Agridoce - Bubbline AU

Capítulo 33 - Eternamente Srta. Petrikov

"Bem, eu fico feliz por isso. Não pela parte do orfanato. Mas pelo caráter que você criou" - respondeu o homem, ainda pisando um pouco em ovos. Mas esse detalhe o deixava um pouco orgulhoso, sim. Ficou um momento em silêncio antes de perguntar: "O que o rapaz quis dizer quando agradeceu a sua... mãe?"

"Ah, mamãe está custeando o tratamento da mãe dela" - Marceline disse, brincando com a ponta do guardanapo de linho em sua frente. "Ela tem um problema com vício em remédios controlados. A mãe dele é uma sobrevivente de abuso sexual, como..."  - Marceline se cortou no meio da frase. Não era um bom momento para levantar essa questão, não tão de repente. "Bem, como muitas, muitas mulheres são. James ainda era bem novo quando aconteceu, e ela não teve um acompanhamento psicológico muito bom e desandou com a medicação. Então mamãe está pagando o tratamento para o vício e o acompanhamento psicológico para o trauma. Ela insiste que pode ajudar financeiramente até a mãe dele poder voltar ao trabalho e que James não precisa continuar trabalhando aqui, mas ele nem escuta. Quer pagar a própria faculdade, então guarda o salário inteiro enquanto mamãe fica de olho para que a mãe dele receba o auxílio do governo corretamente e cobre os gastos restantes. Megan é assim. Essa não é a única forma que ela ajuda os outros, eu poderia passar a tarde inteira listando as coisas que ela faz com o poder que tem nas mãos."

Era bem claro que Marceline estava preocupada em honrar o nome da mãe ali. Megan era uma pessoa extraordinária aos seus olhos, e ela queria deixar claro. Uma mulher incrível e ótima mãe.

Ela não sofria de ausência maternal.

"Uau. Isso é bom, Marceline. Fico muito, muito aliviado de saber que está em boas mãos" - ele parecia sincero ao dizer isso. O corpo ficou menos tenso e a expressão mais calma. Marceline observava atentamente.

"É, eu tive sorte. Muita sorte mesmo."

James voltou com os pratos, o vinho, e um copo grande de suco de frutas vermelhas para Marceline. Quando ele se retirou, Hunson continuou o assunto.

"Então, ela não é casada?"

"Não. Mamãe é uma workaholic das bem extremas" - ela disse, rindo. Parecia um pouco mais relaxada. "Acho que a última vez que ela teve um namorado sério foi antes de me adotar. Mas não se engane, mamãe pode estar quase sempre solteira. Mas sozinha? Nunca."

O homem riu abertamente desse vez. Marceline era muito expressiva, muito desbocada. Era difícil não acabar cedendo ao humor dela.

"Bem, ao menos pelo que ouvi dizer na gravadora, você é um pouquinho mais dada ao romantismo, não?"

"Ah, talvez. Pelo menos durante os últimos meses, eu acho" - ela disse, de repente parecendo um pouco tímida. "Mas, em minha defesa, o universo colocou Bonnibel Zanne, dentre todas as garotas do mundo, bem no meu caminho. Eu não tive escolha" - ela prosseguiu, tirando o celular do bolso e mostrando o bloqueio de tela para ele, animada. "Diga se eu estou errada."

A foto era do dia do festival onde ela e a banda fizeram o show de abertura. A foto foi tirada do camarote onde assistiam a apresentação do Paramore. Bonnibel segurava o celular e fazia um sinal de 'paz e amor' com uma das mãos, piscando um dos olhos e mostrando a língua por entre os dentes. Marceline estava um pouco mais atrás, fazendo o mesmo sinal com os dedos e com a mesma careta, o outro braço enlaçado na cintura dela. Era possível ver o palco ao fundo. Marceline simplesmente adorava aquela foto.

"Não dá pra negar que sejam um casal bonito" - disse ele, com um sorriso que também pareceu sincero para Marceline. "Bem, vejo que as coisas correram bem pra você, Marceline."

"É... bem, não o tempo todo. Mas definitivamente estão entrando nos trilhos" - ela respondeu, com um dar de ombros.

"Entendo" - ele disse, com um aceno de cabeça. Coçou a nuca antes de perguntar, parecendo muito retraído outra vez. "Bem, eu sei que isso pode soar invasivo, talvez até desrespeito com sua família atual, mas estou um pouco curioso. Nenhuma... nenhuma figura paterna nesses anos todos?"