Prólogo

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São Paulo, dezembro de 2019.


O evento de confraternização em virtude das festas de fim de ano era só mais um entre tantos outros promovidos pela filial de uma multinacional, referência em consultoria estratégica e empresarial, ao longo de quase três décadas. Contudo, as coisas acabaram saindo do controle e tudo por um descuido de minha parte. O DJ Mauricinho comandava a festa e colocou um funk de MC JottaPê, Sentou e Gostou (part. MC M10 e DJ RD). Não deu outra: eu fui até o meio da pista de dança e reproduzi fielmente toda a coreografia, sob os olhares de cobiça dos meus colegas de trabalho.

E ela sentou e gostou

Quicou e gostou

Rebolou pro chefe

E chamou de amor

E ela sentou e gostou

Quicou e gostou

Chamando de amor

Modéstia à parte, eu sempre me considerei uma grande gostosa, e fiquei ainda mais ao usar um vestido preto brilhoso, cujo modelo ciganinha possuía mangas longas, os ombros à mostra, e um leve decote que revela parte do volume dos meus seios, mas curto e justo o bastante para mostrar as coxas bem trabalhadas na academia.

Em determinado momento, no intervalo entre uma música e outra, uma colega se aproximou de mim e sussurrou ao meu ouvido: Eu podia jurar que o chefão da Alliance Company estava de pau duro, enquanto te observava balançar a 'raba', Lana.

Felizmente, eu consegui resistir à tentação de olhar na direção do bar e confirmar a informação, uma vez que ele poderia perceber que era o assunto principal da conversa. Eu só me limitei mesmo a dar de ombros, fingindo indiferença perante o comentário inoportuno. Sempre fui bastante cuidadosa e não cometeria o vacilo de ser alvo de disse me disse nos corredores da empresa. Então, eu me dirigi até o balcão e pedi um copo de água com gás para aplacar a sede, além de um gin duplo.

O bartender me atendeu com um sorriso largo no rosto, enquanto tentava me ajeitar no banco alto e estreito que mal cabia o meu bumbum avantajado. Lancei um olhar em torno, e notei o consultor sênior Breno Tavares sentado à minha esquerda, enquanto o CEO norte-americano, — da renomada multinacional de consultoria estratégica — bebericava o seu uísque à minha direita, sem tirar os olhos de mim.

Observei admirada o antebraço musculoso do meu novo chefe, todo coberto por uma tatuagem tribal, revelada pela manga da camisa social dobrada até os cotovelos. Confesso que o olhar dele fazia o meu clitóris pulsar, mas eu desviei a atenção bem rápido e observei o bartender preparar a bebida à minha frente. Os cabelos dele eram castanhos, curtos e lisos, a barba rala e curta emoldurando o rosto de contornos firmes, enquanto que o nariz retilíneo, os olhos acinzentados, luminosos e desafiadores, além da sobrancelha grossa, lhe conferiam um ar sério e compenetrado.

De repente, Jack Rogers fez a sua voz rouca e marcante reverberar por todo o ambiente, me tirando dos meus próprios devaneios.

— Então, Alana Lopes... eu imagino que esteja exultante com a sua transferência para o escritório de Nova York... e mais ainda ao saber que terá a mim como o seu superior imediato — o executivo falou bem alto, inclinando o tronco em minha direção.

É impressão minha ou o meu novo chefe está saidinho demais, após ter tomado alguns drinks? Sequer tivemos ainda a oportunidade de nos conhecer, mas, pelo menos, ele está sendo respeitoso comigo.

— Realmente, eu tenho muito o que comemorar, Mr. Rogers — respondi, esboçando um sorriso afável.

Para minha surpresa, antes mesmo de proferir algum comentário adicional, senti que passavam o braço em meu ombro, e ao virar o rosto, notei que o consultor sênior me apertou com força junto a si, demonstrando um nível de intimidade que não condizia mais com a realidade.

Confinada com o Chefe: Quarentena com o CEO (AMOSTRA)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu