O nome da sombra - Crônicas de sombra e luz

Loucura da realeza

E se alguém fosse saber mais do que eu sobre elas, definitivamente seria Bram, perguntando-me quais conhecimentos e certezas ele tinha em sua mente e o que mantinha fora do meu alcance.

E eu queria como louca saber o que ele sabia.

Um erudito tinha como trabalho ser inteligente... só que eu precisava ser mais se quisesse ter minhas respostas.

Só precisava pedir por informações sem pedi-las.

Elaborei uma rápida resposta ao que havia dito, tentando trazer o foco na direção que eu queria.

–Sinceramente, não sei se devo me sentir lisonjeada ou extremamente insultada por ser considerada como uma loucura ainda maior que a mania do oráculo que é mantida entre essas paredes.

–Uma das maiores loucuras, minha cara. Preste atenção nas palavras. Muito nesse mundo depende de interpretação e sequer uma frase mal escutada pode iniciar uma série de infelicidades. –Suas palavras em conjunto ao seu tom me fazia querer escutá-lo por horas sobre qualquer assunto, sabendo que ele diria com confiança, parecendo a pessoa mais inteligente do mundo e me fazendo acreditar. –Mas não tiro seu mérito, é realmente incomum termos a presença de uma jovem deusa perambulando pelo castelo.

Não pude deixar de sentir-me um tanto cheia de mim ao ouvir seus dizeres, me obrigando a deixar minha cabeça baixa e voltar o foco no que era realmente importante.

–Não posso deixar de concordar com seus argumentos. Palavras são perigosas... ainda mais quando ditas sem nexo ou conexão por doentes presos em masmorras. –Ele me deu um olhar extremamente significativo, sua íris escura em extremo contraste à sua pele sem pelos, temendo que ele pudesse ler a minha mente e todos meus objetivos por trás daquelas frases, mesmo sabendo que era ridículo...

Será que era mesmo ridículo? Se me dissessem há pouco mais que uma semana atrás que eu logo me encontraria na posição que estou agora, definitivamente soaria ridículo em meus ouvidos e eu já aprendi que poderia esperar de tudo vindo da realeza.

–Você sabe do que me refiro. –Ele retribuiu meu escrutínio. –Acredita que tem algo por trás do que eles dizem?

Meus últimos dias tinham sido extremamente confusos e cheios de novas informações, mas sempre que não pensava em roubos em reinos distantes, conspirações, assassinos e rebeldes, minha mente voltava à masmorra, a repassar a cena que vira, a frase que não fazia sentido algum para mim: "Norte, sul / Leste, Oeste / No centro do mundo / O tempo é impiedoso / E seu passado também / Mas no norte, sul / Leste, Oeste / No centro do mundo / Esquecem quando os convêm"

Bram, em resposta à minha pergunta, suspirou, vincos de preocupação surgindo em sua testa e entre suas duas sobrancelhas deveriam estar.

–Queria poder te dizer que sim, que eu sei exatamente o que significa, mas estaria mentindo. –Ele encarava o chão, quase como se estivesse envergonhado por não ter conseguido solucionar essa questão e eu me perguntava se poderia, de fato, acreditar em suas palavras. Talvez ele já houvesse sacado meus objetivos e estava apenas me rodeando, continuando com a narrativa da Rainha de que eu sabia tudo que tinha para saber. –Eu nunca cheguei a encarar algo desse nível em toda minha experiência como mestre.

–Porém Melissa disse que você não era mestre.

–Eu já fui aprendiz e mestre antes de me tornar o erudito de Miranda. –Percebendo meus olhares curiosos, deu um leve sorriso tímido sem mostrar os dentes. –Eu fui um aprendiz do velho mestre da sabedoria da antiga corte Galene, me tornei um jovem mestre para essa família real assim que meu antecessor aposentou-se do cargo até que os Meliones vieram e a conhecida chacina ocorreu, fui poupado, no entanto. –Não conseguia abrir minha boca, absorta no que ele falava enquanto ele caminhava com calma até o parapeito do andar de cima que dava vista para toda a extensão da biblioteca, principalmente o primeiro andar. –Inclusive, eu estava aqui quando eles invadiram. Alguns também vieram se esconder depois que a gritaria começou, ficando atrás de prateleiras, sob mesas. –Parecia que ele estava novamente naquele dia, seu olhar alheio ao presente. –Me impressiona que eles tenham conseguido tirar as manchas de sangue de quem resistia do carpete. –Sua última frase saíra mais para ele do que para mim, parecido com um sussurro. Se não estivesse ao seu lado, não teria escutado.