VINTE E SEIS

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Juliette Freire.

Não gostei de seu sorriso cru e daquela frieza que não saía mais do seu olhar. Me senti incomodada, mas saí do apartamento com ela. 

A viagem foi feita em um silêncio tenso. Eu estava nervosa, preocupada, mas tentei manter uma aparência controlada.

Ela parou o carro na garagem de um pequeno e elegante prédio de três andares. Saí do carro olhando em volta. Havia vários carros luxuosos ali e seguranças enormes de terno, guardando a dupla porta de madeira fechada do prédio.

Sarah me segurou pelo cotovelo e me levou em direção à porta. Os capangas cumprimentaram-nos com gestos de cabeça e um deles abriu a porta. 

Lá dentro havia um hall estranhamente vermelho, desde as luzes até as paredes. Olhei surpreendida, enquanto era levada para um grande bar. Ali também predominava a luz avermelhada, mas as paredes eram negras, assim como as mesas e cadeiras de laca pretas e o chão de granito. Uma música sensual tocava e várias pessoas conversavam intimamente em estofados de couro preto, no bar, em volta das mesas ou em grupos, de pé. A maioria era formado por casais. Algo me deu a impressão de que entrávamos no inferno.

Sarah caminhou seguramente até uma mesa de canto, ocupada por um casal. Eles sorriram ao nos ver e se levantaram para nos cumprimentar. Os dois eram lindos. O homem, alto e forte, cabelos castanhos um pouco bagunçado e olhos de tom castanhos escuros, devia já estar beirando os trinta anos. A mulher, morena e esguia, tinha altura mediana, cabelos lisos e compridos que iam até a cintura, traços finíssimos e olhos escuros. 

- Fiuk, Pocah. - Sarah cumprimentou-os. - Esta é a Juliette. - Sarah se virou para mim e falou baixinho no meu ouvido. - São amigos meus. - Sorri sem dentes para eles. - Como vão?

- Muito bem, agora. - Disse o homem, galante, apertando minha mão e me olhando com apreciação. - Você é muito bonita, Juliette... 

Olhei para Sarah, surpresa. Ela retribuiu o olhar com cinismo. - Obrigada. - Virei-me para a moça e beijamo-nos no rosto. - É um prazer.

- Digo o mesmo, querida. - Pocah sorriu, melosa.

Nós nos acomodamos no longo sofá que rodeava a mesa. Eu não sabia bem quem eram aquelas pessoas e porque Sarah me levou ali, mas resolvi agir normalmente, apesar de achar tudo muito estranho. Aquele lugar parecia uma daquelas boates de strip-tease que a gente via na televisão, embora não houvessem mulheres dançando nuas ali. Havia sim uma pista de dança, mas ocupada por casais.

O garçom se aproximou e todos escolhemos vinho branco. Fiuk e Sarah começaram a conversar e Pocah puxou assunto comigo:

- Então, querida, você é modelo?

- Não. No momento não estou trabalhando.

- Ah! Deve ser como eu. Prefiro ser mimada por belos companheiros, que sabem muito bem suprir as minhas necessidades. Quando se nasce bela e esperta, para que trabalhar?

Pocah riu e eu não soube o que dizer, um pouco surpresa. Lancei um olhar para Sarah. Apesar de escutar o que seu amigo dizia, ela me olhava intensamente.

- Você e Sarah se conhecem há muito tempo? - Voltei-me para Pocah.

- Dez anos.

- Nossa! Tudo isso? Você deve ser mesmo especial para prender a atenção dela por tanto tempo!

- Não. O que acontece é que nós nos encontramos há pouco tempo, após quase dez anos sem nos ver.

- Entendo.

Ela sorriu e deu um leve tapinha em minha mão sobre a mesa, com ar de segredo.

- Sarah é uma mulher que vale a pena ser reencontrada. É uma amante maravilhosa, não? Foi uma das melhores que eu já tive e olha que foram muitas.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora