Sinto a mão de Jade no meu braço e finalmente olho para ela, encontrando ow seus olhos escuros brilhando de apreensão. Então eu sei que é hora de ir embora. E é o que eu faço, ignorando o chamado desta mulher que, sinceramente, é uma completa estranha para mim.

Quando chego do lado de fora, uma brisa gelada se choca contra o meu rosto, mas me sinto estranhamente sem ar, sufocado. As lágrimas insistem em preencher os meus olhos, mas sou orgulhoso demais para deixá-las cair. 

Ela não merece… 

— Ryan — Jade me chama. 

Continuo andando. 

— Ryan, por favor. — Reconheço o tom de preocupação em sua voz. 

Consigo chegar no meu carro, meio trêmulo. Apoio as mãos sobre o capô e respiro fundo. Um, dois, três… um, dois, três… apenas respire… Mas não funciona. Essa porcaria de mantra não serve pra porra nenhuma. 

— Ei… — Jade está do meu lado agora, tentando ver o meu rosto. 

Não consigo mais me segurar. Fecho os olhos com força, e isso é suficiente para fazer as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Foda-se que isso não é nem um pouco másculo, eu só… preciso colocar isso para fora. Estou sentindo tanta raiva, tanta dor, tanto… ódio… e a única forma de extravasar é colocando isso para fora. 

É isso aí, pessoal… Ryan Blossom, o fodão sem coração, nada mais é que um miserável quebrado por dentro. Esse é meu segredo. 

Jade não diz nada. Sinto seus pequenos braços me envolverem em um abraço acolhedor. Essa é a sua forma de dizer que está do meu lado. 

Ela não merece isso. Eu não a mereço. Jade é boa demais para mim, apesar de ela achar completamente o contrário. Não sou um exemplo, não sou o príncipe encantado perfeito que ela espera. Estou fodidamente quebrado, e tenho medo de arrastá-la para essa bolha sombria que eu criei ao meu redor. 

Mas neste momento… Eu me permito ser um pouco egoísta. Eu preciso de alguém. Não… eu preciso dela. Jade é a única que não me julgou, que não se aproximou por causa de uma porcaria de status, e ela é a única capaz de acalmar essa tempestade que preenche o meu peito agora. 

— Vai ficar tudo bem — ela sussurra, passando a mão nas minhas costas. — Me dê a chave do carro. Vou te levar para casa. 

Não sei como consigo encontrar a chave do carro; minha mente está agindo no automático. Só sei que, no minuto seguinte, estou no banco do carona e Jade dirige o Mustang para sei lá onde. 

Abaixo a janela ao meu lado e acendo um cigarro. A nicotina não resolve porra nenhuma, mas gosto de pensar que sim. Depois que larguei as drogas, precisei de uma válvula de escape; prefiro morrer de câncer de pulmão do que decepcionar o meu pai mais uma vez. Eu fui um completo babaca, e ainda estou tentando consertar as coisas. 

Minha mente volta para aquela cena no restaurante novamente. Minha mãe foi embora quando eu tinha catorze anos, e depois disso eu só a vi apenas uma vez. Eu não sabia o porquê de ela ter ido embora, mas anos depois eu descobri que ela trocou o marido e o próprio filho por um cara mais rico. Ela simplesmente desapareceu e não deu notícias. A mulher que eu mais amava nesse mundo me abandonou por alguns milhões de dólares. 

Mas eu nunca consegui aceitar. Na minha cabeça, ela ainda iria voltar. Talvez fosse perceber, mesmo que tarde, o grande erro que cometeu. Acho que esse é o motivo de eu sempre deixar uma mensagem de voz na caixa postal dela. Uma mensagem que, como tantas outras, nunca obteve respostas. 

E agora eu descubro que ela tem outro filho… outra família… 

Levar um tiro no peito e ter as unhas arrancadas com alicate teria doído menos. 

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