; quinto

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05.

Paixão


            Apaixonado.

Que palavra estranha.

A internet diz que essa palavra deriva de paixão, um sentimento muito forte de atração por alguma coisa, seja pessoa, objeto, lugar. Pelo que parece, Scorpius tem esse sentimento por mim. Ele é apaixonado por mim.

Por que justo eu? O que eu fiz para ele se sentir magicamente atraído por mim assim de repente? O que era para eu ter feito hoje mais cedo ao invés de sair correndo, quando ele disse que está completamente apaixonado? Era para eu dar tapinhas nas suas costas, começar a chorar, ou pelo menos acenar minha mão na hora de ir embora?

Porra, Albus. Que besteira que você fez.

O que Scorpius vai pensar agora? Por que eu não consigo fazer nada?

Por que eu não consigo sentir as coisas direito?

Se os sentimentos fossem água, eu seria um deserto; e Scorpius, um vasto oceano.

Eu sou um monstro.

Agora, na cozinha de Craig, minha cabeça começa a arder como nunca na região da minha testa, martelando incansavelmente, como se pudesse arrancar meus olhos fora.

Scorpius foi para a casa de Rose depois das aulas para que eles fizessem um trabalho, e eu acabei sendo convidado para ir à casa de Craig. Melhor dizendo, eu e Scorpius não nos vimos depois daquela declaração repentina e estranha pelo qual eu fui embora sem nem dizer uma palavra. O que eu faço quando ele aparecer de novo? O que eu digo? Eu digo "eu também"?

Afinal, eu também estou apaixonado por ele? Como faz para saber se eu me sinto atraído a alguém a este ponto ou não?

A dor de cabeça agora queima cada parte do meu cérebro, e suspirar não vale em nada. Pisco meus olhos muito forte, apenas observando as mãos tão encardidas de Craig colocando a massa pronta de cupcakes em uma forma, enquanto ele assobia alguma música.

Eu e ele, desde que voltamos da escola, temos preparado cupcakes. Ele tentou puxar assunto algumas vezes, falando algumas coisas sobre o que eu tinha achado da aula de geografia, se eu tinha assistido o novo episódio da sua série favorita, e se eu estava tudo bem, já que não falei quase nada além de respostas monótonas a cada pergunta que ele fazia.

Tenho cem por cento de certeza de que, enquanto preparávamos os cupcakes, Craig me olhava a cada minuto, de relance. Mas ele não dizia nada. Eu também não.

Agora, não acho que é hora de continuar em silêncio, principalmente quando há algum pensamento, algum sentimento dentro de mim que Craig nem ao menos sabe qual é.

─ Craig, por que eu sou assim? ─ eu pergunto, tão de repente; e ele, enfiando a forma de cupcake no forno já aquecido, e fechando-o lentamente, me encara por cima do ombro.

─ Assim como? ─ ele pergunta, como se ele não fizesse a menor ideia do meu problema, quando, na verdade, ele é o que mais o compreende.

Mas ele me olha de um jeito tão profundo que, mesmo não sabendo como dizer, minha boca se abre automaticamente, e eu gaguejo para explicar:

─ Assim... tão...

─ Não entendi.

─ Você sabe sobre o que estou falando. ─ eu falo imediatamente, e ele ergue os braços em sinal de redenção, com as mangas da blusa arregaçadas. ─ Eu sei que sabe. ─ continuo. ─ Eu não sou o mesmo, né, de quando... desde que a gente era pequeno.

Sentimentos São - ScorbusWhere stories live. Discover now