Capítulo Único

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Aviso de gatilho: Descrições não gráficas de ferimentos, referencia a tortura, pensamentos autodestrutivos, referencia a violência.

Andrew estava cansado, tão cansado que mal sentia seus próprios ferimentos.

Mas se ele temia fechar os olhos, se ele os fechasse, Neil desapareceria. Ele se tornaria a fantasia que Andrew sempre soube ter criado.

Se ele fechasse os olhos por um segundo, a mensagem de voz não ouvida em seu telefone se tornaria novamente a última coisa que ele poderia ouvir de Neil.

Andrew conhecia o medo, ele conviveu com isso em cada dia de sua vida — no entanto, ele nunca pensou que seria capaz de sentir daquela maneira. Era como se estivesse sendo queimado, jogado dentro de um rio de lava, mas ao mesmo tempo era frio 'pra caralho e ele se afogava, seu ar acabando e o desespero tomando cada parte do controle que ele possuía.

Neil quase os deixou.

Ele quase foi embora.

Olhando para o rosto sereno de Neil, sem um único traço de sofrimento que não pelas bandagens brancas em suas bochechas e hematomas espalhados pela pele, Andrew quase poderia fingir que nada havia acontecido.

Era fácil focar em outras coisas.

Como por exemplo, a maneira que era simples para Andrew identificar suas sardas mesmo com a pouca luz. Quando foi que se tornou tão fácil? Quando foi que Neil Josten se tornou algo que ele não sobreviveria a perder?

Ele fechou os olhos, a frustração crescendo.

Neil pensou que seria o suficiente para ele uma mensagem apressada com seus poucos minutos restantes. Como ele pôde pensar isso?

Neil era estúpido, Andrew o odiava. Ele deveria se livrar de tudo a respeito de Neil Josten, Andrew já era autodestrutivo como o inferno sozinho, ele não precisava de uma razão para viver que pudesse ser tirada dele de maneira tão simplória. Ele era melhor sem esperança, sem aquela chama pequena e meio viva em seu peito queimando e queimando sem sua permissão.

Andrew não precisava de Neil. Ele não precisava de nada, não queria nada.

Nada.

Nada nada nada nada nada

Era apenas nisso que ele conseguia pensar.

Neil era nada, ele era algo, ele não valia nada, ele valia tudo.

O peito de Neil subia e descia de maneira constante porque ele estava vivo apesar de seus melhores esforços para ser o contrário.

Ele respirou fundo, seu aperto no aparelho aumentando, sua garganta secando e já decidindo que era uma decisão estúpida.

Ele não precisava daquilo, Neil estava vivo. Ele não precisava ouvir as últimas palavras de um homem que achava que estava prestes a morrer.

Mas era Neil. Era algo que Neil havia dado a ele, as pessoas eram sinceras quando pensavam que estavam prestes a morrer, ele saberia.

Decidido, ele se levantou o mais lentamente que pôde e deixou a sala com as raposas adormecidas. Ele caminhou até o telhado, sua mente acelerada, o aperto em seu telefone cada vez mais forte, a fumaça de um cigarro recém aceso queimando seu nariz e o aquecendo por dentro.

Engolindo em seco, ele levou o telefone até o ouvido e permitiu que a mensagem de vo começasse.

"Andrew... Andrew eles estavam nos vestiários. Andrew, eu—"

Em caso eu não viva para sempreWhere stories live. Discover now