Yara encostou-se ao lado do pai no capô do seu carro e fitou os próprios pés, pensativa

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      Yara encostou-se ao lado do pai no capô do seu carro e fitou os próprios pés, pensativa.

      — O que veio fazer aqui? — quis saber, porém, quando viu a sua expressão balançada, emendou: — Desculpa, eu não quis ser grosseira, só...

      — Não, está tudo bem. Eu entendi. — garantiu, para seu alívio. — E você tem razão, afinal, eu fui o pior dos canalhas com a sua mãe, e devia ser uma das últimas pessoas a estar aqui. — seu tom de voz denunciava que não gostava de lembrar-se daquilo. — Sabe, quando ainda somos relativamente jovens, achamos que temos todo o tempo do mundo, que somos imortais e podemos fazer tudo o que planeamos, ao nosso tempo. No entanto, há certas coisas que acontecem para nos mostrar que não, nós não temos tempo nenhum, e amanhã podemos não mais estar aqui, ou até estar, mas lamentando por não ter feito algo antes que fosse tarde.

A preta ainda não estava entendendo exatamente aonde ele queria chegar, porém em momento nenhum fez menção de interrompê-lo. Uma hora ou outra haveria de perceber, esperava.

      — Eu sempre quis ter uma conversa franca com Adelaide e pedir perdão, mesmo sabendo que não há justificativas para as minhas ações. O que eu mais desejava era ser completamente sincero, olhando nos olhos dela, porque achava que ela merecia ao menos isso, depois de tudo que a fiz passar. — contou, os olhos perdidos num ponto qualquer mais além, deixando que o silêncio concluísse o que ambos já sabiam: ele não havia conseguido. — Eu me culpei tanto por ter falhado mais uma vez, sentia tanta vergonha. Me sentia a pior pessoa do mundo.

      — E o que mudou? — pela expressão um tanto desconcertada, Matias claramente não havia percebido o real sentido da pergunta. — Digo, sobre a maneria como você se sentia. O que mudou?

      — Ah, sim. — seu semblante se desanuviou, enquanto fitava os olhos escuros que mostravam o anseio por uma resposta. — Era a primeira vez que eu vinha aqui, cerca de dois meses atrás. Lembro que era um dia como esse e eu estava sozinho. Bem, pelo menos era o que achava, até notar a presença de mais alguém. — desviou o olhar, ao qual Yara seguiu e encontrou a expressão indecifrável de Clarisse através do pára-brisas. — Eu não a via desde que fui embora, mas, apesar de tudo, o seu rosto estava livre de qualquer tipo de julgamento, ainda que me tratasse com certa frieza. — olhou para a filha. — Eu mal a cumprimentei, porque no minuto seguinte já me punha a andar. A vergonha era enorme e a sensação de estar invadido um espaço que não me pertencia, maior ainda. Eu já estava me afastando, quando ela me surpreendeu.

      — Como assim?

      — Eu não tinha percebido, mas ela já estava por ali havia algum tempo, então acabou por ouvir o meu pedido de desculpas. — revelou. — Naquela tarde, Clarisse me abriu os olhos para certas coisas que eu nunca ousei enxergar antes, porque estava preso à culpa que me consumia todos os dias. Ela me fez ver que já não era sobre obter o perdão de Adelaide, porque ela já não estava mais entre nós, mas sim sobre perdoar a mim mesmo. Também me aconselhou a tentar resgatar a minha relação com você, porque com certeza ela gostaria que isso acontecesse. E, ainda, me garantiu que, apesar de tudo, o que a sua mãe mais queria era que nós nos reaproximássemos.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now