mandara um mensageiro chamar o Grão-Duque, que recém havia saído para caçar. Após alguns momentos, pode ver seu marido montado em um puro sangue negro que vinha em sua direção. Então ela se levantou e esperou que ele chegasse e desmontasse.

 - Grão-Duque dos Vales do Sul, Sir Ricardo Chiroptera - disse Lady Marlene em tom formal - que sua descendência seja longa e próspera.

Sir Ricardo, que viera o mais rápido possível, imaginando que o quadro de sua esposa estivesse piorando nessas últimas semanas, precisou de três intermináveis segundos para compreender a grandeza da frase. Nos segundos seguintes, prendeu-a em seus braços e começou a girá-la. Um sorriso infinito em seu rosto.

Naquela manhã fazia exatamente quatro meses que Lady Marlene estava de cama

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Naquela manhã fazia exatamente quatro meses que Lady Marlene estava de cama. Os médicos a haviam proibido de fazer qualquer tipo de esforço, prezando a sua saúde e a de seu bebê. Apesar de todas as medidas que foram tomadas, ela sabia que poderia não resistir ao parto. Já era milagre uma mulher tão fraca ter conseguido engravidar. E para piorar, o medo de não conseguir manter a gravidez a assombrava todos os dias. Não querendo que a criança crescesse sem mãe, Lady Marlene tomara uma decisão. Ela escolheria a nova esposa de seu marido.

A conversa que se seguiu foi difícil, mas ela estava irredutível. Sir Ricardo tentou argumentar de todas as formas possíveis, mas no fim cedeu à vontade de sua esposa. Apesar de o casamento deles ter sido arranjado, ela a amava; o jeito como a olhava, quando sabia que ela não estava com a atenção voltada para ele, era percebido pelos criados que ali estavam e, consequentemente, era sabido por todos do castelo. Pensar em desposar outra não lhe parecia correto.

- Podemos escolher juntos - disse Lady Marlene com um sorriso fraco em seus lábios, ao perceber o quanto sua decisão afetava seu marido.

Seu vestido de casamento era lindo como o mar no verão e, assim como o mar, o verde e o azul se fundiam e se confundiam

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Seu vestido de casamento era lindo como o mar no verão e, assim como o mar, o verde e o azul se fundiam e se confundiam. Com o espelho que segurava em sua mão, podia ver o reflexo de uma mulher de 27 anos, cujo cabelo castanho fora trançado com flores brancas, via suas bochechas rosadas, seus lábios em sorriso e seus olhos, também castanhos, refletindo esperança.

Estava perfeita.

Porém, uma memória não parava de lhe ocupar a mente: o dia em que fora chamada para passar uma semana na residência dos Chiroptera. Lembrava-se de estar no quarto de seu filho João quando uma das criadas apareceu trazendo algumas cartas, dentre elas, uma carta convite do Grão-Duque e da Grã-Duquesa dos Vales do Sul. Era muito comum receber carta convite, todavia quem geralmente as mandavam eram familiares ou amigos que residiam longe e não nobres tão importantes com quem só trocou cumprimentos em um ou dois bailes. E por mais difícil que pudesse imaginar ou até mesmo acreditar, o motivo da carta foi ainda mais surpreendente.

A proposta foi feita no quarto dia. A Grã-Duquesa estava sentada em meio a várias almofadas de penas, dispostas de forma que ela pudesse ficar bem confortável. O Grão-Duque estava em uma cadeira ao lado da esposa e entregava ao pequeno Conde João um pedaço de bolo de limão e lhe dizia para ir brincar no jardim. Lady Ruti sentava-se em uma cadeira igual a do Grão-Duque e estava de frente para o casal.

Lembrava de pensar que estava em um sonho deveras maluco enquanto ouvia os motivos para Lady Marlene tê-la escolhido para se casar com o seu marido. Ela foi extremamente delicada ao falar da situação financeira de Lady Ruti, apesar de todos na corte saberem que seu falecido marido perdera grande parte da fortuna da família em negócios ruins e que, posteriormente, perdeu o que restava em jogos de azar -Lady Ruti sabia que ser viúva, mãe de uma criança pequena e estar praticamente desprovida de bens a deixava vulnerável.

Lady Marlene também descreveu seus sentimentos de medo e tristeza por saber que seu bebê perderia a mãe tão cedo, deixando claro que com a união de Sir Ricardo e Lady Ruti as duas crianças cresceriam com pai e mãe. Apesar de nunca terem conversado antes daqueles quatro dias, ela havia ouvido que Lady Ruti era uma mãe exemplar. Muito foi dito naquele dia e não tocou-se mais no assunto em nenhum outro momento dos três dias que se seguiram. Nem quando os convidados estavam de partida, voltando para casa.

A resposta chegou duas semanas e cinco dias depois. Um pequeno envelope endereçado ao casal, cuja mensagem fora escrita com apenas duas palavras: Eu aceito.

 Um pequeno envelope endereçado ao casal, cuja mensagem fora escrita com apenas duas palavras: Eu aceito

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Alguém ai estava preparado para essa reviravolta? Eu não estava.

Escrever esse prefácio foi como levar uma punhalada no peito. No entanto, era necessário para vocês entenderam a dinâmica familiar dos nosso protagonistas.

Aproveito para agradecer a vocês, leitores, por prestigiarem minha obra!

The Dark NightWhere stories live. Discover now