Contradição

Começar do início
                                    

–E, quanto a você, não retorne muito tarde. –Ao nos desfazer do abraço, ela passara suas mãos às minhas, colocando um objeto pequeno, metálico e frio sobre meus dedos, percebendo o que era pelo formato quase instantaneamente. Olhei-a confusa e percebia que ela me dava uma cópia da chave do meu quarto. –Isso é para caso queira usar a porta e ter a possibilidade de trancá-la novamente. –Fiquei encarando-a por mais alguns segundos, tendo fresca em minha memória o dia em que colocara uma cadeira contra a porta depois de ter precisado abri-la e sem ter como trancá-la depois. Um sorriso involuntário surgia em minha face e eu trouxe-a perto de mim mais uma vez para um braço.

Aquele era o seu voto de confiança, mais um passo. Olhando para trás, reconheci que já havíamos percorrido um bom caminho juntas.

Ao momento que nos afastávamos, o homem que, anteriormente, conversava com Asher, passara por mim, desejando-me uma boa noite por educação, saindo quase ao encalce de Cordélia.

–Sombra, você não vem? –Elowen virara-se para mim já no topo da escada, podendo usar meu nome verdadeiro, tendo em vista que o lugar encontrava-se vazio com exceção dos líderes da resistência, Asher e eu, encontrando-me ainda no primeiro andar.

Sem demorar-me, fui subindo os degraus de dois em dois até entrar na sala, todas as cadeiras ocupadas, menos duas, a minha e a de Torryn, notando que não havia o visto desde que chegara, cogitando que ele estivesse com o menino rei, talvez ocupado com alguma outra coisa, porém, vendo que até agora não aparecera, minha curiosidade começou a me tomar.

–Onde está Torryn?

–Não sabe? Ele teve que viajar para outra cidade hoje cedo para encontrar-se com um aliado. –Elowen esclarecera para mim, olhando-me enquanto permanecia em pé.

–Sente-se por favor, Sombra. Precisamos discutir logo as questões sobre a viagem. –Asher pedira, seu tom impondo-se como o rei que acreditava ser.

Hesitante, o fiz, meu coração acelerando-se em vista de estar em uma reunião sem a pessoa que eu realmente confiava, sem a pessoa que realmente conhecia.

–Vamos começar. –Iniciara Asher.

____________

–Por que Torryn não vai a Drítan no lugar de Enver? Enver é um pai, tem sua família, além de sou mais próxima de Torryn, sem ofensas, Enver, mas fico mais confortável com Torryn.

–Não fiquei ofendido, não se preocupe, Sombra. Você até tem um ponto. –Enver tomou partido, projetando sua voz baixa e grossa.

–Não se esqueça de que Enver não irá sozinho. Elowen irá também. –Interviu Asher, defendendo sua escolha. –É apenas uma questão prática, não é para simplesmente tirar um pai de sua família. Elowen trata acerca do planejamento e organizações, sua ida é garantida. Já Enver e Torryn, em suma, possuem o mesmo papel de conversar e convencer novos aliados, possuem apenas uma diferença de disponibilidade e de deveres. Torryn, por não estar criando uma família, vem a arriscar-se mais, o que faz com que ele tenha mais importância em embates políticos do que Enver se permite, com toda a razão. Eu estarei fora por alguns dias também, quase uma semana e confio em Torryn para que lide com o que quer que seja em meu nome até a minha volta, expondo-o de maneira que ele já está acostumado, o que não poderia fazer com Enver, quase colocar um alvo em suas costas quando ele visivelmente não quer.

–Então, para protegê-lo e proteger sua família, Enver deve ir a um reino desconhecido por ele e ficar longe da esposa e filha? Não compreendi. –O respondi assim que terminara de falar, meus pensamentos ruminando em minha mente, tentando fazer as conexões suficientes para entender o que ele planejara nas entre linhas. –De todo jeito, por que não estará aqui? O que é mais importante que esse plano?

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde histórias criam vida. Descubra agora