Cria do morro

60

Hugo 🃏

Trabalhei o dia todo pensando nos bagulhos, quando chegou a hora de ir pra casa eu fui, tomei e banho e comi alguma coisa indo lá pro Pedrinho.

Carol: Tchau meu amor.- Falou passando por mim assim que eu cheguei.

Hugo: Vai com quem? - Ela beijou a cabeça do Pedro e a minha.

Carol: Fael.- Falou saindo antes de eu responder.

Hugo: Tá se envolvendo demais já, tô só olhando de longe.- Disse pro Pedrinho que concordou. 

Pedrinho: Deixa, se ele brincar com ela quero nem saber de quem ele é irmão, filho, vou meter a porrada.- Concordei com ele.

Hugo: Irmão, eu tava pensando numa ideia aqui. E se a gente construísse uma loja de mecânica? Com os bagulhos de vender as peças, de ajeitar e de quebra um lava jato? - Falei animadao.

Pedrinho: Te apoio pra caralho, boto fé que tu conquista tudo isso fácil.- Eu sorri.- Mas eu? É eu chegando na loja e a polícia chegando junto.

Hugo: Olha aí cara, já tem os primeiros clientes.- Ele riu e eu também.- Você prometeu que ia sair do tráfico e eu vou te cobrar isso agora. É uma chance pra nós dois cara, fora que a gente pode dar oportunidade pra outros moleques do morro que querem sair daqui também, Carol, Brenda, as duas iam ficar orgulhosas de nós dois.

Ele me olhou pensando e eu continuei a colocar ideia na cabeça dele, mas no fim ficou decidido que a gente ia tentar. A gente até procurou um curso de mecânica, viu como era tudo e amanhã ia atrás, eu tava animado e por pouco ele também tava na mesma.

Mas depois ele veio falar que da Marina, falou que gostava dela mas achava que não dava certo, falei logo pra terminar e viver a vida que ele levava antes que tinha muito mais lucro pra ele. Acabei falando da conversa que eu tive com a Alice e ele concordou com ela.

Pedrinho: E agora pensa só, tu querendo abrir uma loja, sabe que isso tem que ter todo teu tempo e tua atenção né? - Balancei a cabeça.- Daqui cinco anos a gente pode tá no auge e tu vai querer parar isso pra ter um filho?

Hugo: Sim, mano. Pra mim não existe bagulho mais importante que a família, eu abro mão de tudo que precisar pra isso.- Ele negou.

Pedrinho: Do que adianta? Menor, tu tem que escutar a Alice, a mãe é ela. Ser pai? Dahora, mas papo reto... a dor é dela, o estresse, o enjoo, querendo ou não a vida dela muda mais que a tua.

Fiquei trocando uma ideia com ele e depois que deu a hora fui buscar ela, tava toda lindinha e arrumada me esperando, abracei ela e a gente ficou ali conversando e decidindo pra onde ia. Quando a gente chegou, contei pra ela do bagulho com o Pedrinho e ela ficou animada pra caralho, ficou feliz e dando mil ideias pra gente. Depois a gente foi comer e eu me liguei quando o celular dela vibrou, fazendo ela encarar e bloquear.

Hugo: Quem é? - Ela me olhou.

Alice: Um amigo que eu conheci quando viajei. 

Hugo: Como assim? E por que tu nunca responde quando eu tô perto?

Alice: Eu não vou nem me estressar com essa pergunta porque tô cansada.- Falou me olhando bolada.- A única vez que ele me mandou mensagem e a gente está juntos foi essa.

Hugo: E na casa do Pedrinho? - Ela me olhou colocando a coxinha dela na mesa e parando de comer.

Alice: Eu acabei de falar que a única vez que ele me mandou mensagem e a gente estava juntos foi agora.- Repetiu.- Na casa do Pedrinho eu tava falando com a Rebeca que tava me mandando foto de lingerie pra ir ver um menino. Eu tô cansada, perdi a fome, quero ir pra casa.

Hugo: Eu só te fiz uma pergunta.- Falei sem entender.

Alice: O problema não foi a pergunta não, eu falei uma coisa e você duvidou e ainda insinuou que eu tava escondendo algo por não responder quando estou com você.- Falou chateada.- Tô cansada, Hugo. Só quero dormir.

Hugo: Desculpa, Alice. Come aí, termina de comer que a gente vai.- Ela me olhou revirando os olhos.

Ela ficou enrolando mas o teatro de sem fome não demorou muito, eu voltei a comer bem tranquilão e só foi um churrasquinho é uma cerveja gelada pra ela melhorar o humor mas ficar me olhando feio o resto da noite.