Indecente • COMPLETO

oito

— Eu esqueci uma coisa lá — explico, descendo as escadas. 

— Você não pode pegar amanhã? 

— Não! 

— Mas… 

Paro e olho para ele, suplicante. 

— É importante, Justin. 

Acho que ele vê algo no meu olhar, pois concorda com a cabeça lentamente. 

— Então eu vou com você — determina. 

Justin vai dirigindo para a faculdade. Moramos em um apartamento a poucos minutos de lá, então não demoramos muito para chegar. O problema é que eu não consigo controlar a minha ansiedade e nervosismo, e tenho que me segurar para não vomitar no estofado de couro do carro. 

Felizmente as aulas noturnas já acabaram, então não tem muita gente pela faculdade para reparar no meu pijama. Devido às circunstâncias, isso pouco importa agora. Eu apenas desço do carro e saio correndo feito uma maluca pelo campus, agradecendo por aquela árvore estar plantada aos arredores da Instituição, caso contrário eu teria que esperar até amanhã para entrar. 

Finalmente chego ao meu destino. Ando ao redor da árvore, iluminando as raízes com a lanterna do celular, mas tudo o que tem ali são folhas secas e o gramado bem cuidado. 

— Encontrou? — O meu irmão finalmente me alcança. 

— Não está aqui — eu replico, quase adoecida. 

— O que estamos procurando exatamente? 

Olho para ele, derrotada. 

— O meu diário. 

Justin arregala os olhos, incrédulo. 

— Toda essa mobilização por causa de um diário idiota?! — rosna. — Você está de brincadeira, né? 

Mordo o lábio inferior, constrangida. 

— O que você escreveu de tão importante lá? — indaga ele, bufando. 

Enrubesço. Escrevi tantas coisas… e as últimas páginas então… ai, meu Deus. 

— Olha só — ele suspira diante do meu silêncio perturbador. — Alguém deve ter achado e deixado no achados e perdidos. Depois você dá uma olhada lá. 

Engulo minha aflição e concordo com a cabeça. Um brilho de esperança surge dentro de mim, mas a verdade é maior que qualquer ilusão. 

Ryan Blossom está com o meu diário.

➳

Sabe aqueles momentos que você está com tanta vergonha que daria tudo para ficar trancada dentro do seu quarto pelo resto da vida? Pois é, esse momento está acontecendo nesse exato momento comigo. 

Não consegui dormir com a possibilidade de Ryan Blossom estar com o meu diário martelando na minha cabeça. Toda vez que eu tentava fechar os olhos, minha mente criava uma situação perfeita onde Ryan estava sentado em uma poltrona na sua casa — eu nem sei se tem uma poltrona na casa dele —, com os pés apoiados em uma mesa de centro, segurando uma cerveja e com o diário aberto em frente ao rosto. Sua risada fria ecoava pela minha cabeça a cada parágrafo que ele lia. A sensação de vergonha é humilhante. 

Não vou correr com Justin hoje. Ao invés disso, invento uma desculpa — de que estou com cólica — e ele parece acreditar, pois não faz muitas perguntas. Ele até se oferece para ir comprar um remédio, mas eu digo que posso fazer isso se ele me emprestar o carro. Me sinto culpada por mentir desse jeito, mas digo a mim mesma que é por um bem maior.