CAPÍTULO 1 - O DESPERTAR

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Não lembro muito bem como tudo começou, também não consigo descrever com exatidão, mas tudo começou assim!

Tento abrir os olhos, mas não consigo. As pálpebras estão tão pesadas que parecem estar fundidas. Desesperado pela escuridão e impotência, tento me lembrar de alguma coisa, mas na minha mente há um vazio infinito. Todo o meu corpo está dormente, só sinto o meu coração bater, e é isso que me conforta, que me faz saber que estou vivo. Percebo que sou mente e coração e nada mais, mas ele bate lento, bem abaixo do normal. Não sei as horas, o dia, ou o lugar onde estou, mas isso não importa agora, preciso descobrir o que aconteceu. Um formigamento nas pálpebras me dá esperança. Consigo abrir os olhos logo em seguida e vislumbrar uma luz tênue e difusa. Definitivamente estou vivo, ou morto e é assim que as almas despertam no purgatório.

É fim de tarde, meu coração parece bater no ritmo normal agora, os olhos estão totalmente abertos percorrendo em ritmo frenético o local. Estou caído sobre o lado direto do corpo e o olho direito tem sua visão obstruída pelo chão de turfas. Com o esquerdo consigo ver o bosque à minha volta e uma clareira logo adiante que me permite ver o sol se pondo. Logo será noite e sinto que não recuperarei os meus movimentos até lá. Meu coração se aperta, pois, as horas parecem correr mais rápido na estrada para a noite. A Minha mão esquerda começa a se mexer em espasmos, a dor nas juntas dos dedos é pungente. Estou esgotado, o esforço para recuperar os movimentos sugou todas as minhas energias. A noite passa lentamente enquanto tento estimular partes paralisadas do meu corpo movendo-as, mas é inútil, ele parece se recuperar num ritmo próprio. Mesmo contra minha vontade não consigo mais me manter acordado, o cansaço profundo vence e adormeço mais uma vez.

Acordo algum tempo depois com os movimentos do corpo completamente recuperados. Sinto que o sono me fez bem. Um forte vento sopra um punhado de folhas geladas sobre mim, sentindo-as em minha pele percebo que estou nu. Sentindo as forças retornando, levanto-me lentamente procurando me movimentar e ativar a circulação paralisada. Sinto um frio profundo que vai até os ossos. Não havia percebido até então, mas o local onde me encontro é muito frio e uma tênue camada de gelo cobre os arbustos no entorno. Tremendo, procuro por minhas roupas, mas sem sucesso. Desapareceram, ou nunca estiveram ali.

Caminho pela floresta cobrindo as partes íntimas com as mãos. Apesar de aflito não deixo de perceber que é estranhamente silenciosa, bela e misteriosa. De repente, como se fosse tocado por um dedo invisível no meio da espinha, uma forte sensação de estar sendo seguido me invade. Busco à minha volta, o que quer que seja, mas não consigo encontrar.

"Nu, sem lembrar de nada, desnorteado e agora essa sensação insuportável, acho que vou enlouquecer!" Penso.

Depois de algum tempo não consigo me controlar, e o instinto fala mais alto. Esqueço o pudor e libero meus braços para correr o mais rápido possível. Mais à frente encontro um pequeno curso d'água, com uma sede torturante, mergulho o rosto na água muito fria e bebo sofregamente. Levanto-me rápido e sigo em frente, olhando para trás não consigo divisar nada. A noite está nublada e somente pequenos rasgos nas nuvens me permitem um pouco de luz, vinda da lua que me acompanha.

Andei por muito tempo e a sensação de estar sendo caçado ainda me acompanha. Mais à frente localizo uma espécie de trilha ou estrada e cheio de esperança apresso meu passo. Após uma pequena corrida, vencido pelo cansaço me sento sob uma grande árvore próxima para recuperar o fôlego. Somente nesse momento é que eu escuto claramente o som de passos próximos na escuridão. São passos pesados e seu dono claramente não está preocupado em passar despercebido. Seguro a respiração o mais que posso, mas quase não consigo, pois meu coração está na boca, pronto para sair. Os passos cada vez mais próximos me fazem descobrir a direção de onde vêm. A cerca de uns trinta passos à minha frente na beira da estrada eu vejo o enorme vulto.

Rayd e a lua do caçador - Volume I - O DESPERTARWhere stories live. Discover now