A compreensão de como uma fênix funciona

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–Por que? –Era compreensível sua ressalva, não o julgava.

–Você precisa ver. –Não conseguira explicar, tinha que mostrar.

Antes de vir até mim, pegara sua espada ao chão e então aproximara-se, consciente de cada centímetro que diminuía entre nós.

Com os registros sobre a mania já aberto, fui apontando aos pontos principais para ele ler, como a relação entre as ruínas e como terminava em caos e morte.

–Ruínas? –Ele soava tão descrente quanto eu. –O que ruínas tem a ver com uma doença?

–Essa pesquisadora não chegou a descobrir, apenas aniquilaram todos com a mania. Drítan nunca se livrou disso, apenas empurraram para baixo do tapete. Devem matar ainda todas as pessoas que pegam a mania. Não podemos fazer isso com Althaia. Fechar o acesso pelas ruínas não é uma solução tão eficaz, aqui mesmo existem passeios clandestinos entre as ruínas dos antigos.

–E ir à público justificando o porquê das ruínas estarem isoladas deixaria a imagem de Althaia enfraquecida por todos os lados. Expor uma ferida serve apenas para pessoas se aproveitarem disso. –Suas palavras não foram apenas palavras, proferindo-as com o olhar preso a mim.

Era ódio. Simples e mais puro ódio –e eu precisava apenas aceitar. Eu criara aquilo.

–Agora leia isso. –Peguei as informações sobre a família Galene e apontei para o nome da minha mãe. Ele seguira o que eu indicava, mas não compreendeu. Respirei fundo e engoli em seco, desviando meus olhos. –Eu vi os diários de Theron enquanto estava no castelo, alegava que ele tinha uma criança não registrada a pedido da mãe da criança, sua amante, para não trazer todo o drama que vinha junto com a realeza a alguém tão pequeno. Meu nome é... Calia Saoirse. Essa mulher era minha mãe. E essa criança sou eu.

Grandes linhas apareceram na testa de Nikolai, tentando, assim como eu, encontrar a lógica naquilo tudo –e possivelmente falhando.

–Você está dizendo...

–Que eu sou uma Galene. –Engoli em seco mais uma vez. –Uma Galene herdeira que pode tirar o rei Galene que serve como símbolo para a resistência atualmente.

Com novas ressalvas, olhara para mim como se eu fosse uma estranha, capaz de esfaqueá-lo (uma segunda vez).

–Como sabe tanto sobre a Resistência?

Toda a verdade, até a que eu desconhecia, havia sido exposta e só faria sentido que eu conseguisse contatar a resistência se eu fosse honesta com mais uma coisa.

–Eu também os estava oferecendo meus trabalhos. –Disse pouco mais alto que um sussurro, recebendo uma encarada pétrea de Nikolai até que ele percebesse que eu falava sério e começara a rir como se eu tivesse contado a mais engraçada das piadas.

–Claro que estava. Não sei porque esperava diferente.

–Não pense apenas nisso. Pense em como me colocar no poder da resistência poderá ser útil. Miranda não conseguiria nada com Asher, comigo ela conseguiria uma trégua entre os dois lados para lidar com a situação da mania do oráculo.

–Como posso saber que está falando a verdade sobre ser herdeira? Como posso saber que Calia não é um novo "Amélia"?

–Por que mentiria sobre isso?

–Não sei. Por que mentiria sobre isso, Sombra?

Eu entendia que era apenas a reação magoada dele, mas ser questionada pelo meu nome real ainda machucava.

–Se você conhece o mínimo sobre mim, sabe que a coisa que eu menos quero é atenção. Qual seria o ponto de levar uma mentira que apenas me traria atenção? –Quieto, engolindo em seco e travando o maxilar, cruzara os braços. Não responderia.

Não diria o que tão claramente pensava: eu não conheço nada sobre você.

–Leve esses dois documentos com você à Althaia para discutirmos sobre isso com Miranda em maior segurança. Por enquanto, é melhor que apenas nós dois tenhamos conhecimento desses fatos. Não é bom discutir sobre assuntos particulares de uma corte em um outro reino.

Concordei com outro pensamento preenchendo minha mente: Torryn.

Não havia mais como esconder aquilo dele –e eu só esperava que ele ficasse do meu lado.

Olhei pela janela, pelo azul claro que surgia por trás das nuvens vindo pelo amanhecer e suspirei.

–Para isso, você precisará me levar até um canto da cidade.

Não conseguia parar de Pensar em Torryn, em como ele poderia reagir, se duvidaria... não, Torryn não duvidaria.

Deuses, que noite.

Resignado, trincara o maxilar e engolira em seco mais uma vez.

–Então troque de roupa, estarei te esperando com um cavalo à frente do castelo. –Sem mais delongas, apenas me dera as costas e passara pela porta, fechando atrás de si, deixando-me sozinha.

Respirei fundo.

Tinha vontade de chorar, mordendo os lábios com força para controlar esse desejo, caminhando até minha mala e tirando de lá o vestido mais simples criado pelas mãos de Cordélia, Eira e Wren, trocando-me ao mesmo tempo que olhava pela janela, vendo as bandeirinhas ao longe, o sol representando fogo e a fênix representando a resiliência de seu povo.

Agora, assim como a fênix, eu só precisava aprender a me reinventar, ressurgir das cinzas –mais uma vez.

Sorte que essa é a minha especialidade.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde histórias criam vida. Descubra agora