Levantou-se, pegou a sua mochila no chão e, quando voltou a olhar para o outro lado, as duas crianças já não estavam mais lá.

      Lacerda não poderia concordar mais com o pai na sua afirmação de que a vista do ocaso na Praia Dourada conquistava a todos, justamente por se tratar de uma dessas pessoas, encontrando no poente uma calmaria surreal e uma paz de espírito imensa

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      Lacerda não poderia concordar mais com o pai na sua afirmação de que a vista do ocaso na Praia Dourada conquistava a todos, justamente por se tratar de uma dessas pessoas, encontrando no poente uma calmaria surreal e uma paz de espírito imensa.

Era tão bom quanto suas conversas com Leandra, ou os conselhos de Lena, só que, naquele caso, não precisava dizer absolutamente nada, pois a grande estrela parecia já saber de todas as suas angústias, cuidando, assim, de abraçá-la e fazer com que se sentisse em paz, nem que apenas por instantes.

As três coisas funcionavam como peças que se encaixavam, mas não anulavam na preta a sensação de que havia algo em falta. Era o vazio que ocupava um grande espaço e, à medida que o tempo passava, se fazia mais evidente.

Do terraço da Sombra do Poente, no mesmo lugar onde, mais de uma semana antes, estivera com Léia, tinha a visão do sol sobre o mar, e da longa despedida que se desenrolava ali, como se partir não fosse sua vontade, mesmo sendo certo que voltaria para o amanhecer.

Gostaria de dizer ao sol que lhe entendia perfeitamente, pois, despedidas não eram a coisa mais agradável do mundo, e ela bem o sabia.

Conservava um dos joelhos dobrado junto ao peito, e o outro em baixo, balançando lentamente.

Do seu lado direito jazia o exemplar de "Quando cai a última folha", pousado ali poucos minutos antes, após a leitura de um capítulo em que Kaira, a protagonista, reencontrava pela última vez seu pai já falecido, em um plano celestial, tendo assim a oportunidade de lhe dizer todas as coisas que não pôde nos últimos momentos de sua vida.

Embora ciente de que se tratava de um livro de fantasia e da impossibilidade de algo assim acontecer na realidade, a solarense não conseguia evitar pensar como seria se tivesse a mesma oportunidade que Kai, e pudesse reecontrar sua mãe.

Tentava imaginar as coisas que diriam uma à outra, o turbilhão de emoções que tomaria conta de si e, principalmente, se ela lhe perdoaria.

Olhou de soslaio quando notou alguém tomar lugar ao seu lado, encontrando o sorriso da tia; seu rosto iluminado pela graciosa luz do sol.

Ela nada disse ou fez, além de distorcer parcialmente o corpo para fitar melhor o horizonte.

Com a correria do dia-a-dia, as responsabilidades da maternidade e do trabalho, e tantas outras coisas, eram poucos os momentos como aquele que aproveitava e, por vezes, se esquecia que tinha algo tão lindo mesmo ao seu alcance.

Desviou brevemente o olhar para a sobrinha, antes de indagar:

      — E aí? Como você tá?

      — Bem. — disse, olhando para Lena, cuja expressão era de quem não estava muito acreditada da sua resposta. — Apenas pensativa.

Ainda que não fosse a resposta que esperava ouvir, por já saber, de antemão, que as coisas não estavam fáceis ultimamente, não quis ser invasiva, pelo que assentiu, optando pelo silêncio nos segundos seguintes.

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