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Onde Tudo começou + Prólogo

— Movimentação na ala leste. — A voz de Dick informou impassível pelo rádio. Eu sabia que ele poderia estar tão tenso quanto Can, mas, ao contrário dele, sabia esconder o que sentia com muito mais facilidade.

Mirei para a porta traseira do estabelecimento decadente no meio daquela estrada deserta e vi o instante em que ela se abriu, permitindo que um homem passasse por ela e andasse alguns metros antes de abrir suas calças para se aliviar.

— Can, Dick, já sabem o que fazer.

Observei da pequena colina de areia, onde eu estava camuflado, os dois se movendo de seus pontos em direção ao homem, alheio ao que acontecia à sua volta. Can o golpeou na cabeça rapidamente, derrubando-o no chão e prendeu suas mãos, arrastando o corpo ainda vivo para trás da caçamba de lixo, seria bom ter alguns deles para interrogar. Enquanto isso, Dick seguiu pela entrada traseira do lugar.

— Tudo limpo — disse após alguns instantes.

Desmontei o rifle de longa distância e tirei o tecido amarelo que usava como coberta de cima de mim, descendo pela areia quente ao seguir para onde Can me esperava, na lateral do posto.

— Siga Dick e procure as meninas — falei depois de conferir as balas de cada arma da bolsa que trouxe comigo.

— Onde você vai?

Encarei o garoto de olhos pretos. Sua pele marrom escura suava tanto que podia jurar que havia pulado em uma piscina, eu não deveria estar muito diferente.

— Vou pela porta da frente.

— Ah, cara, e ficar com toda a diversão?

— Can! — repreendi-o sério, apesar de querer sorrir, pois sim, eu me divertiria com aqueles desgraçados.

— Tá, apenas vamos acabar logo com isso e ir para casa. Estou suando pra caralho em lugares que nem quero comentar.

— Tenho certeza de que sim. — Ri nasalado antes de me virar. Can sempre dizia as coisas mais detalhadas nos momentos mais aleatórios e nada adequados para as situações.

— Espera, vai assim?

Olhei para mim mesmo. Usava uma calça jeans escura combinando com a blusa preta atrás do colete militar e a cinta com quatro granadas, duas facas e duas pistolas além do rifle em minha mão.

Dei de ombros, mordendo outro sorriso.

— Por que não? — Não é como se algum civil fosse ver, e sabia que eles estariam tão armados ou mais, se esse fosse o lugar certo – o que tínhamos certeza de que era.

— Você e suas grandes entradas... — Ignorei seu comentário e segui direto para a entrada do posto de gasolina decadente. A construção foi feita pelos norte-americanos, na época que ocupavam a cidade, mas a milícia havia tomado o controle de volta, e não se preocuparam em reformar ou manter as quatro paredes podres da conveniência, corroídas pelas constantes tempestades de areia que atingiam esse lado da estrada.

— Cavalheiros... — cumprimentei-os em sua língua nativa para anunciar minha chegada ao parar diante da porta. Sorri quando todos os cinco guardas sentados se alarmaram e pegaram suas armas já expostas em cima da mesa redonda ao lado do caixa, e apontaram-nas para mim. Levantei as mãos, levando para o topo da cabeça. — Eu até diria que é um grande prazer, mas tenho certeza de que seria apenas para mim. — E então, a diversão começou.

Devagar, desci as mãos por trás da nuca, em falso sinal de rendição e peguei a arma posicionada ali, correndo para desviar da salva de tiros que vieram em minha direção ao tirá-la do coldre, atirando de volta. Então quando a munição acabou, corri em direção ao homem à minha esquerda, golpeando seu braço e imobilizando-o para que ficasse na minha frente. Mais tiros começaram, mas atingindo apenas o corpo que usei como escudo quando avancei em direção ao segundo homem, jogando o corpo sem vida para cima dele, derrubando-o a tempo de pegar a faca em meu colete e lançá-la bem na garganta do terceiro que vinha logo atrás de mim. Abaixei-me quando sua metralhadora disparou descontroladamente enquanto ele caiu, sangrando até a morte, e sorri quando vi que acabou atingindo o outro cara.