A fito, passando direto quando me permite. Deixo o menor no assento ao meu lado e busco respostas no rosto do Bresson que segue a Blake com seus olhos.

—Tem algo errado.—é a única coisa que comenta, virando para mim.

—O que acha que vai dizer?—indago mirando os outros três.

Abby se remexe ajeitando o corpo na cadeira e Jackson dá de ombros sem ter a mínima ideia. Kane demonstra estar alheio aos acontecimentos, ou talvez passar mal, não sei o que expressa. Estudo a conversa inaudível de Octavia e Indra, estreitando os olhos. Não parece o plano de redução revelado anos atrás, ou não estaríamos aguardando aqui. Desvio meu foco quando a morena caminha até nós e a outra chama seus homens, liberando que as filas avancem e ocupem o restante das mesas.

—Bia, acha que já vamos comer?—Thomas se debruça na mesa puramente entediado—Estou com fome.

Passo uma mão por seus fios negros de cabelo com um sorriso sem mostrar os dentes nada convincente, observando ao redor a disposição das pessoas.

—Acho que logo liberam, Tommy.—volto a olhá-lo, desejando que realmente seja uma mera mudança de horário.

Octavia se senta em silêncio e é nesse momento que bandejas começam a ocupar as mesas. Quando uma repousa a minha frente, sinto-me enjoar. Um cubo vermelho mal cortado jaze ao centro, um líquido escorre ao redor da peça e posso jurar que minha visão ameaça escurecer. A reação do restante dos Wonkru não se faz diferente. O silêncio pesa, rodeando cada ser/objeto existente no local.

Está nos incitando ao canibalismo?—encaro Octavia com incredulidade, deixando minha voz soar baixa.

É aqui onde as pessoas da última batalha estão? Porcionadas em bandejas?

—Passou dos limites, Octavia.—Ben afasta sua bandeja, silencioso. Repito o gesto juntamente levando a de Thomas, hesitando um mísero segundo a fim de que diga o contrário do que está evidente.

A Blake nos olha tomando ar. Sinto que pode estar odiando isso tanto quanto um de nós, porém se mantém. Levanta, expondo para todos sua posição ao centro da mesa, e apoiando as palmas das mãos na superfície com marcas de arranhado.

—Nossos recursos estão se esgotando agora que os fungos tomaram a fazenda. Todos já devem saber disso.—começa a ditar em bom som, ecoando no ambiente—Sem proteína, estamos morrendo, portanto, tive de tomar uma decisão. Sei que muitos veem isso como pecado.—pega seu pedaço de carne rígido e fresco—Mas pecado é nos deixar morrer. Somos os únicos humanos restantes na Terra, então, peço que aceitem essa refeição—ninguém ousa sequer respirar mais alto, acompanhando o discurso lento para melhor entendimento—, para que assim honremos aqueles que morreram em batalha a fim de nos manterem vivos.

Como a pausa em um filme, o bunker se cala. A morena passeia seus olhos pelo povo e minimamente se encolhe com olhares perdidos, reprovadores e surpresos. Encontro Miller em um canto e ele ergue as sobrancelhas como um "viu?".

Octavia, hesitante, morde a porção, evitando demonstrar repulsa. Volta a se sentar, dando a entender que já estão liberados para comer. Não movo um dedo, mas, por incrível que pareça, a doutora Griffin compartilha do ato ao ceder à carne. Observo horrorizada no instante em que mais da metade segue a ordem de Heda. Com caretas, comem o pedaço que lhes foi servido.

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Where stories live. Discover now