CAPÍTULO 35 - A REBELIÃO PRUSSIANA

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- Comerciais? Perguntei curioso.

- Eu explico! Disse Jan estendendo um mapa sobre a mesa do conselho. Os demais colocaram-se em volta.

- O Império Teutônico se estende da Polônia até a Lituânia e jamais ousa ultrapassar essas fronteiras devido ao tratado de Tórun. Mas apesar de respeitá-lo, o Império Teutônico não é o que chamaríamos de um bom vizinho. Suas tropas estão sempre fazendo incursões nesses reinos, em busca de pontos fracos. Regiões que sejam tratadas com descaso por seus governantes. Uma vez ali, se instalam e prosseguem com seu plano de dominação!

- Os Teutões têm um projeto que jamais irão revelar, mas sabemos que existe, que é real, o Ostsiedlung! Complementou o capitão e continuou.

- A chamada expansão germânica para o leste. A nossa missão assim como deve ser a de nossos vizinhos é detê-la!

- Só o que temos que fazer agora é achar um jeito de conversar com os governantes desses reinos! Até agora, todas as tentativas foram infrutíferas. Mas mantemos a fé, surgirá uma maneira! Complementou Mestre Tynus.

- Então basicamente o motivo é dinheiro, o vil metal! Falei com uma ponta de desapontamento.

- E esse não é o combustível de todas as guerras? Dinheiro e poder! Reforçou o capitão Gudruk.

- Sim, mas existe a questão do orgulho nacional, o sentimento de amor pela terra onde nascemos, penso eu! Respondi.

- Mas e se tudo isso vier complementado com uma vida farta, confortável e digna? Era o que tínhamos antes da chegada desses malditos teutões, e é o que queremos de volta. Escolher quem nos governa, como viver a nossa vida e principalmente em que acreditar. Não queremos nenhum tipo de imposição, seja ela de costumes ou crenças! Agora era Nohra que respondia com uma convicção e clareza que calou a todos.

- Mas agora temos que nos certificar de uma coisa! O capitão aqui nos falou que vossa mercê se tornou um dos integrantes da equipe de investigação do subxerife. Está correto? Questionou Bazynski.

Estranhei o fato de o capitão Gudruk já saber de algo tão recente, mas guardei para mim.

- Sim, era uma necessidade premente, eu precisava estar a par das investigações, e ao mesmo tempo estar ao lado da enfermeira Marielle que, devido a perda do seu noivo manifestou o desejo de participar das buscas! Disse convicto.

- Estar ao lado da enfermeira, por quê? Tendes algum tipo de pacto com essa mulher? Perguntou Nohra curiosa.

- Na verdade o pacto é apenas meu, ela salvou mais de uma vez a vida de meu tio que considero como a um pai. Me sinto em enorme dívida desde então! Respondi.

- E tenho comigo a certeza de que esses crimes têm uma segunda motivação. Parecem nitidamente uma forma de aterrorizar a população, impedindo-a de reagir. Usando o oculto, o inexplicável!

- O único ponto que não pude ligar nessa trama toda é que tipo de conexão as vítimas têm entre si! Complementei.

- Todos eles eram membros atuantes do nosso movimento de resistência! - Valorosos e destemidos combatentes de nossa causa! Falou Gudruk.

Não consegui dizer mais nada, o homem esclarecera tudo em uma única frase. Tudo ficara claro como o dia.

O restante da noite foi de amenidades. Aproveitei o tempo para absorver tudo o que havia ouvido, apenas uma dúvida me sufocava e não outra maneira de dissipá-la a não ser com uma pergunta direta. Aproveitei um momento em que estávamos sozinhos e disparei.

- General Jan, poderia lhe fazer uma pergunta pessoal?

- Pois não meu rapaz!

Mais seguro prossegui.

- Vossa mercê tem algum grau de parentesco com a enfermeira Marielle?

- Por certo, sou o pai dela! Respondeu.

Confesso que senti meu rosto se afoguear e o coração bater mais forte.

- E vossa mercê é o rapaz misterioso que ela teima em não me apresentar! Exclamou com uma piscadela cúmplice.

- Sim, eu, claro que nós...! Tentei falar.

- Não se preocupe rapaz confio na minha menina, sei que ela sempre fará as melhores escolhas para sua felicidade. E sem que ela saiba já tens o meu consentimento! Disse num tom solene.

- Só peço uma coisa!

- Pois não Mestre Jan, o que quiser!

- Que seja esse o nosso segundo segredo!

- Segundo? E qual seria o primeiro? Perguntei confuso.

- A própria Rebelião Prussiana! - Marielle não faz ideia de que faço parte desse movimento de resistência. Aliás suspeito que ela sequer desconfie que ele exista. Nem ela, nem a mãe. Trabalho todos os dias para que elas nunca descubram, é o mais seguro para elas!

 Trabalho todos os dias para que elas nunca descubram, é o mais seguro para elas!

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A reunião terminou de madrugada, uma neve de flocos grossos salpicava o ar. Parei uma última vez antes do retorno, para apreciar o belo palacete, gravá-lo em minha mente. A construção era robusta, quase um fortim. Feito de grossas travessas de madeira e pesadas paredes de pedra. Varandas também de madeira grossa e escura circundavam o lugar em seus três andares. Estava localizado em algum lugar na floresta de Elk, ali era a sede do Capítulo da Rebelião Prussiana na região de Balga. Havia outros Capítulos, um em cada voivodia ou condado, e eles, de alguma maneira se comunicavam entre si. Absorto ainda com tudo que havia sido revelado, me mantive pensativo e silencioso por todo o caminho. O que faria com todas aquelas informações e em quem poderia confiar para usá-las a nosso favor. Uma última consideração de Mestre Bazynski jogou ainda mais peso sobre meus ombros. Observar atentamente todos os passos do subxerife nas investigações. Até se provasse o contrário, ele era um servo do Império. Para mim, toda a suspeita em relação a ele era genuína, eu já conhecia o sujeito. Sua postura vacilante, suas posições contraditórias e o ciúme de Marielle eram componentes explosivos. O homem seria capaz de tudo para tê-la, eu sentia isso. Essa sensação se apossou de mim desde o primeiro momento em que pousei-lhe os olhos. Me assombrava como um corvo agourento, que não abandona a presa quando fareja a morte próxima.

Rayd e a lua do caçador - Volume I - O DESPERTARWhere stories live. Discover now