Ódio?

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Eu não encontrei com Scorpius novamente naquele dia. Na verdade, eu nem sequer saí do quarto. Alimentei-me de biscoitos e pãezinhos que levara do hotel, apenas porque eu não queria olhar para a cara dele. No entanto, eu não poderia fazer isso novamente, porque não havia mais nada para comer e, definitivamente, eu ficava com um humor mil vezes pior quando estava faminta.

Albus me mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem ontem, e eu respondi que sim, na medida do possível. Então, peguei-me pensando novamente: quarenta dias era muito, muito tempo. Eu já estava com saudades de todo mundo, especialmente de passar um tempo na Toca, que era como chamávamos a casa dos meus avós.

Não levantei cedo e nem tarde naquela manhã. Eu diria que nove horas era um meio termo. Tomei banho assim que acordei, era uma mania que eu tinha e, particularmente, adorava. Em seguida, decidi, finalmente, sair do quarto, porque estava necessitada de um café da manhã. Parte de mim se sentia mal por ter que consumir a comida da Scorpius, mas a outra parte me convencia de que estava tudo bem, porque eu o pagaria depois, e tudo ficaria certo.

Quando eu cheguei até a cozinha, lembrando-me do trajeto que ele havia me indicado no dia anterior, lá estava ele, trajando vestes completamente escuras, com sua postura ereta perfeita e uma feição impassível. Tudo o que ele fez foi desviar o seu olhar para mim, por um mísero segundo para depois voltar a sua atenção para o jornal em suas mãos.

— Bom dia — falei, quase como um sussurro.

— Bom dia.

— Você se incomodaria se eu fizesse algo para comer? — perguntei, um pouco sem graça.

— Claro, Rose. Eu prefiro que você vá até o mercado e compre alguma coisa, aliás, é justamente por isso que você vai passar, pelo menos, mais 39 dias aqui — respondeu mal humorado.

Grosseiro.

— O que foi, está tendo um dia ruim e resolveu descontar em mim? — Eu detestava quando faziam isso, e se o Malfoy achava que eu iria deixá-lo sair impune, estava muito enganado.

— Não. Na verdade, eu só achei a sua pergunta bem idiota.

— Você que é um idiota — respondi impaciente.

Ele respirou fundo e sua feição continuou neutra, o que nutriu ainda mais a minha irritação. Caminhei até a geladeira, na qual peguei um ovo, e procurei por uma frigideira no armário. Quando encontrei, fui até o fogão e preparei um ovo mexido. Eu não era uma mestra da culinária, mas pelo menos isso eu sabia fazer. Em seguida, peguei uma fatia de pão em um dos armários e, finalmente, sentei-me na mesa da cozinha, bem de frente para ele.

Eu estava pronta para morder a primeira fatia do pão, quando senti algo roçando em minha perna. Eu dei um pulo e quase gritei. Do outro lado do móvel, a feição de Scorpius, que antes estava rígida, desabou em uma gargalhada devido a minha reação ridícula, e eu, ainda assustada, levei uma das mãos até o coração, como se fosse ajudar a me acalmar. Quando olhei para baixo, era um gatinho preto, girando ao redor da minha perna direita.

— Por que você não me avisou que tem um gato?! — falei, e as palavras quase soaram como um grito.

— Porque você não perguntou — disse, como se fosse óbvio.

Seja paciente, Rose, você consegue. Repeti para mim mesma exatamente cinco vezes.

— E se eu tivesse alergia, você ia me deixar morrer?

— Primeiro, você nunca foi alérgica a gatos. — Ele respirou fundo, reunindo paciência. — Segundo, então você teria que ir embora, porque o Lynx fica.

40 DiasWhere stories live. Discover now