- Ca-calma Juliette. - Dizia mexendo as mãos por cima da cabeça, desesperado. - Aguente firme. N-nós vamos para o hospital e nada de ruim vai acontecer ao nosso filho. - Falando isso ele pegou o meu robe que estava pendurado ao lado do box e vestiu-me e em seguida me pegou no colo e saiu correndo pela casa até chegar na garagem e me colocar dentro do carro e sair em disparada em direção ao hospital.

O trajeto que levava em torno de uns trinta minutos ele fez em apenas dez, ele havia passado por várias sinaleiras fechadas, fez ultrapassagens perigosas só para poder salvar o nosso filho.

- Ju, Ju... Por favor não fecha os olhos... - Conseguia ouvir a voz sôfrega de Bil ao meu lado. - Fica falando comigo Ju, não dorme por favor! - Ele entrelaçou sua mão direita em minha mão esquerda e levou até os lábios, onde deixou vários beijos ali, murmurando que ia ficar tudo bem comigo e com o bebê, mas quando senti uma lágrima em minha mão o meu coração se apertou e as dores ficaram ainda mais intensas. Estava me segurando para não desmaiar ali dentro do carro, mas assim que avistei fachada do hospital minha visão começou a ficar turva e eu apaguei.

...

Escutava vozes ao meu redor, vozes conhecidas e desconhecidas. Tentei abrir os meus olhos, mas fechei logo em seguida, a intensa claridade da luz incomodava meus olhos.

- Eu sinto muito, senhor. - Uma voz rouca se sobressaiu em meio aos burburinhos de dentro do quarto. - Quando chegaram aqui o feto já não estava mais no útero.

Assim que o médico terminou de falar eu levei minhas mãos até minha barriga, em choque.

Eu havia sofrido um aborto.

Eu havia perdido meu filho.

O filho que eu já tanto amava.

Senti o gosto das lágrimas salgadas em minha boca e um suspiro de derrota escapou de meus lábios, atraindo a atenção de todos que estavam no quarto.

Meus olhos se conectaram com os de Bil, ele simplesmente abaixou a cabeça e a balançou em negação e se retirou do quarto batendo a porta com força.

...

Agora eu estava sentada nos sofá da sala, tentando segurar o choro que estava teimando em sair e o olhar que Bil me mandava não estava me ajudando em nada, era um olhar de reprovação, de ódio e até mesmo nojo.

- Sabe, Juliette... - Começou, se servindo com alguma bebida no pequeno bar que tínhamos em casa. - Eu sinceramente não sei o porque de continuar com você. - Ele deu a volta no balcão de mármore escuro e se encostou ali, bebericando o líquido âmbar.

- Bi-Bil.. Por favor não começa. Eu não tenho culpa... - Falei com a voz trêmula, meu marido soltou uma gargalhada alta, fazendo eu me encolher no sofá, assustada, e quando ele se recuperou me encarou sério.

- Corta essa, Juliette. Você é fraca, não presta nem para segurar meu filho na barriga, se é que essa criança é meu filho.

Disse com a voz carregada de arrogância.

Olhei-o incrédula.

Que porra ele estava dizendo?

Eu não conseguia acreditar naquilo que ele estava me falando.

Era só o que me faltava.

- Você pode ter dado para qualquer um enquanto eu estava viajando pela Europa com a mamãe. Fez tanta birra para poder ficar aqui, porque não queria perder as aulas na faculdade... Talvez você tenha ficado aqui para poder se encontrar com alguém sem se preocupar comigo.

- Por Deus, Bil! Olha o que você esta falando! Eu nunca trairia você. Nunca! - As lágrimas já rolavam soltas pelo meu rosto.

- Duvido. Vai ver o pai dessa criança era a Sarah. - O deboche em sua voz era evidente. - Por que você sabe que ela pode engravidar uma mulher, não é? Sabe que ela tem um pênis no meio das pernas, certo? E ela era toda apaixonada por você, só não notava quem não queria.

Ouvir aquelas asneiras de Bil me fez ter vontade de gritar, mandar ele calar a boca, mas eu estava me contendo, não queria que nossa discussão tomasse outras proporções.

- Vai ver você resolveu juntar o útil ao agradável e aproveitou para experimentar algo diferente...

Aquilo foi o estopim, eu não era obrigada a ficar ouvindo as coisas caladas, então juntei todas as minhas forças e gritei com todo o ódio que eu estava sentindo no momento.

- VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO, BIL? EU NUNCA FARIA ISSO CONTIGO! AINDA MAIS COM AQUELA LÁ. - Meu peito subia e descia descompassadamente, eu estava a beira de um ataque cardíaco, eu sentia meu coração batendo muito rápido, como se fosse uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. - SARAH ODEIA A GENTE! VOCÊ SE ESQUECEU DISSO?

Bil olhou-me por cima dos olhos, com vários vincos formados na testa, como se estive processando as coisas que eu tinha dito.

- Você gritou comigo, Juliette? É isso mesmo? - Disse se aproximando de mim calmamente, com a mesma expressão no rosto, quando ele chegou na minha frente pegou meu queixo em um rompante e me fez olhá-lo nos olhos. - Você não deveria ter feito isso, sua vadiazinha aproveitadora. Tô começando a acreditar naquela estupida da Sarah. Você é uma puta que só está onde te convém, sempre escolheu o lado que tem mais dinheiro. - Rosnou no meu rosto, sem se importar com as palavras que proferia podiam me machucar internamente, e soltou meu queixo com brusquidão. - Eu irei sair e deixar você pensando na merda que fez. - Bil deu um último gole na bebida e jogou o copo em cima do sofá, ao meu lado. - Não sei se volto hoje, talvez eu encontre alguma mulher que consiga me dar um filho. - E dito isso ele saiu porta à fora.

Me deixando ali sozinha, chorando como uma criança desesperada.

Eu havia perdido meu filho e possivelmente meu marido, que me culpava pela morte da criança que estava se formando dentro do meu ventre e com esses pensamentos eu adormeci ali mesmo no sofá.

...

Dois mês haviam se passado desde que Bil saiu de casa e cada dia que se passou a meu ódio por ele aumentou e fez que eu cometesse algumas loucuras nesse meio tempo, das quais eu me arrependi profundamente quando Bil voltou para à casa me pedindo desculpas, que ele não queria ter dito nada daquilo que me falou, que nesse tempo que ficamos separados ele não ficou com ninguém, que me amava e que tentaria novamente formar uma família comigo.

Então eu o perdoei, eu o dei um segundo voto de confiança, e acabamos por passar o resto do dia nos amando na nossa cama, no nosso quarto, com ele sussurrando em meu ouvido que me amava mais que tudo no mundo, que deveríamos esquecer tudo o que aconteceu nesses meses que haviam se passado.

E assim foi feito. Nós iríamos começar uma nova vida a parti dali.

Flashback off.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora