Capítulo 3 - Mikhail

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Eu não sabia como seria tudo depois da morte do meu pai, ou talvez soubesse. Só não queria aceitar essa realidade para que ela não chegasse rápido demais. Nunca temi nada e enfrentaria qualquer demônio que se apresentasse à minha frente, disso não havia dúvidas. Era o motivo para que eu continuasse de cabeça erguida.

Depois do enterro, fui ao clube de strip que o meu pai costumava frequentar. O mesmo lugar onde conheceu a minha mãe. Ela era uma ucraniana que havia saído de uma vila para se tornar a puta favorita do chefe da máfia, mas a vida tinha sido muito mais cruel com ela do que eu gostaria, depois de ter se afastado de todos que conhecia para sofrer violências físicas e psicológicas, ainda a tinham viciado em drogas. Eu tinha dois anos quando ela morreu de overdose e foi encontrada no chão do banheiro.

Os homens do meu pai me levaram e se incumbiram de me transformar em um soldado e num assassino mortal. Eu me esforçava para ser o melhor e com o tempo acabei chamando a atenção dele.

Além de mim, ele só tinha outro filho, o herdeiro nascido do ventre da dedicada esposa. Uma mulher que havia morrido há alguns anos e fora enterrada na própria amargura.

O Igor havia se tornado o chefe e eu tinha quase certeza de que a nossa rixa acabaria com a posição que eu havia construído dentro da máfia. Ele tinha ciúmes da atenção que o nosso pai me dava e eu o achava um merda para assumir a posição que teria agora.

Estacionei a moto na frente da mansão e tirei o capacete. Tinha morado ali nos últimos cinco anos, mas sabia que me tornaria uma presença inconveniente com o Igor cuidando do lugar.

Fui cumprimentado pelos soldados com um movimento de cabeça e uma saudação curta e eles me deixaram entrar. Passei pela porta da frente, porque eu me achava digno, por mais que o Igor discordasse. Concordasse o meu irmão ou não, meu pai havia me dado um quarto e um espaço naquela casa por meus próprios méritos.

Subi a escada até o andar superior e caminhei pelo corredor até a minha porta. Ouvi barulhos vindos do quarto do Igor, mas ignorei. Quanto menos nos cruzássemos, melhor para nós.

Entrei no cômodo e peguei uma mala de mão dentro do guarda-roupa, recolhendo os meus pertences e jogando dentro dela. Iria encontrar um local para morar, tinha dinheiro mais do que suficiente dos meus negócios para comprar um bom apartamento e me manter por um tempo, se o Igor me deixasse completamente fora.

Abri a porta do meio e encontrei um porta-joias, era um pequeno colar com uma cruz ortodoxa. A única lembrança que eu tinha da minha mãe. Guardei-o no fundo da mala. Eu não era o tipo de pessoa sentimentalista, mas quando não se tinha ninguém, era difícil não se apegar às pequenas coisas.

Peguei o que precisava e fechei a mala. Puxando-a para o corredor quando ouvi a porta do quarto do Igor se abrir. Para a minha surpresa, não foi o meu meio-irmão que saiu, nem uma mulher, mas um homem que se virou e o beijou na boca.

— O que está fazendo aqui? — Ele cerrou os dentes assim que me viu quando o homem que reconheci como um soldado, saiu do seu campo de visão e permitiu que ele me visse.

— Quem é a putinha? — Talvez eu devesse não ter feito aquele tipo de deboche, entretanto, engolindo as provocações dele a vida inteira, não consegui ficar calado.

Várias vezes o maldito de merda tinha me feito trepar com putas na frente dele, falando que eu tinha que provar que era macho, mas não era o meu gosto por mulheres que estava em jogo.

— Meu pai deveria ter te matado quando nasceu.

— Parece que ele não vai ter mais a oportunidade de fazer isso.

Igor bufou, rosnando como um touro e veio na minha direção. Esquivei-me de um soco e deixei a mala cair no chão. Tinha me segurado anos para não bater nele, mas não iria apanhar sem fazer nada. Dei um soco, atingindo o seu plexo solar. Ele estava sem camisa e o impacto foi forte o bastante para fazer com que cambaleasse.

— Maldito! — gritou comigo.

Andrei, o soldado que estava com ele, veio em sua defesa e partiu para cima de mim. Movi o braço para me proteger de um soco no rosto e depois me encolhi para não ser atingido na barriga. De repente, os dois estavam em cima de mim, me dando socos e chutes, dos quais eu me esquivava e revidava.

Senti um gosto férrico na minha boca quando o Andrei me acertou na boca do estômago com um soco forte. Ele era mais preciso e bem treinado do que o Igor, que passara boa parte do tempo fugindo da preparação.

Segurei o braço do Igor quando ele tentou me socar e atingi-o no peito, depois no queixo, fazendo-o cuspir um pouco de sangue. Durante muitos anos havia aguardado por aquele momento de poder revidar tudo o que ele me havia feito e não me segurei, me defendi e ataquei.

Andrei acertou o meu joelho, o que fez com que o meu corpo pendesse para o lado, mas eu girei e acertei um chute com a outra perna na lateral da sua cintura.

Os dois vieram para cima de mim e eu me agachei, fazendo com que acertassem a parede.

Não consegui me esquivar tão bem do segundo soco do Andrei, que acertou a minha bochecha e fez com que os meus sentidos fossem prejudicados por alguns segundos.

Eles me empurraram e eu cambaleei parando perto da escada que descia para o primeiro andar.

Igor deferiu outro soco, do qual me esquivei com facilidade.

Veio para cima de mim com tudo e eu girei o corpo, saindo do caminho. Ele pisou em falso na beirada da escada e acabou caindo, desceu rolando degrau por degrau até chegar lá embaixo. Prestando atenção nele, me esqueci de que o Andrei estava atrás de mim e ele me empurrou. Tentei tombar o corpo para trás para não cair, mas não consegui. Desci rolando a escada, sentindo os meus ossos se chocarem contra cada um dos degraus. Esforcei-me para manter a cabeça firme e minimizar o impacto nela o máximo possível, entretanto, assim que eu cheguei lá embaixo, ainda estava tonto.

Mal tive tempo de me recuperar da queda antes que Igor estivesse em cima de mim.

— Não vou cometer o mesmo erro do meu pai.

— Eu não acho que ele me via dessa forma.

Igor começou a me socar e eu fechei os braços ao redor do rosto para não ser golpeado. Assim que percebi que ele estava se cansando, movi o joelho para cima, e girei o meu corpo, impulsionando a perna. Acertei em cheio seu membro e ele se encolheu, gritando de dor.

Andrei jogou uma arma para o Igor e felizmente não tentou me atingir. Ele era esperto o suficiente para saber que se a bala errasse meio milímetro poderia matar o Igor.

Meu meio-irmão apontou o revólver na minha direção e eu me levantei, aproximando-me dele e usando um movimento para desarmá-lo. Tomei-a da sua mão e ela disparou contra a parede. Deixando um buraco.

No meu campo de visão podia perceber que muitos dos soldados haviam se acumulado na sala para ver a luta, mas nenhum deles ousou se intrometer.

Igor tentou me socar novamente e eu segurei o seu pulso, puxando-o com tudo e batendo com a sua cabeça no degrau.

Ele se afastou tonto, com um filete escorrendo pela lateral do rosto, onde o golpe havia aberto uma fenda na sua testa. Ele veio para cima de mim novamente e acertou o meu estômago, mas eu revidei, acertando a sua cabeça. Segurei-a batendo sucessivamente com ela contra a parede. Eu não parei, usando cada vez mais força, fui percebendo o rosto dele se transformar e ficar inchado até que perdeu a consciência e eu continuei batendo. Então, seu crânio afundou e o sangue espirrou na minha roupa.

Soltei-o no chão e o corpo sem vida dele caiu aos pés da escada.

Tinha agido por impulso e raiva, mas acabara matando-o.

Eu era um bastardo, filho de uma prostituta e acabara de enterrar o meu pai. Achava que não tinha autoridade, mas percebi que estava errado quando ao invés de atirar em mim, os soldados se curvaram.

Tinha a sensação de que me respeitavam mais do que a Igor, mas naquele instante tive certeza.

— Pakhan! — Um deles sussurrou e percebi no que havia me transformado.

A virgem que desejo (Degustação)Where stories live. Discover now