Capítulo 24: Magali

72 6 0
                                    

Após perfurmar-se com doces fragrâncias, maquiar-se com bochechas rosadas e lábios rubros, pentear-se com intuito de manter os cabelos soltos e vestir-se com um de seus vestidinhos amarelos de festa, as adoráveis mangas bufantes em estilo princesa adornando-lhe os ombros esguios, Magali descera as escadas para auxiliar nos últimos preparativos para a ceia de Natal, um evento longamente aguardado pela garota, que, além da presença de toda a família, amava, é claro, os pratos preparados exclusivamente naquela época do ano.

Ao alcançar o andar térreo de sua casa, encontrou-o cheio de vida. Sua mãe, Lina, colocava a mesa; sua tia, Filomena, exclamava da cozinha que o jantar, que preenchia a casa toda com um aroma aconchegante, cálido, delicioso, já estava quase pronto; seu pai, Carlos, equilibrava-se sobre uma escada para consertar a estrela no topo da enorme árvore de Natal, que havia tombado recentemente.

— Ah, filha! — exclamara Dona Lina, enquanto posicionava os pratos e os talheres sobre a mesa, que estava sendo preparada, com esmero, para oito pessoas. — Você pode pegar os fósforos na cozinha? Preciso ir lá em cima para buscar as velas.

— Claro! — dissera a garota, que, mediante aquele pedido, dirigira-se velozmente até a cozinha, seus dourados saltos altos produzindo um salpicar seco pelo piso.

Ao alcançar o limiar da porta da cozinha, que estava mais aquecida que o resto da casa devido ao fogão ligado, os olhinhos castanhos e maquiados de Magali encontraram sua tão querida tia, que trajava um belo vestido vermelho e os cabelos louros presos em uma trança atrás da cabeça. Quando Magali aproximou-se, percebeu que a mulher havia maquiado-se e perfumado-se, também já pronta para o jantar.

— Oi, meu amor. — a senhora exclamou alegremente, antes de ser abraçada ternamente pela sobrinha-neta, que sorria com doçura. — Como você está?

Quando elas se desvencilharam daquele tão afetuoso gesto, Magali fitou profundamente os olhos da mulher, que, naquele momento, estava ligeiramente mais baixa do que jovem.

— Estou bem, tia. — ela respondeu, meiga como sempre. — E a senhora?

Filomena sorrira-lhe em retorno.

— Ah, está tudo ótimo! — ela disse em meio a uma gargalhada alegre, o som doce e melodioso invadindo a cozinha; porém, suas feições tornaram-se mais cautelosas antes de indagar-lhe sobre sua principal preocupação. — Eu... fiquei sabendo do que aconteceu, meu amor. Está tudo bem mesmo?

Com outro sorriso suave, Magali assentiu com um gesto resoluto da cabeça.

— Estou muito bem, tia. Sério! O Quim também queria terminar, sabe? — respondera ela, enquanto aproximava-se das gavetas para buscar o fósforo que fora-lhe pedido. — Foi de comum acordo, e está tudo bem. Mesmo.

— Ah, isso é maravilhoso! — sua voz simpática soava como música pela cozinha. — E você... deixa eu adivinhar. Você já está sondando outra pessoa, não está?

Com a caixa de fósforos protegida entre suas mãozinhas, Magali fitou imediatamente a tia, as palavras espantando-lhe intensamente.

— Como você... não, espera... eu não... — Magali gaguejava, surpresa demais para formular frases coesas.

Filomena, porém, regozijou-se com aquela tão inquieta e quase afirmativa reação.

— Ah, eu sabia! — ela gargalhava e batia palminhas. — Já faz um tempo que eu sinto... algo interessante no ar.

Magali, com o queixo caído e os olhos arregalados, assentiu com a cabeça.

— Deixa eu adivinhar. — dissera ela quando o choque afrouxou-se um pouquinho. — Palpite de bruxa?

Porque eu amo vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora