Capítulo 26

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No sábado, dois dias depois da morte de Rabito, o grupo todo se encontrou no Parque do Ibirapuera. Como Mário não tinha um local para enterrar Rabito, e nem dinheiro para comprar espaço em um cemitério canino, optou pela cremação particular do animal.

Na sexta, Davi ainda viveria o último dia do período de luto, além de todos terem aula (apesar de ninguém ter realmente tido cabeça para tal fato), então resolveram que sepultariam Rabito no final de semana. A ideia era jogar as cinzas do animal sobre a lagoa do parque, devolvendo-o à natureza.

Era difícil dizer quem estava mais detonado, se era Mário ou Davi, apesar de a aparência do grupo, como um todo, não ser das melhores. Estavam cansados, com a cabeça cheia, sofrendo com duas grandes perdas. Até mesmo Jorge e Maria Joaquina, sempre tão bem arrumados, pareciam um tanto desleixados, talvez por não ostentarem a pose de sempre.

Alan e Kika os acompanhavam naquele dia, dando consolo para Laura e Jaime. Valéria e Marcelina, apesar de aparentarem tanto cansaço e tristeza quanto os namorados, se mantinham fortes ao lado deles.

Kika abraçou Mário assim que chegou, da forma despachada que era só dela.

─ Como você está?

─ Sendo bem honesto, eu não sei. ─ ele disse, os olhos perdidos em meio às olheiras fundas ─ A ficha ainda não caiu totalmente. Eu fico procurando o Rabito pela casa, fico esperando ele voltar para a caminha dele. Mas ele não volta.

─ Meu cachorrinho morreu, três anos atrás. Às vezes eu ainda procuro ele pela casa, sabia? É um pouco engraçado, um pouco triste. ─ Kika sorriu para ele ─ Mas sabe o que me ajudou muito, Mário?

─ O quê?

─ Um novo amor. Um novo cachorrinho. Quando eu dei adeus ao Harry, eu adotei o Sirius. E mesmo sentindo falta do Harry, eu sou tão feliz com o Sirius... Quem sabe não te ajude?

─ Eu sei que você está certa, Kika, mas nesse momento eu tenho um buraco grande demais no meu coração. Acho que preciso de algum tempo. ─ Mário deu um sorriso sem ânimo.

─ O tempo é o melhor remédio, Mário. Confie nele. ─ a garota piscou, antes de voltar para junto do namorado.

─ Bom... Vamos ao sepultamento então? ─ perguntou Adriano, suspirando alto.

O dia bonito, com sol brilhante e céu sem nuvens parecia zombar da cara deles. A previsão indicava chuva, mas eles não acreditavam que isso iria acontecer tão cedo, apesar de conhecer o clima imprevisível e inconstante da selva de pedra.

Caminharam pelo parque, que alguns anos antes tinham percorrido com Rabito em diversas ocasiões, e muitas vezes sentiram os olhos marejados ao ver outras pessoas com animais correndo e brincando por ali.

Quando chegaram até à beira da lagoa, as meninas estenderam algumas toalhas, nas quais se sentaram. Mário estava segurando a pequena caixa com as cinzas de Rabito como se fosse um tesouro inestimável.

─ Antes de jogarmos as cinzas, podíamos dividir lembranças felizes com o Rabito, que tal? ─ propôs Jaime, recebendo alguns acenos ─ Todas as vezes que nós fazíamos piqueniques, e o Mário levava o Rabito, ele roubava a minha comida. E quando eu brigava com ele, ele se enfiava no meio das minhas pernas e fazia cara de pidão.

─ Sempre que eu caia de skate do lado dele, ele vinha desesperado e começava a me lamber. Quando ele e a Maria Antonieta tiveram os filhotes, e eu vi ele cuidando dos filhotes, ele agia da mesma forma. Acho que ele me enxergava como um filhote gigante e desastrado, que precisava ser acudido. ─ relembrou Alicia.

─ Teve uma época que ele morria de ciúme de mim. O Mário não saia de casa, posteriormente descobrimos que por causa da Marcelina, mas o Rabito só via ele comigo. Aí quando ele estava em casa, ele queria marcar território. Eu perdi três pares de tênis para o xixi dele. ─ contou Paulo, rindo ─ Mas mesmo com ciúmes, ele tinha um senso de justiça incrível. Ele sempre fazia xixi, se arrependia, e trazia o osso de brinquedo dele para mim, como que pedindo desculpas.

CARROSSEL - Ano da FormaturaWhere stories live. Discover now