A resposta é clara e simples –eu não seria útil em Drítan se estivesse gravemente machucada. Precisam de mim em minhas plenas condições.

Perder a vantagem de ter Sombra era o que preocupara Nikolai, voltando a me deixar séria durando o galope de Flynn.

Não se esqueça, menina ladra, para eles, você é apenas um peão no jogo deles, nada mais. Deixe que eles pensem assim, que é fácil de ser manipulada. É melhor do que se descobrirem a verdade –que não é uma peça e, sim, uma jogadora.

A caminho do Buraco, o mercado que vivia sob a visão da lei do reino, onde pode se conseguir de tudo, desde raridades contrabandeadas até itens furtados, nos encontrávamos em silêncio, os cascos de Flynn sendo o único barulho entre nós na estrada, sem contar os viajantes ocasionais que passavam por nós até notar como nossas mãos se encontravam perto uma da outra, o anel que ele havia presenteado marcando presença –não era culpa minha o objeto ser tão belo.

–Não cheguei a te agradecer pelo presente. –Disse encarando minhas mãos, baixo e em um único fôlego, talvez para que ele não entendesse o que eu havia acabado de proferir.

–Não precisa. Contanto que tenha gostado, eu fico satisfeito.

–Não teria como não gostar, fui eu quem o escolheu. –Respondi em um sorriso involuntário, achando graça no fato de que o anel, inicialmente, viera de um simples furto porque o tinha achado bonito.

–Está se esquecendo de que eu escolhera a dedo o que minha barraca tinha, então, teoricamente, eu que escolhi. –Balancei os ombros de costas para ele, divertida em como a conversa se desenvolvia.

–Se isso te faz sentir melhor... –Não conseguia ver sua expressão, mas quase senti que ele estava sorrindo daquele seu jeito contido.

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Ao chegarmos ao Buraco, um pouco longe da estrada convencional que levava até a capital, perto das fronteiras da cidade com o objetivo de se manter escondido.

Parecia mais um pequeno vilarejo, com tavernas, estábulos e algumas parcas construções, supus que se tratavam de estalagens, à frente ao Buraco em si, algo similar a um labirinto, corredores inacabáveis dentro de uma grande construção entre madeira e concreto, inúmeras pessoas do lado de dentro, fumaças, vozes, odores e barganhas se sobrepondo enquanto entrávamos, nossos olhos acostumando-se à pouca iluminação do lado de dentro, recebendo luz de lanternas ao longo do lugar e do brilho do sol que passava pelas entradas.

–Sombra, escute-me. Se quisermos encontrar o veneno para você mais rápido, vamos nos separar e depois nos encontraremos aqui. –Antes que ele seguisse para o outro lado, segurei-o pelo braço e o puxei para perto, sussurrando baixo suficiente para que ele pudesse ouvir.

–Não me chame assim em público. Aqui não é o castelo, as pessoas do Buraco conseguem escutar até o cair de uma folha se for de seu interesse e as opiniões sobre a minha personalidade são bem variadas por aqui. Não me coloque em perigo apenas por idiotice ao chamar-me pelo nome errado. –Sem afastar-se de mim, retornou-me no mesmo volume.

–Então como quer que eu te chame? –Aquilo era uma pergunta complicada, parei para analisar, principalmente levando em conta o ambiente em que nos encontrávamos.

Fazia trocas e vendas de objetos furtados por muito tempo no Buraco, dando um nome diferente a cada novo acordo. Eles não perguntavam sobre a precedência dos meus produtos, era uma regra implícita para qualquer um que quisesse fazer negócios no Buraco, no entanto, para que não desconfiassem como eu conseguia tantos objetos de valor e raros, iria alternando meus contatos.

Eu não conseguiria dar um nome específico a Nikolai, qualquer um poderia estar escutando.

–Chame-me de irmã, de desgraçada, de qualquer coisa que não seja Sombra ou algum nome definitivo. Eu não tenho desses aqui.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now