código norte

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- Acha mesmo que vou deixar você simplesmente se sacrificar pela gente? - Yeonjun balbuciou as palavras num tom de revolta. - Perdeu o juízo? Ah, claro, você nunca teve né!
- Yeonjun...
- Não, Yeji, tem que haver outra maneira!
- E se não houver, hein? E se essa for a única saída? Não acha que eu não pensei em outras maneiras? Não me sujeitei a este plano há centenas de anos atrás pra agora morrer como heroína, eu quero uma solução tanto quanto você!
- E a bruxa? Poderíamos contatar ela de alguma forma, certo? - Hueningkai interviu
- A menos que saibam mexer em tabuleiros ouija eu duvido muito.
- Não, essa é uma ótima ideia, na verdade...
- Ta falando sério, Yeji? - Ryujin riu.
- Aham, mas não é exatamente um tabuleiro ouija, é... uma comunicação mais sofisticada entre portais de tempo. O diário! O diário veio do passado, não é? Então, ele possui carga espiritual e emocional, em outros termos, magia. Só preciso desenhar alguns símbolos que lembro de ter visto na casa dela e pronto, acho que ela poderá nos encontrar.
A garota imediatamente se agachou no chão desenhando um círculo ao seu redor com giz branco, o restante ficou à espera de que ela precisasse de alguma ajuda.
Yeji pediu para que eles sentassem na cama enquanto ela fazia o trabalho, abriu o diário e procurou por uma folha que já estivesse em branco, desenhou certos símbolos esperando que sua memória não a desapontasse dessa vez e fossem exatamente o que ela julgou ter visto na casa da senhora.
Permaneceu quieta por alguns minutos e quando já estava perdendo as esperanças viu a folha rabiscada se tornar cintilante, as letras e rasuras agora estavam em tons de dourado. Apagadas e substituídas por uma voz serena que não vinha de lugar algum aparente, mas ainda sim, estava se fazendo presente ali.
"Diga, minha garota. Em que posso lhe ajudar?"
Como se nada mais pudesse assusta-los o suficiente, uma brisa fria adentrou o local.
"Eu...Eu gostaria de saber se..."
"Se há como você permanecer neste mundo que está se queimar o diário, não é?"
"É, é isso"
"Minha criança, regras são regras, sinto em lhe decepcionar"
"Por favor! Eu sei que há algo que a senhora pode fazer pra me ajudar!"
"Hmm...deixe-me ver"
Yeji e o restante permaneceram na mesma posição por exatos vinte minutos, achavam que a bruxa não retornaria mais com resposta alguma. Estavam mesmo fadados a seguir aquele péssimo destino?
Soobin que costumava ser o mais calmo, sentia seu interior um completo caos. O garoto tentava a todo custo entender o que estava acontecendo mas era impossível, aquilo nem parecia real.
"Majestade?"
"Está falando comigo?"
"Ah, sim. Esqueço que você está em outro mundo, mas aqui você continua sendo da realeza"
"Não é algo que eu goste de lembrar. A coroa certamente carrega um fardo enorme"
"Grandes pessoas carregam grandes responsabilidades, menina. Não tenha dúvidas de que fez o seu melhor quando estava aqui. Agora vamos ao que interessa, sim?"
"Sim, senhora"
"Eu vejo...Vejo que posso te livrar da maldição mas isso irá afetar a todos."
"Como?"
"No momento que queimar o diário, você permanecerá neste mundo que está, mas sem memória alguma daqui ou de qualquer outra vida que viveu."
"E isso é ruim...?"
"Talvez, depende da sua perspectiva. Suas novas memórias serão falsas. As dos seus amigos também. Você lembrará de todos eles e de quem conheceu aí, mas nunca mais do seu passado, nenhum de vocês."
"A gente aceita!" - Soobin exclamou.
"Tem certeza, meu jovem? Não se lembrarão de nada, será como se tudo o que viveram antes fosse parte de um devaneio."
"Só...salve nossa amiga. É tudo o que temos a pedir."
"Majestade, vejo que seu coração está em alegria agora. Finalmente conseguiu o que queria, conseguiu amor. Amor em diversas formas, amor entre amigos, com alguém especial e principalmente, amor que vem de dentro. Fico feliz por você, não é mais aquela garotinha assustada que conheci aqui, mas certamente ainda é um tanto atrevida"
Yeji riu baixinho enquanto enxugava suas lágrimas, se sentia livre, de fato havia amadurecido muito depois de tudo o que viveu. Sentia-se orgulhosa de si mesma, merecia a coroa que carregou tanto quanto qualquer outro que a fazia companhia naquele cômodo.
"Obrigada pelas palavras, senhora. Eu agradeço muito" - a menina respondeu.
"Vamos ao que interessa então?"
"Uhum"
"Diga-me, Yeji, aonde está o seu código norte?"
"O meu o quê?"
"O seu código norte, é o nosso lugar favorito do mundo inteiro. É nele que encontramos segurança. Onde está o seu?"
"Eu não sei, eu..."
"Pense, seu coração já sabe a resposta"
"Ryujin"
Ryujin logo se espantou com a resposta. Ela não entendia o que aquilo significava, talvez Yeji tivesse chutado uma resposta qualquer? Como ela seria um código norte?
"Ryujin é seu lugar favorito?"
"É"
"E aonde vocês estavam da ultima vez que estiveram juntas? Digo, antes de virem para esse mundo."
"Na floresta, no campo das flores douradas"
"Exato. Voltem para lá"
"Mas como? O campo das flores douradas fica aí, ele provavelmente nem existe mais aqui"
"Que menina de pouca fé...Ficará surpresa quando souber que há mais coisas boas te esperando do que imagina. 20°14"12'."
"O que é isso?"
"É a coordenada de onde o campo das flores douradas se localiza no mundo em que estão. Refaça o círculo quando chegar lá, todos vocês juntos e dêem as mãos quando o diário começar a queimar. Permaneçam de mãos dadas custe o que custar e só saiam do círculo quando o sol nascer às 5:53 a.m. Entenderam?"
"Sim. Muito obrigada, eu serei eternamente grata pela sua ajuda. Para sempre"
"Boa sorte, Majestade. Esta é  apenas mais uma tarefa que você irá suceder"
A voz desapareceu por completo deixando apenas Yeji observando o diário que agora estava fechado. A garota levantou-se devagar desfazendo o círculo ao seu redor.
- Vamos?
- Eu coloquei a coordenada que ela deu no GPS do meu telefone, não é tão longe daqui - Beomgyu respondeu.
O restante se entreolhou para assegurar de que estava tudo certo e seguiram para o lado de fora da casa. Yeonjun pegou as chaves do carro e logo se dirigiram floresta adentro.
O ar estava calmo e o único som que poderia ser ouvido do lado de fora era o dos pássaros, esses que insistiam em cantar mesmo durante a noite.
O GPS do telefone de Beomgyu apitou assim que eles estacionaram próximo ao lago. Assim que olharam para trás viram algumas flores douradas no chão, não eram muitas como antigamente mas ainda estavam ali.
Yeji respirou fundo como se sua vida toda dependesse daquele exato momento e foi desenhando um enorme círculo no chão, logo sendo ajudada por Taehyun e Soobin.
Os demais sentaram no chão acompanhando o formato do círculo e deram as mãos. Yeji pegou o isqueiro que guardou em seu bolso e observou a chama acesa por alguns segundos antes de encostá-la nas páginas do caderno. Fechou seus olhos implorando para que finalmente tudo pudesse dar certo, queria aquilo mais do que já quis qualquer coisa em sua vida antes. Deu as mãos a Ryujin que estava a sua esquerda e Yuna a sua direita. Seriam mais três longas horas até que o sol nascesse, mas eles não se importavam, contanto que estivessem juntos.
Continuaram jogando conversa fora para que o tempo pudesse passar mais rápido, aos poucos notavam que era impossível falar sobre alguns acontecimentos de suas vidas passadas, era um sinal de que o feitiço estava mesmo funcionando.
Passaram a falar então da vida que estavam vivendo no agora. Relembraram a inimizade que Soobin e Yeonjun tinham antes de perceberem que eram completamente apaixonados um pelo outro desde sempre. Ou até mesmo a friendzone longa que Taehyun e Beomgyu deram um para o outro até que cansaram de fugir dos próprios sentimentos. O romance repentino de Hueningkai e Yuna e por fim, o amor entre Yeji e Ryujin que pareceu ter desafiado tempo e espaço.
Sem perceberem, sentiram um certo clarão adentrar o círculo. Não era causado pelo fogo que já estava ali, mas pela luz do sol que estava nascendo.
O alarme do telefone de Ryujin tocou assustando não só a ela como aos demais, talvez nem eles soubessem mais a razão da garota o ter colocado.
- Que estranho eu ter colocado um alarme pra tão cedo..
- Vai ver você colocou por engano - Yeji respondeu acariciando a mão da outra garota.
- É, talvez..
- Bom, aqui nesse papel diz que fizemos o trabalho correto se o caderno tiver sido queimado por completo...?
- Não vejo mais caderno algum, Yeonjun
- Então funcionou, Bin...O que quer que isso tenha sido...
- Vocês não querem ir sei lá, pra casa? Eu tô morrendo de fome - Hueningkai interrompeu enquanto se espreguiçava.
- Com certeza, vamos sim. Que tal um lanche por minha conta? Meu pai vai adorar ter visita tão cedo assim - disse Soobin.
Os outros acenaram com a cabeça um sinal positivo e entraram no carro sem olhar pra trás. Haviam conseguido, estavam livres ou pelo menos era isso que sentiam. Seguiram para a casa do garoto e logo observaram um carro já estacionado em frente, aquele não era o carro do pai de Soobin.
Soobin franziu a testa tentando entender o que estava acontecendo, mas seguiu destrancando a porta.
- Pai? Cheguei em casa e trouxe amigos...
Um barulho de risadas vinha da cozinha junto com um aroma provocador de bacon frito. O pai de Soobin, Seokjin parecia estar conversando alegremente com outra pessoa de voz familiar.
- Caraca, Soobin, cê deve ter ido muito mal na escola pro diretor estar aqui na sua casa tão cedo assim da manhã - Huening riu.
O carro misterioso do lado de fora era de ninguém menos que Kim Taehyung, diretor da escola. Taehyung e Seokjin estavam tendo encontros casuais mas nada sério demais pra ser mencionado para o restante, não até agora.
- Soobin! É...você chegou cedo! Cedo demais, o que está fazendo cedo assim em casa?
- Pai, eu moro aqui...?
- Ta, mas aonde você tava? Onde vocês estavam? Estão com fome? Meu Deus, os jovens de hoje estão cada vez mais rebeldes. Vê isso, Taehyung? Devia suspender eles!
Taehyung ri sem graça enquanto observa a cara de espanto dos menores parados ali como se tivessem visto um fantasma.
- Aposto que vocês querem comer alguma coisa, certo? - ele disse depositando pratos para todos na mesa. - Sentem, então.
Seria uma longa manhã e com mais surpresas do que poderiam imaginar, mas nada que um bom café da manhã e minutos de conversa não pudessem resolver.
- Soobin, eu e seu pai temos algo pra falar. Eu sei que parece repentino mas, tem acontecido há uns meses e eu sei que você sabe sobre nós dois e talvez seja a hora de darmos um passo maior, certo? E eu não queria fazer isso sem falar com você antes...
- Aham, continue... - Soobin falava mastigando alguns pedaços de pão que tinha em sua boca.
- Eu e seu pai vamos nos casar
Soobin que agora tinha um pouco de café nas mãos acabou cuspindo tudo na mesa. O garoto agora estava engasgando e sendo auxiliado por Yeonjun que tinha um sorriso sem graça no rosto.
Metade do pessoal se dividia entre rir discretamente da confusão que aquilo se tornou e os outros agiam como se aquela cena fosse digna de ganhar um Oscar. A tentativa de aviso de Taehyung foi um fiasco, mas não por completo.
- Filho, você tá bem?
- Tô, haha, eu tô - o garoto respondeu com olhos lacrimejantes e uma garganta seca - Então vão casar? Meu Deus, isso é ótimo!! Desculpe a reação que eu tive, é que eu não esperava. Quer dizer, eu esperava, claro... Só não hoje.
- Qual o problema com hoje? - Taehyung questiona de volta.
- Nenhum, nenhum! É que a gente passou tanto tempo sozinho e agora tem você com a gente...
- Isso é ruim?
- Não, é ótimo. Eu gosto do senhor, é que eu nunca me imaginei com dois pais e saber que tenho isso agora é bem irado.
- Que bom saber que você gosta de mim e de nós dois, Soobin. Eu posso assegurar que farei seu pai e você muito felizes!
- Então... já que tivemos um café da manhã e tanto o que acham de virarem minhas "Cinderelas" por enquanto e me ajudarem a arrumar a casa? Todos vocês, hm? - Seokjin falou em tom de brincadeira não esperando que os outros fossem aceitar, mas claro, não deixou de ficar contente com o fato de que receberia ajuda.
A nova vida do grupo parecia estar caminhando como deveria, eram adolescentes normais agora, não mais assombrados por um passado que nunca desejaram. Era apenas o começo de uma eternidade juntos.

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⏰ Last updated: Aug 02, 2021 ⏰

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