Uma flor do deus Ignis

Começar do início
                                    

Tinha uma empregada ao seu lado, uniformizada com as cores do reino sobre um vestido simples e branco, leve para suportar o calor, apresentada como Amara.

Mal percebera quando, guiada pelo braço de Dayna, já estávamos passando pelas grandes portas da frente de seu castelo, dando de cara com a praça circular que, animadamente, era arrumada para o festival, diferentes mesas dispostas nas ruas por diferentes pessoas com diferentes produtos, desde comidas caseiras e doces até roupas e sapatos.

Olhando para cima, via cordas com bandeirinhas presas como decoração sobre a praça e as ruas que a rodeavam, presas no alto das construções atrás das ruas, coloridas entre a paleta dritaniana e alternando os desenhos que estavam no centro de cada bandeirinha entre uma ave que parecia pingar fogo, lembrando se tratar de uma fênix, e um sol belamente desenhado com os raios parecendo balançar, dançando com a brisa fresca que, eventualmente, passava por lá.

A primeira coisa a intrigar-me foram as ruínas ao longe, tão grandes e ainda assim, esquecidas.

Notando onde estava minha atenção, Dayna parara ao meu lado.

–Triste, não? Uma sociedade tão grandiosa como a dos antigos reduzia à paredes pela metade lentamente sendo destruídas pelo tempo apenas por arrogância. Como pessoas que se diziam tão inteligentes podem ter criado o próprio fim?

–Podemos visitá-las? –O conceito dos antigos e suas histórias sempre me interessaram, perguntando-me como pessoas com mais de dois metros de altura, capazes de terem tantos avanços, acabaram se matando apenas para que um grupo somente tivesse o controle total pelo globo. Era algo tão curioso.

–Não! –Respondera Dayna, tão eloquentemente mesmo com apenas três letras que me deixara receosa com a possibilidade de ter dito algo de errado. –As visitas às ruínas foram abolidas há anos. Nunca se sabia quando um novo pedaço de pedra poderia cair, descobrindo-se mais perigoso do que havíamos considerado. Meu irmão e eu ainda acreditamos que existam guias e rotas ilegais para levar viajantes e conseguir seu dinheiro, mas estamos tentando acabar com essas práticas.

Sem insistir no assunto, ao qual a princesa aparentava bem irredutível, apenas a segui.

De início, Dayna me levava para caminhar entre as ruas e ver as preparações com meus próprios olhos, tudo já quase pronto, pessoas notando que eu era estrangeira (como, eu não poderia dizer) e oferecendo-me seus produtos, principalmente os alimentos. Aceitei poucas coisas, mas algo chamou mais minha atenção: um anel feito em arame trançado que se entrelaçava e dava voltas no dedo –não tinha mais muito espaço para novos acessórios em meus dedos, mas faria caber.

Antes que eu percebesse, um bandolim começava a preencher o espaço vazio que existia entre uma voz outra dos comerciantes, logo acompanhado de uma flauta singela e um acordeão que harmonizava entre os instrumentos, um pandeiro, um banjo e uma lira para finalizar a composição, a música vindo dos músicos sentados na praça, próximos à fonte baixa, onde quatro estátuas, duas femininas e duas masculinas, encontravam-se, algo que não notara quando chegara à Solandis.

Absorvendo tudo que os meus sentidos eram capazes, notei que havíamos acabado de passar por um local grande, colorido de maneira diferente dos restos das construções, visivelmente mais trabalhado e mais cuidado, pessoas entrando e saindo e um vendedor de flores azuis que eu era leiga demais para saber seu nome.

–Esse é o santuário da deusa Aque, a deusa da água. –Parando à frente do santuário que tinha suas portas abertas, abaixara a cabeça, levando os nós do dedo indicador e do dedo médio até sua testa e, em seguida, até seu coração.

Dayna era uma fiel à sua religião.

–O que isso quer dizer? –Queria saber tudo sobre aquilo que me parecia tão interessante, tão diferente do que eu conhecia como religião, que nem ao menos soube por onde começar a perguntar.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde histórias criam vida. Descubra agora