Não que ela nunca tivesse pensado a respeito disso. Era curiosa. Mas os garotos com quem já convivera não lhe despertavam nada além de desconforto. Como resultado, não conseguiu sequer ter amigos homens. Como arranjaria um namorado assim? 

— Jun, vamos? Tô caindo de fome! – Julia saiu do banheiro renovada. Os cabelos enormes presos em uma trança única revelavam o rosto fino, de traços alongados. June guardou o canivete e tirou o celular do bolso, verificando o horário. 

— Falta vinte minutos pra servirem o café. 

Julia arregalou os olhos. 

— Espera....Que horas você me acordou? 

— Às sete. – Corou, lembrando-se que o café só era servido oito e trinta. – Desculpe...

Julia acenou com uma das mãos.

— Tudo bem, relaxa. – Ela colocou as mãos na cintura. – Tá a fim de dar uma volta por aí? Você não conhece nada ainda. 

June assentiu e pulou da cama. Estava pronta para começar o dia. Ambas saíram do quarto e caminharam pelos corredores abertos. Na construção ao lado ficavam os dormitórios masculinos, e sob a luz da manhã, ela pôde observar com clareza os detalhes que a rondavam.

 O acampamento parecia uma clareira em meio a uma floresta gigante que se estendia por quilômetros. Os dormitórios ficavam no centro do mapa. A oeste estava o refeitório e a leste a parte mais requisitada do lugar: O lago. Caminhou até a margem tranquila com Julia tagarelando em seu encalço. 

Decidiu que gostava muito dela. Ao contrário de si mesma, Julia era alto-astral e não tinha vergonha de falar absolutamente nada. Características que quase invejava. Sentaram-se na grama, próximo da margem úmida. O calor seguia ameno pela manhã, acompanhado de uma brisa suave. 

June puxou o canivete. Suas mãos coçavam de se distanciar dele por muito tempo. 

—.... Então muita gente vai aparecer. – Terminou Julia, despertando June de seu torpor. 

— O quê? 

Julia riu. 

— O Leo vai fazer uma mini festinha hoje. Ele me chamou, quer ir? 

— Leo? – Indagou June, franzindo as sobrancelhas. – O monitor Leonardo? 

Julia apenas balançou a cabeça em afirmativa. 

— Mas ele não é monitor? Achei que fosse proibido. – Admitiu. 

— Ah Jun, não seja boba. – Ela riu. – Regras são funcionam aqui, já coloque isso na sua cabeça. O diretor finge que é rígido, mas liga o "foda-se", essa é a verdade. Todo mundo faz o que quer.

 June assentiu, devagar. Se sua mãe descobrisse, certamente ela infartaria e, se sobrevivesse, viria buscá-la no dia seguinte. Internamente, aquilo soou estranhamente divertido.

— Você vai comigo? 

— Mas eu não fui convidada. – Respondeu, incerta. 

— Relaxa, ninguém liga pra isso. Só não convidam todo mundo pra não chamar atenção e porque não cabe na sala dos monitores. 

June, por fim, acabou cedendo e combinaram de aparecer na reunião secreta dos monitores. Não fazia ideia do que fazer naquele tipo de festa, mas entendeu que era uma boa oportunidade para perder os medos. Acabaram ficando por ali, conversando e rindo de algumas bobagens que Julia dizia. 

Nesse meio tempo, observando os arredores, notou que seguindo pela margem do rio, mais a leste, tinha um prédio afastado e discreto. Se os mapas informativos estivessem corretos, ali deveria ser o prédio da administração e logo atrás dele, estaria o bicicletário e a garagem.

O Que Fizemos Naquele VerãoWhere stories live. Discover now