CAPÍTULO 29 - RAYD X VON PLAUEN

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- Só que o sujeito não contava com uma testemunha que cruzou com os dois, e nos deu uma boa descrição dele! Falou isso medindo-me de alto a baixo.

- Sinto ouvir que minha amada Marielle passou por tal provação! - Mas fora o fato de conhecer a enfermeira, qual a relação pensais ter eu com o crime? Respondi impassível.

- A princípio nenhuma, somente que a descrição dada, bate em muitos pontos com vossa aparência! Respondeu.

- Sou um homem comum, de aparência comum. Deve haver centenas iguais a mim na região! – Eu estou sendo acusado por isso?

- Ainda não podemos acusar ninguém! Pois o que nos deixa sem direção é que a descrição dada por Marielle não coincide com a que foi dada pela outra enfermeira! Respondeu.

- Que interessante! - Em quem acreditar então? Na vítima que esteve frente a frente com o assassino, ou na testemunha que o viu de relance? Não disfarcei a ironia e ainda complementei.

- Pois Mestre General, eu só soube agora do ocorrido, e por vosso intermédio! - Me considero inocente desse crime, mas culpado confesso de outro! Declarei.

- Qual crime? Perguntou Von Plauen confuso.

- O de conquistar Marielle! - Coisa que muitos homens da Cidadela consideram imperdoável! Respondi já pensando no efeito que tal declaração teria sobre o espírito furioso daquele sujeito. Não me enganara, ouvindo isso o homem quase perdeu o controle, senti-o tremer enquanto fuzilava-me com os olhos.

- Escute aqui ferreiro! - Eu não sei como, mas sei que estais envolvido nisso, e eu darei um jeito de descobrir!

Fingindo não ouvir as ameaças busquei mudar o assunto para algo que pudesse me ser útil.

- E o que havia de tão importante nessa caixa?

- Não é da vossa conta! Tornou Von Plauen.

- Pelo jeito havia coisas muito valiosas em seu interior, para provocar uma investigação tão tresloucada!

Acho que me excedi, pois o soldadinho colocou as mãos no cabo da espada e assumiu uma postura de ataque. Os outros soldados o seguiram.

- Biltre! O homem cuspiu a palavra na minha face.

- Somente sua insolência já é um bom motivo para cortar sua cabeça. Mas esse não é o lugar nem o momento. Assim que provarmos sua culpa eu mesmo farei isso! Respondeu tentando se controlar.

Permaneci impassível, não esbocei reação, sabia bem o que aconteceria se revidasse. A única coisa que fiz foi sustentar o olhar. A situação só foi amenizada pela chegada do tio e do capitão. O lunático mudou completamente de comportamento, soltou o cabo da espada e abriu um grande sorriso enquanto se virava para eles.

- Então capitão Linsdt, o que achastes das instalações? Já podemos mandar algumas encomendas ao mestre ferreiro?

- Sim comandante, podemos sim, só temos que definir a quantidade inicial e os tipos de armas que precisamos! Respondeu o Capitão.

- Excelente, vai ser ótimo trabalharmos juntos e ficarmos em contato mestre Aldo!

- O capitão já irá lhe adiantar um pagamento inicial e firmaremos o contrato agora com o selo da Ordem!

- Nos dias de trabalho que se seguirem, ele virá fiscalizar o andamento da fabricação e testar a qualidade das armas! Disse num sorriso satisfeito.

Não conseguia compartilhar a felicidade de tio Aldo enquanto recebia a gorda bolsa de táleres e assinava o tal contrato. Aquilo nitidamente tinha o objetivo de nos vigiar. De alguma maneira eu me sentia responsável pela situação. Agora teríamos ocasionalmente a visita de um oficial do exército para conferir o andamento dos trabalhos. Mais um problema que se juntava aos tantos outros. O General e seu pelotão saudaram respeitosamente os tios e em seguida partiram para Balga.

- Rayd meu garoto, estamos ricos, temos que comemorar. Digo, fabricar armas para o exército Teutão é o sonho de todo ferreiro que se preze. E conseguimos isso graças à qualidade do seu trabalho! Disse o tio não cabendo em si.

- Obrigado tio, o trabalho não é só meu, é de todos nós! Falei tentando esboçar um sorriso, mas não conseguia.

O tio pareceu sentir a minha inquietude.

- Eu sei rapaz, não era exatamente o que vossa mercê esperava. Me sinto contrariado em fabricar armas para esses assassinos, mas pressenti que eles não aceitariam um não como resposta. Senti o coração apertado. Senti que estaria expondo todos nós a um risco desnecessário! O tio se explicava com um tom de angústia na voz. Procurei tranquilizá-lo, afinal já estava feito.

Caminhei até a frente da casa, e de um outeiro próximo olhava para a estrada enquanto a tropa se afastava

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Caminhei até a frente da casa, e de um outeiro próximo olhava para a estrada enquanto a tropa se afastava. Minha intuição martelava maus pressentimentos em minha cabeça, feito pregos na tampa de um caixão. Decidi afastá-los e me concentrar apenas em uma coisa, abrir aquela maldita caixa. Ao voltar-me para a entrada da casa, me detive no bosque que a circundava, alguns olhos me espreitavam entre as árvores. Outono e a alcateia estavam ali.

Tirei a caixa de um compartimento secreto que havia feito embaixo da cama em meu quarto. Era a primeira vez que punha os olhos nela desde os acontecimentos do hospital. Arrombei-a. Em seu interior moedas, algumas joias e três grossos livros com belas capas de couro. Tirei os livros e ignorei o restante. Meu instinto me dizia que eram eles o motivo de tanto interesse do doutor Gheller. O primeiro, de capa de couro avermelhado tinha muitas gravuras com anotações. Pareciam descrever com precisão o corpo humano e todos os seus órgãos, músculos e ossos.

"Coisas de médico!" Pensei.

O segundo de capa azul também em couro, trazia basicamente as mesmas coisas só que agora eram animais e suas partes. Órgãos internos, ossos, esqueletos completos, desenhos de músculos. Algumas gravuras eram bizarras. Tudo escrito em uma língua que não conseguia entender. O terceiro tinha uma capa preta bastante gasta e envelhecida. Era elaborada com desenhos pictóricos e gravuras em baixo relevo. Estava lacrado com um cadeado que decidi não violar. Levaria tudo para Marielle, ela saberia o que fazer.

Rayd e a lua do caçador - Volume I - O DESPERTARWhere stories live. Discover now