Assim que Caleb fechou a loja, seguimos até seu escritório que fica no segundo andar da “The Beat”. Logo que ele abriu a porta, sinalizou pra que eu me sentasse em uma das poltronas perto da enorme vidraça que nos dava uma bela visão do famoso letreiro de Hollywood  e assim eu fiz. Coloquei minha mochila no chão na parte lateral da poltrona e comecei a tamborilar os dedos em minha coxa, em um sinal claro de nervosismo.

“ nem pense em desistir agora Julie Molina. Você não subiu até aqui pra dizer não pro cara que te conhece desde seus 10 anos” -  repeti mentalmente pelos menos umas 10 vezes  até que Caleb me tirou dos meus devaneios com sua pergunta:

– Como estão as coisas na faculdade? E o trabalho? -  Caleb perguntou enquanto vinha em minha direção com seu notebook nas mãos.

Ok. Talvez agora eu esteja levemente nervosa.

– A faculdade está me matando -  admiti – Mas nada com que eu não consiga lidar, e  tudo bem no trabalho também,  vou ficar mais um mês no atendimento ao público, mas logo logo  vou começar a ficar mais no campo. -  contei e um sorriso enorme surgiu em meus lábios. Das poucas vezes que fiz saída de campo com outros biólogos, fiquei encantada. Amo realizar os resgates e adoro participar da soltura dos animais reabilitados. Não é que eu não goste do que estou fazendo agora. Apesar de ter muitos lados negativos, eu amo atender o público. Me sinto importante por poder passar um pouco do meu conhecimento durante as visitas, mas mesmo assim continuo amando estar no campo. Acho que pra mim não existe nada mais satisfatório do que resgatar e cuidar desses animais.

– E pelo o que eu me lembro, essa é sua área favorita não é? -  ele pergunta e eu o encaro surpresa. As vezes me esqueço de que costumava vir aqui passar a tarde conversando com Caleb sobre tudo, e foi dessa maneira que acabei conhecendo Willie.

–  Estou surpresa de você ter lembrado disso -  admiti e dei de ombros.

– É meio impossível esquecer disso pequena Dália, você passava a tarde inteira falando sobre seus sonhos, e apesar de sentir muita falta da senhorita tenho certeza que não foi por isso que você me ligou. -  Caleb foi direto ao ponto  e eu quase desmaiei de tanto nervoso.

É agora Julie. É só dizer sim. Não é tão difícil assim.

– Eu quero aceitar sua proposta -   começo a dizer e Caleb me olha esperando que eu prossiga – Mas  eu não tenho nenhuma música boa pra...

– Ok é agora que eu vou te interromper Julie. -   Caleb disse em um tom sério. – Nós dois sabemos que você tem uma voz incrível Julie, isso não é desculpa, e sobre suas músicas... -  ele dá um longo suspiro e volta a falar:  – São  incríveis pequena Dália. Você escreve com o coração e é isso o que mais importa. E eu analisei bem os vídeos que Willie me mostrou e fiquei interessado em umas duas músicas, e também aquela amiga de vocês -  ele para por um instante tentando lembrar o nome de Flynn mas parece não conseguir. – Aquela que usa tranças sabe? A que vive discutindo com Willie quando ela aparece por aqui. Qual o nome dela mesmo?

– Acho que você está falando da Flynn. -  respondi tentando conter uma risada ao me lembrar dos dois.

– Isso mesmo! Eu sempre esqueço o nome dela -  Caleb se lamenta e continua:

– Então, Flynn me mostrou um texto que ela musicou pra você e eu acho que seria uma boa ideia você tocar ela no sábado, caso você aceite é claro.

– Você fala como se não soubesse que no final dessa conversa eu vou dizer “sim” pra você. -  arqueei uma das sobrancelhas sugestivamente e Caleb riu.

– Você sabe que eu só trabalho com palavras pequena dália. Sei que você vai aceitar, você nunca fugiu de um desafio e não ia ser agora que iria ser ao contrário. Mas quero que saiba que não te chamei só por que te conheço e sou amigo do seu pai. Te chamei pra tocar no restaurante por que sei que você é talentosa Julie. -  Caleb fez questão de dizer cada palavra olhando no fundo dos meus olhos e como em um passe de mágica senti todo o nervosismo se esvaindo do meu corpo – Já escutei  você cantar outra vezes pequena dália. -  meus olhos se arregalaram com o espanto – Se lembra de quando você costumava vir aqui pra conversar durante a tarde? -  ele perguntou e eu assenti – Se lembra de que algumas vezes eu precisava sair pra resolver algumas coisas? -  assenti novamente querendo ver onde isso ia dar – Muitas dessas vezes, antes de abrir a porta pude ter o privilégio de ouvir você cantando e tocando aquele piano ali -  ele apontou pro piano no fundo da sala. Aquele piano é o xodó de Caleb, e ele deixa poucas pessoas tocarem nele. E eu agradeço todos os dias por ter essa honra. – Você é extremamente talentosa Julie Molina e é uma pena você não mostrar esse talento todo pro mundo. Te conheço o suficiente pra saber que devido aos últimos acontecimentos, você deve estar no mínimo apavorada com esse convite, mas quero que você saiba que não está sozinha Julie. Caso você aceite, vou fazer de tudo pra que se sinta o mais confortável possível naquele palco.

𝐴𝑏𝑜𝑢𝑡 𝐿𝑜𝑣𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora