A segunda filha

4 1 3
                                    

É dia dos pais.

Estou na porta do colégio esperando de pé meu pai me buscar quando recebo uma notificação no meu celular.

"Oi, Emmie, você estará disponível hoje? Não vejo a hora de te ver"

  Poderia ser do meu pai, mas não lembro a última vez que ele foi carinhoso assim comigo.
  Sorrio ao ver que é o Leo e lembro da nossa madrugada, que passamos boa parte dela conversando. Falamos sobre as coisas mais aleatórias possíveis, porque quando duas pessoas estão igualmente interessadas, assunto é o de menos.

"Eu adoraria, mas combinei de passar o dia com meu pai" respondo e na mesma hora me arrependo, ele já me contou que é filho de mãe solo.

"Ah, é verdade, por um segundo esqueci que dia é hoje" ele diz com um emoji de frango assado.

Ele é só um ano mais velho do que eu, mas porque ele parece um bommer quando se trata de emojis?

"Você está bem?"

"Estou! Estou almoçando, já comeu?"

Ah, agora o frango assado faz sentido. Se bem que ele pode ter simplesmente enviado aleatório, eu acho engraçadinho.

"Ainda não, na verdade estou esperando me buscarem na escola ainda"

"Vish, já é 13h. Você não tem aula extra hoje a tarde?"

Confiro no relógio e vejo que realmente já é tarde. Olho para os dois lados da rua e a vejo deserta. Então, me afasto da calçada do colégio e sento em uns bancos.

Não desisto de esperar meu pai, mas espero sentada. Assim, canso só o coração.

"Pior que tenho, eu vou faltar pra sair com ele. Ele diz que não tem tempo a noite, e minhas aulas são integrais."

"Você estuda é no Colégio Nossa senhora de Fátima, não é?

"Sim, por que?"

"Você vai ver"

"Fala"

"É sério, logo você descobre."

Será que ele vai vir?

  Automaticamente, arrumo minha postura como se alguém tivesse me observando. Uso a tela do celular como espelho e, droga, como eu tô acabada. Dormir pouco e estudar muito acabou comigo.
  Mesmo sem muitas expectativas, refaço meu rabo de cavalo, ajeito as sobrancelhas com a mão mesmo e passo um lipbalm na boca.

Passa uns dez minutos, aparece um entregador de aplicativo na porta da escola.

— Você é a Emilly?

— Sou sim.

— Um Leonardo pediu pra te entregar isso.

— Obrigada. – Agradeço e pego a sacola curiosa.

Quando abro, um cheiro de comida se expande no ar e eu salivo de fome. O Léo me enviou uma marmita, uma caixinha de suco (ele sabe que eu não tomo refrigerante) e dois bombons.

Sinto uma pontada no coração e eu me emociono.

"Obrigadaaaa" Tiro foto e mando para ele.

"Tá gostoso? Eu já pedi comida deles, mas faz tempo, então não sei ao certo se ainda é bom"

"Nem comi ainda, tô só admirando haha"

"Come antes que esfrie, admiradora de marmita"

"Você me salvou muito, leo, obrigadão"

"Não há de quê, se precisar de mim pra qualquer coisa, só me avisar, tá bom?"

"Você também. A gente ainda está se conhecendo, mas você, sem dúvida, é incrível."

A Segunda [Conto]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora