Capítulo 2 - Maria

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Juro que estou tentando me concentrar nessa bendita reunião, mas tudo que consigo pensar é no homem que vi há duas noites na rua. Estava passando com o Damião, meu amigo, quando uma aglomeração chamou nossa atenção. Não demorou para percebermos que se tratava de uma luta de rua. Como não poderia ser diferente, parei para observar aqueles homens suados e fortes se atracando. Um em especial me chamou atenção, ele estava com um moletom cinza aberto, e mesmo com a pouco luz vi perfeitamente sua barriga definida. As veias do seu corpo estavam bastante alteradas, e foi inevitável não prestar atenção no caminho em V que levava até sua calça.

Queria ter visto seu rosto, mas não foi possível por causa do capuz. Em pouco tempo ele derrubou seu adversário, o comentário das pessoas era como ele era imbatível, o que fez com que eu chegasse à conclusão de que ele é figurinha carimbada nessas lutas.
Nunca fui de seguir o convencional, meu pai gostaria que eu fosse para a área de saúde, mas nunca me vi em hospitais. Prestei vestibular e entrei para uma das melhores faculdades de administração, e mesmo contrariado, ele teve que conviver com minha escolha. Infelizmente ele nos deixou há três anos, e eu fiquei a frente dos negócios da família, a García Empreendimentos, uma das maiores empresas do país.

Desde que passei a acompanhar lutas, tenho o desejo de empresariar alguém, pois sei como deve ser difícil para esses homens conseguir um bom patrocínio. Porém, não encontrei ninguém que valesse a pena, até a noite passada, é claro.

— Aposto dois mil que seus pensamentos estão em um certo lutador. — Damião, que também é meu sócio chama minha atenção.

Se tem uma pessoa nesse mundo que me conhece, é o Damião. Somos amigos de infância, até faculdade fizemos juntos.

— Juro que estou tentando me concentrar amigo, mas aquele cara não sai da minha cabeça. Não sei se penso mais no seu corpo gostoso, ou no quanto ele é bom como lutador.

— Deveríamos ter falado com ele naquela noite, agora como você acha que vamos encontrar aquele homem?

Quando pensamos em falar, ele simplesmente se perdeu no meio das pessoas. Até voltei lá na noite seguinte, mas nem sinal dele.

— Inferno! Será que teremos que ir todas as noites naquele lugar?

— Você não merece, mas como sou um bom amigo, andei pesquisando por aí. — Rapidamente volto minha atenção para ele — Parece que daqui a pouco terá uma luta, ao que parece muitos lutadores estarão em busca de um empresário. Quem sabe seu bonitão não é um desses?

— E você só me fala isso agora, Damião? — Pego minha bolsa e a chave do meu carro — Vamos logo, não quero correr o risco de ele ir embora de novo.

— Mas nem sabemos se ele realmente estará lá, Maria.

— Ele vai, estou sentindo isso!

Coloquei o endereço no GPS e ao que parece não é o mesmo lugar da última luta, mas parece ser próximo. Damião veio o caminho todo falando que era loucura, mas se é tão loucura assim, por que diabos ele me deu o endereço? Entendo que pode ser preocupação, mas se eu não encontrar aquele homem, tenho certeza de que surtarei.

Quase uma hora depois nós chegamos, o lugar está cheio de pessoas de todos os tipos. Não é um ringue típico dos grandes campeonatos, mas ainda assim me parece um bom lugar. Nos identificamos como empresários, afinal estamos aqui em busca de um talento. As lutas já começaram, e espero que meu lutador misterioso não tenha lutado ainda. Os dois homens que estão no ringue são bons, mas não vejo o essencial para um profissional.
As pessoas estão alucinadas, gritam e vibram a cada golpe no adversário. Não posso negar, gosto dessa adrenalina toda, meu coração bate mais forte, sinto como se o sangue que corresse em minhas veias fosse de um lutador. Diferente de mim, meu amigo olha tudo horrorizado, ele tem pavor a sangue, o que fica bem difícil de não ver nessas lutas.

A luta terminou, e fico feliz ao ver que o cara que apostei quinhentos ganhou. O juiz anunciou os novos lutadores, Onix e Ricardo. A luta começa, e nos primeiros minutos vejo que o Onix é bom, ele quase não é tocado por seu adversário, que em poucos minutos termina no chão. Engraçado... esse rosto e nome não me é estranho, tenho certeza de que já o vi em algum lugar. Aproveito o intervalo e pesquiso sobre ele, pelo visto é recém contratado por uma das maiores equipes do país. Posso estar enganada, mas acho que o contrato de um profissional proíbe estritamente lutas de rua.

— Acho que seu lutador misterioso não vai aparecer, Maria.

— Vamos assistir mais essa luta, assim que acabar iremos embora, ok?

O juiz anunciou mais uma dupla: Bernardo Oliveira e Liam Fernández. Rapidamente voltei minhas atenções para o ringue, apesar da pouca iluminação, não tenho dúvidas de que é ele.
Liam Fernández, meu lutador misterioso.
Assim como da primeira vez que o vi, ele está com um moletom, só que dessa vez é preto. O capuz não cobre seu rosto, me dando uma belíssima visão de seus cabelos pretos, que parecem combinar perfeitamente com seus olhos, que de longe acho que são cinzas. Uma pequena cicatriz em seu supercílios me chama atenção, porque deixou seu rosto com um charme a mais, olhando assim, acho que deve ter no máximo trinta anos.

Ele parece não ter pena de seu adversário, pois não economiza em seus golpes. As pessoas vão a loucura, e a cada golpe acertado gritam enlouquecidamente. Eu estava certa desde o começo, ele tem tudo que venho buscando. Por isso, só sairei desse lugar depois de marcar uma reunião com esse homem. Não posso negar que ele é um homem muito bonito, mas o foco no momento é ser sua empresária.

— É ele, não é?

— Sim, não tenho a menor dúvida sobre isso.
Tentei ao máximo concentrar minha atenção na luta, não em seu corpo maravilhoso, ou até mesmo nas veias alteradas em seu pescoço. Liam faz o estilo de todas as mulheres, o difícil mesmo é não babar por todo esse monumento.

A luta terminou, e vi o exato momento em que Liam e Onix se cumprimentaram, pelo visto, são amigos. O que fica mais fácil de eu encontrar o Liam, caso ele desapareça das minhas vistas. Com base nos jurados, Liam foi o grande campeão da noite, o que não me surpreende em nada. Rapidamente as pessoas começam a se aglomerar ao redor dele, dificultando qualquer tentativa de que eu chegue perto.
Damião se enfiou no meio da multidão, não demorou cinco minutos e ele já estava de volta, com um largo sorriso.

— Prontinho, entreguei meu cartão e combinamos dele me ligar amanhã à tarde. Vou marcar uma reunião com o seu lutador.

— Ele estava rodeado de empresários, o que faz você pensar que ele vai ligar?

— Assim como você sentiu que ele estaria presente, algo me diz que ele vai ligar. E quando isso acontecer, eu marco uma reunião e você vai falar com ele. Se você não conseguir fechar com ele profissionalmente, pode tirar uma casquinha, já que não tirou os olhos do corpo dele.

Pensei que estava sendo discreta, mas pelo visto me enganei.
Depois de muito custo conseguimos chegar ao estacionamento, entramos no carro e antes de partir vi o exato momento que Liam subiu em sua moto. Nossos olhares se cruzaram e por um bom tempo apenas nos encaramos, então ele acelerou e saiu em alta velocidade, me deixando sem palavras.
Mas, se posso ter certeza de uma coisa, é que seus olhos são realmente cinzas.

NAS VEIAS DO LUTADOR - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now