–Cordélia sumira. –Eira tentara me informar (sem saber, obviamente, de que eu fora a pessoa quem havia ajudado-a a sumir) e eu, como a atriz que sou, fingi surpresa. Eira, em reação, inclinou-se para mais perto de mim, confidente. –Não apenas sumira, fora resgatada pela resistência.

Meu rosto exprimia choque, meu queixo caído.

–A resistência entrara no castelo? –A dama assentia com a cabeça.

–Aparentemente, o plano havia sido muito bem arquitetado. Enviaram um rapaz passando-se por mensageiro de Jasira para enganar os guardas que estavam nas celas, só que Kai ficara para não deixar as celas sem proteção alguma, então o envenenaram. –Excelente, Kai. Não havíamos nos visto desde ontem e me preocupava com o quanto ele poderia convencer com a desculpa do veneno. Creio que sua performance fora crível.

–Envenenaram Kai? Ele está bem? O que fizeram a ele? –Pareça preocupada, você não sabe que tudo fora apenas encenação.

Comecei a ficar esbaforida com as informações que Eira fornecia e não terminava, a jovem tentando acalmar-me com tapinhas leves na mão.

–O envenenaram, sim, mas ele está bem. Foi um tipo de veneno específico que o fez desmaiar e não lembrar do que acontecera pouco tempo antes de ser envenenado. Não lembra sequer dos rostos dos criminosos. Até onde sabemos, pode ser até mesmo alguém do castelo, já que não seria fácil para pessoas de fora encontrarem as celas tão rapidamente e sem serem vistos. A Rainha está nervosa, querendo demitir os empregados mais recentes e aumentar o número de guardas nas rondas. Todo o castelo está assustado.

Ela dissera muito, sorte minha Eira era inclinada à fofoca, contudo, não dissera o que eu gostaria de ouvir. Talvez eu precisasse apenas dar mais corda.

–Que loucura, não é mesmo? Ontem ela fora denunciada e hoje mesmo já desaparecera. –E, como se pensasse alto, continuei com meu olhos desfocados, a voz distante e mais baixa. –Quem será que a denunciou...?

–Ah, eu não te contei? –Não, Eira, ainda não. Com minha expressão, fiz sinal para que ela continuasse. –Não sei se realmente posso te contar isso, então que fique entre nós. –Considerava Eira uma mulher inteligente, agora não tanto. Ela não sabe que não se deve confiar em ladras? Me mantiveram fora da reunião por um motivo e ela não parecia juntar os pontos ou, simplesmente, não se importava. Não reclamava dessa falha de raciocínio dela, no entanto. Me economizara muito indo de pessoa em pessoa juntando informações. Ela estava me dando tudo de graça e sou grata por isso (era grata por outras coisas também, como quando ela não é intrusiva ao ver os roxos em minha pele ao me vestir), mas não a deixava menos burra. "Então que fique entre nós" parecia uma piada contada para a maior ladra do reino. –Hayes Bechen está em uma missão contra a resistência. Ele tem um plano de ir aproximando-se à reuniões com agentes de confiança infiltrados. Ainda não conseguiu informações vitais, como locais de reuniões ou coisas do tipo, mas um de seus agente foi capaz de identificar Cordélia.

Hayes Bechen, que grandessíssimo desgraçado.

Ele era zona cinza –e, o pior, um bastardo inteligente.

Ele estava tendo reuniões particulares com Asher e eu tenho certeza que não era para passar informações para a realeza. Ele usa os dois lados em seu favor, jogará para qual o favorecer mais.

Ele era como eu –talvez pior. Sabiam que eu não era confiável, quanto a ele, não.

Eu não poderia acusá-lo sem me acusar e, mesmo se eu conseguisse, ele poderia facilmente descartar meus argumentos dizendo que ele estava infiltrado.

Antes que eu pudesse voltar minha atenção à Eira, a porta se abrira e o restante das pessoas em reunião saíram, a Rainha imediatamente escoltada Zoram e Vega, que descolaram-se da parede quando Miranda passara por eles, seguindo-a em seu encalço, passos acelerados querendo ir até outro lugar imediatamente, os Mestres e o erudito logo atrás, desparecendo pouco depois do meu capo de visão, não sem antes de receber uma piscadela de Bram, quase compreensiva.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now