Capítulo 1: Joaquim

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— Esperando alguém? — indagara Xavier, com um sorriso nos lábios.

Joaquim fitou-lhe e deu de ombros.

— Bom, não acho que esteja faltando ninguém... — respondeu ele, sério.

Sorrindo satisfeito, o rapaz posicionou sua mala de mão no compartimento superior e assentou-se a seu lado. Joaquim cravou seus olhos no rosto plácido de seu companheiro de viagem e observou a silhueta esguia, o nariz diminuto, os olhos de avelã, a pele de alabastro, os cabelos dourados enrolando-se ao infinito. Ele logo percebera que não passava muito tempo com Xavier e que, por este fato, não poderia sequer nomear fatos sobre ele, mas esforçou-se para enumerar tudo o que sabia mesmo assim: filho de pais divorciados; irmão mais novo... namorado de Denise? Frustrou-se ao perceber que não podia continuar a lista.

— Ai, gente, que chororô é esse aqui? — exclamou Denise, levantando-se sobre o burburinho de conversas; ela observava Magali, Mônica e Maria, que, chorosas, observavam as famílias através de suas janelas. — Essa é a viagem das nossas vidas, amadas! Vamos animar aí!

Para sua surpresa, Xavier empertigou-se.

— Nossa, cala a boca aí na frente! Que menina chata! — bradou Xavier, fingindo uma raiva que não sentia; na verdade, trazia nos lábios um sorriso zombeteiro, na voz uma risada abafada. — Quem convidou essa aí? Credo!

Denise, que se encontrava à direita, algumas cadeiras à frente deles, virou-se imediatamente na direção de Xavier. Ela, assim como ele, lançou-lhe um olhar fulminante de raiva inventada.

— É melhor você tomar cuidado, rapaz! Vou te comer na porrada! — Denise respondeu, à altura.

Na primeira cadeira à direita, a voz de Timóteo, longínqua para Joaquim, soou zombeteira:

— Na porrada... sei... — berrou ele, insinuando que os dois protagonizariam outra cena a sós.

O ônibus todo explodiu em risadas, exclamações, zombarias. Quim esperou pela réplica ácida que Denise sempre preparava para qualquer momento, mas, desta vez, ela não veio. Ela apenas girou o corpo na direção de Xavier e revirou os olhos com uma risada, surpresa e indignada com alguma informação não dita. Xavier, por sua vez, ria e negava com a cabeça, espelhando suas emoções. Denise tornou a se assentar.

Definitivamente namorado de Denise.

— Gente, que demora! Quem está faltando? — indagou Magali, levemente recuperada de seu pranto.

— Sei lá... o Dudu? — respondeu Cebola, caindo na gargalhada.

A face de Magali se transformou em um semblante indignado, enquanto ela se virava para encarar Cebola, que se sentava logo atrás dela, acompanhado de Cássio.

— Dudu está no oitavo ano! — Magali exclamou, indignada. — Ainda não é a vez dele... ele ainda é um bebê!

Quim riu silenciosamente ao ouvir suas palavras. Magali sempre fora muito apegada a seu priminho Eduardo. A ideia de assistir a seu crescimento era-lhe terrível ao coração. Cebola certamente mencionou seu nome para irritá-la ou, talvez, para distraí-la da despedida que logo viria com o chacoalhar da condução.

— Olha só, Magá... o careca querendo trazer Dudu para o salseiro! — anunciou Cássio, risonho.

Magali assentiu uma vez com a cabeça e, em seguida, ambos gargalharam da escolha curiosa de palavras.

— Salseiro?! — enquanto ria, a garota repetia. — A gente nem saiu ainda e já está assim, Cascão?

O garoto, então, gargalhou ainda mais intensamente, o que trouxera à moça uma onda ainda mais forte de riso, ambos regozijando-se como bobos com a piada que compartilhavam. Aquela tão alegre cena, no entanto, varreu qualquer vestígio de sorriso do semblante de Joaquim, que, enquanto observava à distância, aguardara pelo ciúme amargo ou pelo pavor intenso de ser trocado por alguém melhor, sentimentos que, durante anos, tanto acometeram-lhe o espírito. Porém, naquele momento, ele não sentira seu coração fragmentando-se como antes. Sentira-o apenas confuso e angustiado por, justamente, não sentir aquilo que já tanto o abatera.

Porque eu amo vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora