A área particular

Mulai dari awal
                                    

"Creio que você deixou cair sua chave" a voz de Nikolai estava muito abafada, quase não sendo capaz de escutar se eu não tivesse simplesmente parado de respirar.

Permitindo-me apenas que eu corresse para baixo de uma das estruturas de metal, deitada no chão encarando quilos e quilos de livros logo acima do meu corpo até ouvir o clique da porta e ela sendo aberta, abençoadamente sem rangido algum, o que indicava que eu poderia sair sem que ele percebesse –não tínhamos mais a chave, novamente nas mãos de seu dono. Se ele saísse antes que eu, trancando-me na área particular, não teria mais como sair, Nikolai não é ladrão algum, não seria capaz de roubar os guardas.

Ele caminhava com uma lamparina acesa (talvez era até um tanto idiota carregar produto inflamável para tal lugar), alternando entre fileiras e fileiras que eram divididas pelas estruturas similares à prateleiras e estantes, procurando mínimas alterações que indicariam interferências internas.

Sabendo que, naquele momento, se eu fosse até a entrada, ele não poderia me ver, testei maçaneta e meu desespero crescera ainda mais –idiota idiota idiota.

Era óbvio que a porta não abriria assim como também não abriria antes de Nikolai trancá-la por segurança. A cada vez que o mecanismo encostava-se no fecho, a trava por segurança era ativada e trancava imediatamente.

Eu precisava roubar um guarda que estava dentro de um pequeno recinto sem que ele notasse minha presença.

Conseguiria, certo? Eu sou a Sombra, afinal.

Precisava conseguir.

Estávamos a uma estante de distância, tendo percebido que ele começara a checar o conteúdo do canto mais à direita para a esquerda, vendo enquanto o brilho da lamparina avançava em conjunto a seus passos, agachando ao chão mais uma vez e rolando no chão frio de pedra sob a estrutura que suportava os livros e chegando no mesmo corredor que ele, de frente para suas costas, claramente alheio à minha presença.

Vagarosamente, como o fantasma que clamavam tanto que eu fosse, realmente uma sombra provocada pelo pouco fogo que tinha em mãos, cheguei perto o suficiente para esticar a mão e tocar seu cinto, fazendo-o e conseguindo sentir o reconfortante frio metálico em meus dedos pela segunda vez no dia. Nem mesmo um vendo passaria mais despercebido que logo atrás do guarda.

Quando ele fora passar para o outro corredor, onde eu me encontrava antes, fui para baixo de outra prateleira até que ele ficasse fora da visão da porta mais uma vez, acelerando-me até lá quase sem sequer tocar meus pés no chão, destrancando-a, quase tirando uma adaga do meu peito, restando apenas a espada que eu sentia fincada em mim.

Por mais que todos os sentidos espertos do meu corpo indicassem apenas para sair de uma vez no momento que o clique fora escutado por mim, fiquei para devolver a chave em seu cindo como se nada tivesse acontecido –e, sendo sincera, o que me comandava pela maior parte do tempo eram os sentidos não tão inteligentes, então deixei a saída encostada para não travar mais uma vez e deixando-a ainda discreta, sem que o guarda percebesse a diferença de sua posição em milímetros.

Fui rapidamente, sem nem ao menos notar meus movimentos, uma ação falha, já que ele virava-se rapidamente para observar os documentos onde me estava no exato momento, sem ter a opção de abaixar-me e ficar sob os livros mais uma vez, impulsionando-me para cima e chegando ao topo reto e frio de maneira ágil suficiente para que ele não chegasse a tempo suficiente para pegar nem minha silhueta de esguelha, esticando meu corpo para que a luz que vinha do objeto que carregasse não chegasse até mim, suando frio pela espinha e com gotas acumulando-se na linha entre meus cabelos e minha testa, dessa vez não pelo calor –naquele momento, quase havia me convertido em uma fiel novamente, pensando em lançar uma prece ao que quer que me atendesse.

Esperei, pacientemente, até que ele passara por mim e eu pude pôr os pés no chão, mais uma vez em seu encalce, no entanto, agora, para devolver o que roubara, vendo a chave em seu cinto como se nunca parara em minhas mãos.

Observando enquanto ele ia para o penúltimo corredor em seu tempo, ninguém apressando-o, fui até a porta e saí pela mais fina fresta à qual consegui me submeter para que o mínimo de luz do mundo exterior entrasse, conseguindo tal feito e encontrando o lado de fora como alguém que conseguisse respirar depois de se afogar, fechando-a atrás me mim, escutando o clique que apenas alguém tão perto quanto eu seria capaz de captar.

Sem ninguém ali, consegui correr feliz até as estantes onde eu sabia que Nikolai estaria esperando com meu vestido vermelho em sua bolsa.

–Os registros não estavam ali. –Sussurrei ainda tentando recuperar meu fôlego depois de controlá-lo por tanto tempo. –A única coisa que sei é que preciso sair daqui.


O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang