Acabando com a Inocência

26- Desvirtuada

E se achamos que ela seria mais cuidadosa por estar em primeiro? Não. Ela fez todas as curvas em alta velocidade e ganhou com certo conforto. Essa é minha namorada foda para vocês, bitches! O que será que ela vai pedir para mim? Nada secretamente espero que seja algo sexual.

Mais tarde, pela vitória dela e pela primeira vez no kart, eu dei uma flor branca para ela. Já disse que adoro o sorriso dela quando sorri tão fofa? Que sorriso mais puro! Eu adoro demais.

(Um mes depois)

Cass faltar a aula não me preocupa, agora Helen faltar aula, é outros quinhentos. Eu tentei ligar para ela o dia todo e não obtive resposta. Eu surtei? Surtei, e surtei muito. Será que algo aconteceu? Ela está bem, ne? Ela tem que estar bem. Depois que a aula acabou, eu fui até o apartamento dela, bati várias vezes na porta, mas ela não estava lá. Já posso ligar para a polícia? Não, ainda não.

Quando a noite chegou, eu estava tão surtada que tinha entrado em estado catatônico e estava imóvel na minha cama. Se até amanhã de tarde eu não tiver nenhum sinal de vida, eu vou ligar para a polícia. Ouço batidas na minha porta, mas sequer me movi ou respondi. A porta é aberta, depois fechada, e ouço passos vindo até a cama.

- Diana não estava exagerando.- dou um pulo da cama ao ouvir a voz de Helen. A olho de cima a baixo, mas não pude ver muito, porque ela estava de blusa de manga cumprida e calça. Única coisa que notei, era um grande corte em sua testa.

- Você está bem? O que aconteceu?- toquei seu ombro, ela fez uma careta e se encolheu.- Você está machucada. Quem fez isso? Vou matar quem fez isso!

- Calma, Blondie. Estou bem, só com alguns machucados de ontem de noite. Um carro bateu no que eu estava e acabei batendo a lateral do corpo. Desculpa por te preocupar. Eu tenho que passar pomada nos machucados e nos roxos, você pode passar para mim?

- Claro.- ela tira a blusa e se senta na cama. Meu coração se apertou a ver grandes pontos roxos em seu braço, ombro e lateral do tronco. No ombro e no cotovelo tinha um corte também.

- Por que está chorando?- a preocupação em sua voz era notável.- Hope? Já disse que estou bem!

- Me dói não poder cuidar de você e não poder te proteger. Eu sei que não posso fazer isso toda hora, mas me mata pensar que eu estava dormindo enquanto você se machucou. Eu estava sonhando quando eu deveria estar com você...- ela toca minha bochecha e acaricia.

- Foi um risco que valeu a pena e eu estou bem. Ok?- ela me dá um selinho demorado.- Não fique assim, Blondie.

Ela me entrega a pomada e eu começo a passar cuidadosamente em cima dos machucados. Se eu soubesse quem a machucou, eu acabaria com a raça da pessoa. Argh, me deixa puta da vida pensar nela sentindo dor! Termino de passar a pomada e ela coloca a blusa de volta.

- Dorme aqui. Quero poder cuidar de você... ter certeza que está bem.- meu tom era quase de implorar.

- Claro.

(Dois meses depois)

Eu exagerei. Mas se não tivesse exagerado, não seria eu. Eu enchi minha sala com amor-perfeito brancos, cada pedacinho estava coberto com essa flor. A mesa estava pronta, com pratos deliciosos que encomendei do restaurante que Helen amou quando a levei em um encontro. Uma música bem baixa tocava ao fundo, uma playlist com nossas músicas preferidas.

A campainha toca, eu dou um pulo de susto. Pego uma flor e vou abrir a porta. Assim que vi Helen, prendi a respiração. Por que ela fica tão perfeita num vestido branco? Coloco a flor em seu cabelo, porque suas mãos estavam ocupadas. Depois lhe dou um selinho demorado.

- Feliz um ano de namoro, love.- ela abre um belo sorriso.

- Feliz um ano de namoro, Blondie.

Primeiro decidimos que jantaríamos, depois daríamos os presentes. Ela deixa seu presente em cima do sofá e depois se senta na mesa, de frente para mim. É estranho como uma data especial nos deixa nervosos, mesmo que já tenhamos feito vários encontros. Mas agradeço que a conversa fluiu sem problema, mesmo que eu esteja muito nervosa. Eu quero que seja algo memorável.

Depois de comermos, Helen quis logo entregar seu presente. Sentamos no sofá, ela coloca o presente entre nós e fala animada para que eu abra. Desembrulhei rapidamente, ansiosa para ver o que era. Ao abrir tudo, vejo que era uma flor, ou melhor, um amor-perfeito, feito de vidro. Estava apoiado por uma aste fina, quase imperceptível, que é da mesma cor do caule, permitindo que ficasse em pé. A parte das pétalas era transparente e bem modelada. Noto que uma tomada saía da base e acho estranho.

- É uma lâmpada. Quando ligada, a parte de vidro transparente fica branca e ilumina o ambiente.- explicou.- É a minha flor de primeiro ano de namoro para você.

- Adorei! Vou colocar ao lado da minha cama e ligar todas as noites. Agora o meu presente!

- Espera. Tenho mais um.- ela me mostra uma caixinha pequena e me entrega. Ao abrir, vejo que é um pircing falso em forma de coroa. Gostei da cor vermelha e dos detalhes míninos que moldaram.- Sabe, para pagar por tudo isso eu precisava de uma boa quantia. Então eu tive uma ideia que você teria, e pedi para Cass me ajudar. Como eu vi sou boa no kart, pensei que dirigir um carro não seria tão mais difícil. Cass me ajudou a participar de um racha. Eu ganhei e recebi muito bem.

- Você fez algo ilegal? Por vontade e iniciativa própria? Pera... os machucados! Foi do racha!

- Sim, foram. E como eu disse, valeu a pena, porque pude dar o que queria e ver como você ficou feliz.

- Com isso eu terminei de te desvirtuar. Bem-vinda ao inferno.

- Mesmo antes de começar nosso namoro eu já tinha algo em querer dançar com o diabo.- falou rindo.- E a pedra que fez o piercing é da pérola que achei na concha fechada do dia que fomos na praia. Mandei pintar para ficar mais bonita.

- Você é perfeita demais. Eu te amo.- falei lhe dando um beijo.- Meu presente não é tão legal assim, mas combina.- mostro uma caixa mais ou menos do tamanho da que estava o piercing. Quando ela abre, mostra um anel de coroa prateado.- Para a minha princesa.

- Eu amei.- falou colocando no dedo.- Igual o colar, não vou tirar mais.

- Nem eu vou tirar o piercing.- falei colocando em minha orelha.- Sabe, para finalizar o dia, que tal uma dança com o diabos?- levantei do sofá e lhe estendi a mão.

- Claro, vamos finalizar a noite perfeitamente.

(Atualmente)

Quando Helen entrou na sala de pintura, Adam correu até ela e lhe estendeu seu desenho do dia, falando que fez especialmente para ela. Eu sei que Helen deve ter sentido uma alegria enorme, porque gostava muito do pequeno. Uma vez ela até disse que adotaria ele, mas a frase ficou meio no ar e ela nunca mais tocou no assunto.

Adam tinha desenhado uma coroa toda estilosa feita de flores. Ficou muito bom para alguém da idade dele. Eu tenho certeza que ele vai ser milhões de vezes melhor que eu quando for mais velho.

- Mas que desenho lindo!- ela exclamou, fazendo o garotinho sorrir orgulhoso e feliz.- Eu deveria ter trazido algo para você. Na próxima vez farei isso, o que você gostaria?

- Um sorvete!- disse animado.- De baunilha, com granulado!

- Por que depois da aula não vamos na sorveteria? Posso falar com o orfanato e pedir que busquem mais tarde.- o olho dele pareceu brilhar com a minha ideia e o sorriso que deu foi tão fofo e puro que chega fez meu coração derreter.

Felizmente foi possível levá-lo à sorveteria. Nunca vi Adam tão agitado, ele normalmente é muito calmo e quietinho, mas acho que sua felicidade foi demais para ser contida. Era para eu e Helen estarmos indo para um encontro, pois tinhamos combinado que toda vez que nosso namoro completasse mais um mês, nós sairíamos em algo mais especial. Porém, pelo sorriso que Helen tinha no rosto ao ver o garotinho tão animado, revelou que esse era um dos melhores "encontros" que teve até agora. Pelo sorriso dos dois, eu senti até lá na alma que precisava ter isso mais vezes... talvez por muito tempo.