Único

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Aviso: Essa é a segunda parte, a primeira está disponível no meu perfil, se chama "Get a load of this Monster"

"Eu não vou nem mentir, eu estou gritando por dentro o tempo todo

Parece uma brisa, parece um sonho

Mas eu não quero morrer

― Dear, Cavetown."

Eu sempre soube que um dia você me diria "adeus", Jimin.

Não foi difícil perceber, você sempre foi muito transparente quanto a isso. Eu que fui um tolo de acreditar que poderia ter sido diferente; de que eu teria tempo para dizer tudo o que estava entalado.

Não foi o que aconteceu. Você partiu, tão precocemente partiu.

E eu peço desculpas, por não ter falado tudo o que eu queria, por ter demorado tanto para ler a sua carta, por ter estado esses longos e dolorosos dois anos pensando e repensando numa resposta.

Chega até ser uma piada, você sempre brincou que eu era um tagarela sem escrúpulos, que escrevia declarações tão grandes que até mesmo Camões sentiria-se intimidado. Agora eu estou aqui, tal qual um boboca, sem saber como me expressar. O que você gostaria de ler, hyung?

Foi difícil, não foi? Fingir que estava tudo bem, fingir que isso não te machucava só para que eu não me machucasse.

Pego-me pensando cotidianamente em você, nas vezes que te via sozinho andando pela escola (ainda não namorávamos, mas eu sempre tive o maior crush em você), com algum mangá embaixo do braço e com os fones no último volume. Era um garoto impenetrável, não se abria com ninguém e tão pouco deixava alguém se aproximar.

Era para ter sido assim comigo, mas o que você tinha de fechado, eu tinha de teimoso.

Incentivado pelos meus amigos, eu insisti em você. Eu te segui por todos os cantos, sempre tentando encontrar um terreno confortável para nós dois, mesmo que eu fosse quem mais falava e você na maior parte do tempo me ignorava (apesar de já ter me revelado que sempre diminuía o volume para me ouvir).

Um tempo depois viramos amigos, você começava a se abrir mais e o pobre apaixonado aqui suspirava de amores toda vez que você iniciava um monólogo sobre algum mangá cyberpunk que descobriu recentemente. Se eu fosse um dos seus desenhos, provavelmente seria aquela secundária com os olhinhos cheios de corações para o protagonista.

Era assim que eu me sentia o tempo inteiro perto de você.

E quanto mais eu conhecia de ti, mais apaixonado eu ficava. Pois, Jimin, você sempre foi instigante; um livro imenso em um idioma que eu desconhecia, mas curioso do jeito que sempre fui, me via tentando traduzi-lo a todo custo.

Incrível e surpreendentemente que pareça, você foi o primeiro a confessar. Eu lembro muito bem, havia te acompanhado até o portão da sua casa, você intercalava o olhar entre a janela fechada e meu rosto, parecia apreensivo enquanto mordia os lábios e entrelaçava nossas mãos.

Foi quando percebi pela primeira vez a aura pesada em volta daquele lugar, a forma como você se declarava parecia uma despedida. O beijo que trocamos naquele dia foi agridoce.

Você tentou muito, eu sei. Você foi tão forte, meu herói. Meu amor.

Foram longos anos aguentando olhares ruins, palavras ácidas, o desamor jogado contra si. Doeu muito te ver sofrer com tudo isso e não poder fazer nada.

Até cogitei que fugíssemos, parecia um bom plano. Eu e você pegamos o primeiro ônibus da manhã e saímos da cidade para alguma roça próximo a Daegu, tinha amigos que moravam lá, seria fácil receber estadia enquanto procurávamos um emprego.

Alugaríamos o nosso espaço, economizaríamos e um tempo depois realizaremos o nosso maior sonho: sermos ambos papais e barrigudinhos.

Era um bom plano, hyung.

Contudo, você se foi.

Confesso que ao receber a notícia, eu fiquei com raiva, meu choro era seguido por vários "eu te odeio", mas não fique magoado comigo, Jimin. Doía muito a sua existência não ser mais uma certeza na minha vida.

Depois, uma tristeza profunda me sucumbiu, eu só sabia gritar por saudades de você.

Às vezes eu me pegava não querendo mais acordar, só para sonhar contigo, Jimin. Foi um luto difícil e eu não posso dizer que superei, pois estaria mentindo.

Eu ainda estou gritando de dor por dentro. O tempo todo.

Mas eu te prometi, não é? Eu prometi que seguiria em frente com nossos sonhos. Você me pediu isso e eu também queria.

A ideia de seguir o futuro que nós planejamos parecia me deixar mais próximo de você e eu não quero perder esse sentimento. Nunca.

É por isso que estou me mudando de Busan, passei para a Nacional de Seul e encontrarei um emprego bom o suficiente para me ajudar com nossos sonhos.

Eu vou ser barrigudinho, Jimin. Eu terei o meu filho e eu espero que de onde você estiver, nos proteja.

Obrigado pela oportunidade de ter deixado eu viver os últimos momentos ao seu lado. Eu fui muito feliz, eu soube o que é amar de verdade.

Eu jamais te esquecerei, aqui ou em qualquer outra vida.

Eu irei te encontrar, Jimin. E juntos, seremos nós mesmos.

É uma promessa.

De seu incondicional e prometido amor,

Jeon Jungkook.

I don't wanna wake up sometimesWhere stories live. Discover now