57. Incógnitas

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Ela estava diferente de todas as outras vezes em que a vira

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Ela estava diferente de todas as outras vezes em que a vira. Não tinha os belos cabelos escovados, nem a pele de porcelana maquiada com o melhor que o Vale de Awa podia oferecer. Não tinha as unhas feitas e nem mesmo as vestes esvoaçantes de cores vibrantes que tiravam o fôlego de qualquer um que tivesse o prazer - ou desprazer - de cruzar seu caminho. Agora, suas longas madeixas dançavam com o zéfiro sereno que meneava a flora e mostravam seu volume natural. Suas vestes eram tão simplórias como as de uma camponesa, apenas um vestido de cor salmão com um corpete amarronzado pouco folgado para seu corpo. Sua pele alva estava queimada, castigada em todas as partes que o sol de Sonca podia tocar. Entretanto, seus olhos cor de esmeralda estavam ainda mais destacados naquela carne que nem parecia ter vindo da realeza, evidenciando, sem sombra de dúvidas, que aquela prostrada ali, com as mãos trêmulas e a boca entreaberta, era ela. A rainha.

O tempo congelou entre os olhares cruzados de Gaia e Odile. Segundos pareceram durar horas e a feição desalentada daquela mãe sem seu filho repousou no pequeno embrulho nos braços da garota à sua frente.

Tanto Nafré quanto Isaac enrijeceram, olhando de uma para a outra, desacreditados.

Gaia sentiu como se naquele momento sua cabeça tivesse sido sentenciada à forca - ou pior. Sentiu como se aquela mulher fosse arrancar seus olhos com as próprias unhas.

Entretanto, a rainha a surpreendeu. Odile soltou um soluço esganiçado e sentiu as pernas tremerem, os joelhos quase cederem à gravidade. A rainha levou as mãos à boca quando seus olhos encheram-se de lágrimas e ela cruzou o pouco espaço entre ela e Gaia com passos exaltados. Suas mãos tinham um único foco - Kaha.

Gaia, petrificada, permitiu que as trêmulas mãos de Odile tomassem seu filho de volta em seus braços. Kaha resmungou com a mudança abrupta de colo, mas pareceu reconhecer o calor daqueles braços, o cheiro daqueles cabelos, o modo único como sua mãe o segurava com a cabeça encostada no peito, no coração. Odile, com os lábios trêmulos, presenciou algo único. Os olhos de seu filho, agora maior e mais forte, encheram-se de lágrimas. Não as lágrimas típicas de um bebê, as lágrimas de saudades e emoção.

A rainha deixou que seus prantos tomassem toda a atenção do lugar e seus joelhos automaticamente dobraram, rumando à terra aos seus pés. Ela abraçou seu filho como se nada mais pudesse separá-los. Nunca.


Gaia ainda não conseguira mover-se.

Ela sabia que aquele dia chegaria, mas negava-se a acreditar. Negava-se a acreditar que Kaha seria tirado de seus braços, o pequeno príncipe pelo qual sacrificou tudo.

A crisantiana sentiu vontade de correr. Correr em qualquer direção e não olhar para trás. Deixar que o príncipe seguisse seu destino e ela salvasse sua cabeça, mesmo que para isso tivesse que continuar fugindo para sempre. Não meteria mais sua irmã naquela situação. Nem Isaac, nem Osi.

Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora