Roubando um pouco de volta

En başından başla
                                    

–Perdi alguma coisa? –Kai, apenas um espectador, perguntara com o cenho franzido, perdido com o que estava acontecendo, me fazendo sorrir.

–Não perdeu coisa alguma. –Olhei ao redor ao perceber a ausência de Ophelia, curiosa onde ela poderia estar. –Ophelia não está com você?

–Não, ela precisa de tudo perfeito para amanhã, não consegue sequer se dar um tempo.

Sem querer perder tempo algum, pulei logo ao assunto e o pedi para que me acompanhasse à praça, pedido esse que ele aceitara apenas com um balançar de ombros, pegando mais um punhado de biscoitos e correndo para fora da cozinha antes que pudesse escutar sermão de Dhara, dividindo-os no caminho comigo.

Perto do local marcado, vi o brilho da água da fonte refletindo os raios de sol com um grande diamante e pedi para que Kai ficasse ali, para que me desse privacidade por um instante, indicando que gostaria de conversar com alguém e ele concordando em ficar em uma distância respeitável.

Ele já estava sentado na praça, suas costas viradas para mim enquanto ele admirava a fonte. Me aproximei de maneira sorrateira, querendo pegá-lo de surpresa, o que não era muito difícil, sua atenção desfocada e alheia.

–Está pedindo um favor para a deusa da justiça? Se for o caso, posso pensar em considera-lo. –Desviou seu olhar para mim, sendo puxado novamente para a realidade enquanto me sentava ao seu lado, um sorriso em minha face, logo imitada por ele, sorrindo ao me ver.

–Gostaria que ela tivesse piedade de mim. –Soltei uma breve risada ajeitando minha saia no banco.

–Lamento, a justiça é impiedosa. Mas ela só é vista como punidora para quem deve algo. – Lhe direcionei uma piscadela acompanhada de um sorriso pelo canto do lábio, sabendo que ele entenderia exatamente à quem me referia.

–Então creio que ela precisaria de ajuda com tamanho trabalho. –Sua mão, discretamente, se envolvia com a minha, um pedaço de papel junto à ela, provavelmente o endereço de onde a resistência ficaria e dois pequenos frascos, um transparente, mais viscoso que água, e outro perolado, o veneno e o antídoto que havia requisitado a ele, seus dedos se entrelaçando aos meus. –E eu me sentiria mais do que honrado em ajudá-la.

Apertei sua mão e levantei meus olhos para que se encontrasse com os dele, a realização e a surpresa estampadas em mim.

–Você também vai para Drítan? –Meu tom era de alívio. Precisava de seu suporte, de sua confiança e seu conforto no que planejávamos. Saber que ele iria me deixou imensamente mais leve. Ele riu, empolgado em reação pela minha animação.

–Não te deixaria em um local desconhecido sozinha. Ficarei junto à Elowen, então será mais fácil de nos encontrar. –Senti-me aquecida ao saber que ele estaria lá por mim, que, independente de qual final teria, ele ainda estaria lá por mim. Apertei mais sua mão na minha.

–Ainda não acredito já está tão perto. Pensei que teria mais tempo. Se eu falhar...

–O que não vai acontecer. –Ele disse, me cortando em minha negatividade e pessimismo.

–Como você pode falar com tanta confiança? –Eu mesma estava queimando em minhas próprias inseguranças, pensando em tudo que poderia acontecer, na minha falta lealdade entre os dois lados da moeda...

–Porque eu tenho confiança em você. –Com a mão que não segurava a minha, levantou meu rosto para encará-lo, irredutível. –Você é a única que não tem.

Ele estava sério, sem o costumeiro tom de brincadeira na voz, realmente acreditando nas palavras que dissera. Eu notei seu olhar alternando entre meus lábios e meus olhos, desviando-os, por final, para a fonte dos deuses.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin