O que há depois do rio?

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Fui em direção à cabine de Nikolai, batendo firma em sua porta apenas duas vezes, esperando que ele a abrisse.

Ao ver meu rosto, surpresa inundara seus olhos, não esperando que eu, de todas as pessoas, fosse até seu quarto àquele horário, colocando o objeto direto em sua mão esquerda.

–Sorte sua que ninguém na proa pisou nela. –Por um instante, ainda em choque, abaixara seu foco para o que segurava agora, intercalando seus olhares entre mim e o item. –Você deveria cuidar melhor dos seus pertences.

Sem esperar uma reação, virei-me e retornei aos meus próprios aposentos.

Segundo a previsão, chegaríamos ao território de Drítan já pela manhã, precisava preparar-me psicologicamente para tal evento.

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Suor escorria pelas minhas têmporas e pela minha espinha depois ter cavalgado cerca de seis horas seguidas, estando próximo ao meio-dia, o sol alto logo acima das nossas cabeças.

Tivera poucas aulas de montaria apenas e já precisei acompanhar o ritmo de corrida dos outros –quase caí algumas vezes, mas o que importa é que conseguia me manter nas celas.

–Acredito que esse é um bom ponto para descansarmos. Deve ter água corrente mais adentro das árvores e podemos deixar os cavalos aqui na sombra. –Kai virou para mim já descendo de seu cavalo com um sorriso infantil no rosto, quase podia vê-lo se segurando para não fazer um trocadilho com o que havia acabado dizer e meu nome.

–Não diga nada, apenas me tire da cela. –Ele vinha em minha direção comprimindo um sorriso, seus lábios apertados.

–Eu nem disse coisa alguma. –Falou em sua defesa passando suas mãos pela minha cintura e me trazendo ao chão cuidadosamente.

–Melhor continuar assim. –Ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas e seu cenho franzido, quase soando "como se você fizesse melhor", agora me fazendo reprimir um riso, ou melhor, teria feito se não estivesse com o humor ruim, cansada, irritada, tudo a que tinha direito.

Depois de tanto tempo cavalgando, além da estar dolorida e quase incapaz de andar, minha coxa interna queimando em conjunto com meu cóccix, me sentia suja.

A poeira de quem galopava à minha frente grudava ao meu incessante suor que surgia pelo sol impiedoso, impregnando em meu rosto, meu cabelo, minhas roupas e, talvez, até em meus pensamentos. Talvez ter todo aquele tempo com Cordélia cuidando de mim e me banhando com água quente tenha me mimado demais.

Enquanto a maioria da nossa comitiva se seguia para a principal clareira que dava à maior abertura do rio, escolhi a privacidade, seguindo por onde a água descia até chegar a um ponto distante o suficiente para que não pudesse vê-los e eles não pudessem me ver, escutando-os apenas à distância e não mais alto que o rio caindo.

Não me despi inteiramente, sabia que a privacidade que eu encontrara era falha, logo, não quis abusar da minha pequena liberdade, apenas desabotoando minha blusa e lavando-a entre as pedras e a água, sabendo que, quando voltássemos a cavalgar, pelo menos o tecido úmido me aliviaria um pouco do calor, permanecendo apenas com a regata, tendo plena noção de suas finas alças, o que facilitava me molhar na tentativa de tirar a terra de mim, esfregando meus braços, meu pescoço, minha face, meus cabelos e tudo que pudesse alcançar.

–Eu sabia das cicatrizes, mas nunca realmente as tinha visto. –Sua voz surgiu por trás, vindo pelas árvores, o que me fez virar e encará-lo.

–Me surpreende, já que eu não fazia questão de escondê-las quando estava no castelo. –Soei quase tão fria quanto a água, não querendo companhia naquele momento, muito menos a dele. Nikolai se aproximou de mim tranquilamente, devagar, até chegar a borda do rio ao meu lado, tomando uma distância respeitável, e também se agachar, assim como eu, desabotoando sua blusa, no entanto, ele não tinha regata ou qualquer coisa por baixo, apenas sua pele.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now