Capítulo 2 - Pietra

150 12 0
                                    

Estava caminhando atrás dos meus pais e ao lado da minha irmã quando entramos no salão. Estava empolgada para aquela noite. Finalmente meu pai havia nos permitido participar de uma das festas organizadas pela família.

Por mais que estivéssemos carecas de saber que era para a nossa segurança, Perla e eu não víamos muito de Roma além das paredes da mansão Bellucci. Queria poder acompanhar meu pai em missões como o meu irmão mais velho fazia. Mas o Dante estava sendo preparado para ser rei e nós, bom... seriamos moeda de troca em algum momento.

Estar naquela celebração, me dava a ilusão de que havia um pouco de liberdade e até glamour na minha vida. Além da possibilidade de conhecer outras pessoas e ver o mundo.

Com a minha percepção dispersa por cada canto do local, eu olhava em volta, reparando em roupas e jeitos das pessoas. Até que a minha atenção foi atraída diretamente para os olhos azuis de um garçom. Ele era muito alto, mais alto do que as pessoas comuns com quem eu estava acostumada a conviver. Tinha a pele clara e o cabelo muito loiro. Traços que não eram tão tipicamente italianos e talvez fosse por isso que me atraíram tanto.

Um dos nossos soldados se aproximou do meu tio Theo e sussurrou algo no ouvido dele, deixando-o tenso.

— Há um russo entre nós.

Russo?

Aquela palavra ficou ecoando na minha cabeça enquanto eu olhava de volta para o homem que havia atraído a minha atenção e desaparecera em instantes como fumaça. Era possível que ele fosse o tal russo.

Eu não tinha muito conhecimento de detalhes dos negócios ilícitos da minha família, mas se havia algo que eu sabia bem, era que não gostávamos de russos.


Levantei-me da cama quando os raios do sol tocaram o meu rosto me despertando pela manhã. Espreguicei-me ao caminhar até a janela e puxar um pouco mais a cortina para que pudesse olhar para baixo.

Quatro anos haviam se passado desde aquele evento, mas com frequência eu ainda sonhava com o mesmo momento em que os meus olhos cruzaram com os azuis intensos do russo. Eu não o conhecia, se a minha família sabia algo sobre ele, também não fizeram questão de me contar. Entretanto, nesse mesmo tempo, o lema contra os russos não havia mudado, eram inimigos.

Achava completamente impossível que eu voltasse a ver aquele homem novamente e se eu o visse, sabia que não nos envolveríamos.

Debrucei-me sobre o parapeito da janela e continuei olhando para baixo. Meu quarto tinha vista para a entrada da casa, e meio que dali eu tirava a maioria das minhas informações sobre quem entrava e saía da mansão.

Ouvi uma batida na porta e me virei de imediato quando vi a minha irmã entrar sem esperar por uma resposta. Perla tinha a mesma idade que eu, estávamos juntas desde a barriga da minha mãe, mas eu gostava do fato de não termos exatamente o mesmo rosto, pois cada uma tinha a sua personalidade.

— Bom dia! — Jogou-se na minha cama, mexendo nos cabelos escuros e colocando-os para trás.

— Bom dia.

— O que foi?

— Nada. — Dei alguns passos para longe da janela e me afastei.

— Ouvi dizerem que os Mancini virão para cá hoje.

— Quem falou?

— Escutei uma conversa dos empregados na cozinha.

— Não consegue parar de bisbilhotar, não é?

A virgem que desejo (Degustação)Where stories live. Discover now