CAPÍTULO 6

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30 de janeiro de 1997.


Amanhã é meu último dia morando em Campinas e eu não poderia estar me sentindo mais melancólico.

Antes da virada do ano estive por várias vezes em São Paulo para comprar as coisas e mobiliar o apartamento para que tudo estivesse pronto quando eu me mudar.

Ao mesmo tempo em que estou ansioso para começar uma nova vida com a faculdade e morar sem a companhia de minha mãe para me ajudar a resolver os problemas banais do dia a dia, estou triste por saber que não verei mais Sofia com tanta frequência. Por mais que a gente mate a saudade por telefone, não será mais a mesma coisa.

Luigi também vai dividir o apartamento comigo e não vê a hora de ganhar sua liberdade. Mas já lhe avisei que não quero bagunça com festas, pois sou um cara sossegado.

Sofia e eu nunca tocamos no assunto sobre nosso beijo. É como se ele nunca tivesse acontecido. Mas o engraçado é que depois daquele dia ela simplesmente parou de falar sobre o Bruno. Contou-me por alto sobre o encontro deles como se não tivesse sido o que ela esperava. Talvez o encanto por ele tenha se quebrado por algo que ele tenha feito ou falado. Não sei. Mas como nunca me fez bem ouvi-la falando toda derretida por ele, também não quis saber detalhes. O importante é que neste último ano ela esteve ainda mais unida a mim por saber que estou indo embora.

Em julho Lisa esteve no Brasil e acabamos transando de novo. É bom quando alivio minhas frustrações dentro dela, mas depois que acaba me sinto um lixo e percebo que ela também. Mas por mais culpados que nos sentimos, a gente continua cometendo este erro. E dessa vez transamos quase todos os dias durante o período que ela esteve aqui. É uma necessidade que não sei explicar.

Contei a ela sobre o beijo com Sofia e ela quis saber por que eu ainda estava indo atrás dela se o que eu tanto queria tinha acontecido. Disse-lhe que nada mudou em minha amizade com Sofia, pois ela ainda continua me vendo como seu melhor amigo e que fui apenas uma experiência para ela. Lisa nos chamou de dois idiotas que não sabem o que querem da vida. Bom... Eu sei o que quero, mas não posso forçar Sofia se apaixonar por mim.

Depois de uma semana que ela ficou aqui em Campinas, Sofia viajou com ela para passar as férias em Portugal. Sinto-me péssimo quando tenho que estar com elas no mesmo ambiente. Por mais que eu não tenha nenhuma relação amorosa com Sofia, meu coração pertence a ela, e me sinto um traidor por transar com sua tia só porque elas se parecem fisicamente.

***

Estou terminando de arrumar minha mala quando a campainha toca. Como mamãe saiu para ir ao mercado comprar as coisas do almoço, desço as escadas para atender a porta.

Quando abro me surpreendo com a presença de Lana.

O que essa garota quer agora?

Eu nem a convido para entrar e ela já invade minha casa antes que eu possa impedi-la.

Fecho a porta enquanto lhe observo analisando a sala.

— Soube que está indo embora. — ela finalmente diz algo.

— Tenho certeza que você não irá sentir minha falta já que sempre demonstrou antipatia por mim. — respondo seco.

— Depois daquele nosso beijo algumas coisas mudaram. — ela se aproxima de mim e desliza uma de suas mãos sobre meu peito. — Apesar de eu ter me mudado de colégio já que ninguém mais queria conversar comigo, eu não guardo rancor de você.

Retiro sua mão de meu peito e me afasto dela aproximando-me do sofá.

— Lana, eu não sei o que quer de mim, pois já lhe disse que aquilo foi apenas uma vingança tola da minha parte por você me acusar de algo que eu não sou.

Profundo (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now