Capítulo 6 - A joia de jade

Começar do início
                                    

— Qualquer coisa serve — respondo com pressa, pois olho por cima do ombro e vejo que os soldados estão vindo nesta direção. Despejo no balcão uma bolsa cheia de moedas, sem me importar com a quantidade. Ela as recolhe avidamente.

— Por aqui, meu querido!

A noite da Mama parece ter ficado um milhão de vezes melhor. Por baixo de minha máscara reviro os olhos enquanto mergulho no corredor escuro. Ouço gemidos aqui ali atrás das portas, mas tudo em que consigo pensar é que preciso de comida para fugir e não prazer. Paramos em uma porta igual as demais. A única luz é a que a mulher carrega consigo em uma lâmpada. Ela testa chaves de um molho enorme e, se eu não estivesse tão cansado e faminto, teria achado estranho o fato dela prender suas jovens, mas não tenho tempo para isso.

— Pode trazer algo para comermos? — pergunto impaciente e ela me encara com curiosidade — sou um viajante faminto minha senhora, em todos os sentidos — respondo com uma risada que espero que tenha soado suave e convidativa. Ela sorri de volta.

— Tudo o que meu melhor cliente da noite desejar! — ela finalmente abre a porta — estarei de volta em um minuto.

Adentro o quarto aliviado, pronto para mergulhar na cama, tendo certeza de que esta vai ser a noite de sorte desta garota que ganhará muito dinheiro para velar meu sono, mas não dou sequer meio passo quando paraliso no lugar. Encolhida em um canto, abraçando a si mesma, está a jovem mais linda que já vi em minha vida.

Não paguei para ter prazer e não sei exatamente o que estava esperando, mas certamente não era aquela beldade. Ela não parece pertencer a este prostibulo, é uma peça fora de lugar e pelo olhar alarmado que me passa sei que está com medo, embora empine o queixo de modo a parecer insolente e confiante. Uau, temos uma guerreira aqui!

Algo na postura dela me indica que se eu me aproximar rápido demais ou de uma forma que lhe pareça ameaçadora ela irá me atacar. Ergo as mãos para indicar que estou desarmado.

— Não vou te machucar. — declaro, sentando-me na ponta da cama para tirar as botas. Ela exala e se move ligeiramente.

No tempo que levo para ficar descalço, a Mama está de volta com uma bandeja de sopa fumegante, fatias de pão, uma maçã, um jarro de água e um de vinho. Ela reforça que a jovem encolhida no canto é "fresquinha" e que vale ouro. Ignoro seu discurso e ordeno que traga mais comida, afinal estamos em dois no quarto. Quando a Mama faz uma careta eu lhe entrego mais moedas e ela desaparece.

— Por que fez isso? — pergunta a jovem assim que a porta se fecha outra vez. É a primeira vez que ouço sua voz e ela parece mágica. É firme, imponente. Uma voz que me enche de desejo e me força a lembrar que estou há muito tempo sem companhia feminina.

Mas não estou procurando prazer hoje, sequer tenho tempo para isso. Apoio os cotovelos nos joelhos, forçando-os até que sinta uma pontada dolorida que me força a esquecer do sangue descendo rápido demais para lugares em que não deveria estar indo. Respiro fundo, fingindo desinteresse e analiso a ponta de meus dedos enluvados.

— Você diz, por que pedi mais comida?

Ela demora um tempo, mas enfim responde:

— Isso.

— Posso ouvir seu estômago roncar daqui. — Na verdade não posso, só estou provocando, mas ela se encolhe e protege a barriga com um braço como se assim pudesse abafar qualquer som. Deixo escapar uma risadinha. Preciso me distrair dela, me mexer, fazer alguma coisa para quebrar a tensão. Empurro a bandeja na direção dela. — Sirva-se. — Ela hesita, então insisto. — Por favor.

Receosa como um ratinho saindo da toca, minha companheira se desloca do canto da parede e pesca um pedaço de pão, que ela come com cautela, sempre mantendo um olhar atento em mim. Para deixa-la mais a vontade me afasto e perambulo pelo quarto, observo a janela, bebo um gole de água e finjo ignorá-la enquanto mordisca o pão como um passarinho. Sei que preciso comer e não vim aqui para ser cortês com uma jovem meretriz, mas não consigo resistir. Pior ainda, estou curioso com ela e em como veio parar aqui.

Qingshan e o imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora