Um

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Jiang Cheng sorriu ao entregar o pacote com as duas telas restauradas, a pequena loja na feira cultural da cidade MB estava em ascensão, se tornando rapidamente reconhecida depois que ele apareceu num programa de televisão que visava ajudar os pequenos empreendedores. Ele observou Jiang Yanli separar algumas peças que seriam postas nas araras. Andando até o escritório, que era quase um segundo depósito, ele pensou que talvez fosse uma boa ideia retirar umas coisas para doação e abrir espaço para um pequeno berço, assim seu futuro bebê poderia dormir confortável enquanto ele trabalha.

— Yanli-Jiejie, vem aqui. O que acha de desocupar esse lugar e fazer um cantinho para bebês?

Jiang Yanli olhou ao redor, sorriu, formando preguinhas ao redor dos olhos, era uma senhora no auge dos quarenta anos, o único filho estava casado com dois meninos que conheceu no ensino médio e o marido, após 25 anos de casamento, tinha falecido num acidente de carro. Quando os pais rejeitaram o filho por causa da transição, Jiang Yanli arrumou as malas e mudou-se junto com Jiang Cheng. Eles ainda tinham um outro irmão, mas ele estava estudando fora do país.

— Finalmente vamos ter um bebê? - Os olhos de Jiang Yanli brilharam, ela era tão ansiosa por essa notícia que seu coração se acelerou cheio de emoção. — Você está grávido?

— Não, mas eu estarei. — Jiang Cheng estava convicto, ele havia decidido a tentar. Se o romance não estava funcionando, então ele podia ser pai solo. O ponto chave é que ele não havia contado para Jiang Yanli que essa ideia surgiu enquanto ele fazia uma busca no Google sobre como abordar o assunto com o ex parceiro.

— Seu namorado concordou? Quero dizer, se vocês voltaram eu fico feliz, mas A-Cheng... — Ela tentou abordar o assunto com alguma suavidade, mas não sabia como dizer o quanto desgostava de Wen Chao, o filho indisciplinado e ruim de um pastor da igrejinha perto da casa deles.

Jiang Cheng encarou a irmã, as sobrancelhas subindo em descrença. Ele sabia o quanto Jiang Yanli desgostava do Wen Chao, ainda assim, ela sempre tentou ficar feliz por Jiang Cheng.

— Eu sempre posso engravidar sozinho, não é mesmo? A ciência avançou o suficiente para eu não precisar esperar o príncipe encantado e para além disso, minha cirurgia foi autorizada e está marcada para daqui dois anos. — Dando uma olhada para o celular ele pensou em procurar um arquiteto, mas tinha quase certeza que seria um rim. Uma mensagem da clínica piscou na tela, anunciando que havia uma vaga no final da semana e se ele queria aquele. — Eu não quero mais esperar. — Ele respondeu com um "ok".

Jiang Yanli sorriu. Eles tinham esperado tanto tempo para que Jiang Cheng pudesse tomar conta de um corpo com o qual se identificava, ela sentiu as lágrimas se acumularem nos cantos dos olhos.

— Acho que estamos sonhando. — Ela abraçou o irmão, ignorando o rosto quase sempre de mal humor porque ela sabia que por dentro, o homem estava radiante.

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O primeiro olhar em volta o fez querer sair gritando, a sala de espera estava cheia de crianças pequenas, chorando e mulheres grávidas. Ele se sentiu um pouco deslocado, parado entre a porta e o balcão, decidindo se deveria mesmo avançar. Jiang Cheng respirou fundo e cometeu a maior burrice de sua vida: Ele fechou os olhos por um segundo e deu alguns passos para dentro da salinha.

Bem, o ato de tolice levou ao acidente. Do outro lado, vinha um homem muito concentrado em seu celular, um tipo estranho, vestindo terno e gravata numa tarde ensolarada. Esse homem, que parecia estar aqui porque sua esposa o obrigou, trombou ombro a ombro com Jiang Cheng.

— Sinto muito. - O homem se desculpou primeiro. Ele lembrava alguém conhecido.

Jiang Cheng sorriu, contra a vontade, os cantos dos lábios eram rígidos.

— Deveria, foi sua culpa. — Seu tom era baixo como um resmungo.

Ele apenas seguiu seu caminho, não parecia disposto a trocar palavras com Jiang Cheng. O homem se concentrou em acalmar a mulher ao seu lado, era nova, estava um pouco pálida e tremendo.  Jiang Cheng adivinhou que ela talvez não estava certa sobre estar grávida daquele cara que mantinha um sorrisinho curto no rosto, como se os nervos faciais estivessem terrivelmente congelados.

Jiang Cheng pensou que se os seus irmãos estivessem aqui, provavelmente, os dois iriam querer saber da história completa entre a menina e o figurão. Desviando sua atenção para a coleção de folhetos sobre gravidez e criação de filhos.

Quando o momento de entrar na sala de procedimentos finalmente chegou, Jiang Cheng suspirou de alívio, ele não aguentava mais alguns olhares em cima dele, ainda assim, Jiang Cheng não cabia em si de ansiedade. Ele sequer se importou que a garota estranha estava no balcão ao mesmo tempo que ele.

— Aqui estão suas fichas, após conferir, basta se encaminhar até a sala indicada aqui. — A mulher bonita e muito bem maquiada apontou para o local no topo da primeira ficha. — Coloque os papéis no prontuário da porta e troque de roupas, o médico virá em seguida.

Jiang Cheng leu atentamente, diferente da garota ao seu lado que revirava os papéis e apenas assinou com a mão trêmula. Ela partiu em direção ao corredor de consultórios primeiro.

Talvez, naquele momento, foi a mão do destino que entrou para bagunçar as coisas, levando o médico com quem Jiang Cheng havia marcado o procedimento para um congresso. A mão invisível do destino também o fez tão louco para ter sua pequena família que ele aceitou realizar o procedimento com outro médico. Ele também acredita que foi obra do destino que a mulher jovem demais viesse correndo na sua direção, ela estava vermelha e parecia chorar, ele tentou desviar mas foi impossível.

A menina tombou para o chão ao colidir com ele, ele estendeu a mão para segurar ela e deixou sua pasta cair. Deslizando pelo chão de linóleo, duas pastas azul claro se confundiram, a menina pegou a mais próxima, apenas passando os olhos sem realmente ler.

— Tudo bem com você? — Foi um reflexo de Jiang Cheng tentar ajudar, essa menina tinha as feições suaves que lhe lembravam sua irmã mais velha.

— Sim, apenas, preciso ir, obrigada. — Ela levantou-se tão rápido quanto podia e fez o caminho inverso ao de Jiang Cheng, parecendo trêmula e decidida.

Jiang Cheng queria ter se preocupado mais, apenas aconteceu que sendo destino ou não, ele tinha outras coisas para fazer e não estava em sua agenda se preocupar com estranhos. Ele apanhou a pasta e a colocou na porta do seu consultório.

Vestindo as roupas de atendimento, ele se deitou na cama e esperou até que o médico entrasse. O processo não demorou muito, o médico era simpático apesar do erro nítido em chamar Jiang Cheng de "senhorita Jiang", deixando-o extremamente irritado e desconfortável, mas ele relevou porque, ao menos dessa vez, ele não podia se levantar e socar um transfóbico.

Levou mais ou menos uma hora até que ele pudesse retornar para casa, com a certeza que a próxima vez que voltasse seria para uma consulta de pré natal.

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Então, oi. Esse é um conto que está sendo reescrito na versão XiCheng e eu espero que vocês gostem.

*A versão original é de minha autoria, apenas é hétero.

*Se você localizar algum erro de ortografia, gramática ou digitação, avisa aqui.

*Deixe um voto para que uma outra seja feliz e visite minhas outras XiCheng Fic. (por favorzinho)

Até a próxima.

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