–Eu só queria falar que seu segredo está seguro comigo. –Tornei-me para encará-la no momento que seus dedos terminaram seu serviço, face a face, seus belos olhos me refletindo. –Espero que o meu também esteja com você. –Eu gostava de Cordélia e me importava genuinamente por ela, mesmo ainda tendo uma pequena experiência com ela, contudo, nada me garantia que ela não me delataria, meus olhos na expectativa de uma resposta.

–Nada nunca sairia de minha boca. –Lentamente, minhas mãos foram até as dela, apertando-as em confiança e alívio, um sorriso contido em minha face que fora sendo espelhado em seus lábios bem desenhados. Não esperava diferente dela.

Cordélia era uma amiga.

E tínhamos mais em comum do que pensávamos.

Poderíamos não discutir sobre nossas presenças na reunião da resistência no dia anterior, mas, até ser possível, sabíamos que contar com a discrição uma da outra era viável.

Para mim, isso era mais do que o bastante –minha curiosidade poderia ser sanada depois com mais segurança em um local mais apropriado.

–Tem alguma ideia do porquê Nikolai quer me ver tão cedo? –Minha mente correu até o motivo da minha última visita em seu escritório antes do meu treinamento, tratando-se do dia depois de ter invadido seu quarto (e também ter chorado lá, mas isso não vinha ao caso). Digo que, na vez anterior, ele tinha um motivo específico, pensando no que poderia ser dessa vez a razão disso ou apenas sua escolha pela viabilidade dele, afinal, Nikolai, sendo ainda sendo o Auxiliar da Rainha, com certeza deveria ser bem atarefado.

A leveza (mesmo que com ressalvas) havia sido restaurada entre nós duas, me permitindo relaxar assim como ela, sua linguagem corporal entregando como ela voltara a se sentir mais à vontade.

–Creio que não. –Falava enquanto me guiava até a penteadeira na expectativa de me dar um penteado, presumi. –Ele apenas me requisitou pela manhã e me contou que queria que o encontrasse em seu escritório assim que estivesse pronta.

Em poucas batidas do meu coração, meu cabelo já se encontrava com duas mexas, uma em cada lado da cabeça, presas juntas e descendo como uma única trança, deixando meus cachos soltos sobre os ombros, caindo pelo vestido preto bordado com rosas vermelhas, uma de suas obras mais simples e ainda mais chique do que a maioria que eu usara em toda a minha vida, ainda desenhando meu corpo de uma maneira que me fazia pensar que era parte de um sonho.

Ainda à frente do espelho admirando seu trabalho, ela aproximara à mim a comida que, até agora, não tinha sido tocada.

Dhara realmente precisava ter noções de proporção ao se tratar de refeições, não sendo possível meu corpo comportar tudo que ela sempre separava para mim, mas, ainda, admirava tudo com fome em meus olhos. Notei que Cordélia refletia a mesma vontade que eu em relação à comida.

–Acho que Nikolai está com pressa para me ver e eu definitivamente não ficarei pronta tão rápido com tudo isso à minha disposição. Será que você poderia me acompanhar? –Vi sua boca se abrir em uma negativa já pronta até cortá-la antes que ela tivesse chance de recusar. –De toda forma, é comida demais para mim e eu não quero fazer tal desfeita à Dhara. –Sorri de maneira travessa, convincente e carente. –Fique comigo.

Hesitante, Cordélia aceitou com uma expressão marota ameaçando surgir à face. Puxou à si um banco e comemos juntas, sem necessidade de palavras quaisquer.

Ás vezes, o melhor a se dizer era, simplesmente, não dizer nada.

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Cordélia foi quem me levara até o escritório dessa vez, encontrando Nikolai de pé em frente à sua papelada, tão focado com os olhos baixos que quase pensei que não tivesse notado minha presença até escutá-lo.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzOnde histórias criam vida. Descubra agora