Capítulo 20 - Opostos

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— Sabia que iria te encontrar aqui — Arthur entra em meu campo de visão, puxando uma das cadeiras em volta da mesa que eu ocupava na biblioteca vazia. — Bom dia, irmãzinha — ele se senta, e por um momento eu o encaro confusa.

Ergo os olhos para o relógio de ponteiros de aparência antiga preso a parede. Quase três da madrugada de sábado.

Volto a direcionar o olhar para o livro em minhas mãos, retomando a leitura.

— Bom dia, idiota — ergo as sobrancelhas quando algo interessante começa a se desenvolver na história — O que traz a sua desagradável presença até mim? — indago, sem olhar para ele.

Minha relação com o meu irmão postiço evoluiu bastante desde a nossa conversa, mas ainda é inevitável não jogar piadinhas.

— Suas colegas de quarto são o motivo — revela, cruzando os braços em uma postura desleixada na cadeira. — Soube que você passou o dia bem empenhada em destruir a sua vida social. Não falou com ninguém a semana inteira. Qual é o seu plano? Se esconder na biblioteca pelo resto da vida?

Desvio o olhar do livro para poder encarar Arthur por detrás das lentes do óculos que uso para ler.

— Exatamente.

— Qual é o problema? — indaga, sem tirar os olhos de mim.

— Nenhum.

— Você está mentindo.

Bufo, soprando uma mecha, solta do coque mal feito no topo da cabeça, que pendia sobre minhas lentes.

— E você está começando a me irritar — rebato com desinteresse. — O que você quer hein, Arthur? Estou tentando ler, se você não notou — ergo o livro para dar ênfase.

— Saber como você está — ele estreita os olhos, dizendo como se fosse óbvio. — Saber porque a senhorita resolveu se esconder do resto do mundo — Arthur respira fundo, abaixando o tom de voz. — Alguém fez alguma coisa com você? Está doente? — persiste.

Suspiro, fechando o livro em um baque e o largando em cima da mesa. Retiro os óculos e o penduro na gola de meu blazer cinza do uniforme. Desfaço o coque e deixo meu cabelo escorrer pelos ombros, chegando próximo aos meus cotovelos.

Me levanto, sendo – atentamente – observada por Arthur.

— Estou ótima, como pode ver. Não preciso de babá, obrigado — pego a minha mochila preta pequena que descansava no canto da mesa. — E se eu estou me escondendo, como você diz, é porque não quero ser encontrada — um sorriso adorável e falso enfeitava meu rosto. — Te desejo uma ótima noite, irmãozinho — me viro em direção a um dos corredores que levava até uma das saídas da biblioteca.

Antes de dar o terceiro passo, escuto o barulho da cadeira rangendo, e logo Arthur está caminhando ao meu lado. E para a minha infelicidade, ele não ficou em silêncio.

— Por acaso esse seu comportamento tem a ver com um certo capitão? — não respondo. — Sabe, ele está com o humor estranhamente parecido com o seu. Que coincidência, não? — escolho não dar atenção.

Evitar Ethan durante essa semana foi absurdamente fácil. Ele também esteve bem empenhado em fazer o mesmo. Precisei discursar mentiras esfarrapadas à professora Carmem para não ter que ensaiar. Eu até teria criado outras para me livrar das aulas de música, mas Ethan não apareceu em nenhuma.

As únicas vezes que o vi, foi no refeitório ou no campus durante o almoço. Como de costume, ele estava acompanhado pelo time e por algumas líderes de torcida. Uma ruiva em especial, a mesma que o abraçou quando chegamos da casa dele, estava sempre ao seu lado, dando risada e arrumando motivo para tocá-lo. Ethan parecia apreciar a presença da garota, a abraçando enquanto conversava e dava risada com os garotos do time. Eles formariam o casal perfeito, a líder de torcida e o capitão do time de futebol.

Só Mais Um ClichêWhere stories live. Discover now