CAPÍTULO 5

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11 de maio de 1996.


Semana que vem é meu aniversário. Vou fazer dezessete anos, mas me sinto mais velho que isso. Talvez esteja relacionado ao fato de eu não ser mais virgem, ou apenas por estar cansado de tentar deixar de ser apaixonado por Sofia. Às vezes acho que preciso me afastar dela para realmente conseguir isso, mas ela não entenderia e iria me obrigar a lhe dar explicações e eu teria que ser honesto com ela sobre meus sentimentos pela primeira vez.

Eu tive inúmeras chances de lhe dizer como eu me sinto, mas me acovardei todas às vezes por achar que ela era nova demais para compreender, e agora sou obrigado a lhe ver apaixonada por um dos poucos amigos que fiz no colégio.

Eu dei essa batalha como vencida, pois perdi a minha chance. Então agora só me resta aceitar e esperar o que o futuro me aguarda.

Deixei de comemorar meu aniversário desde o dia em que flagrei minha mãe com outro homem em sua cama. Esta data não me traz boas recordações, então não faço questão de festejá-la. Mas Sofia não consegue compreender, e todo ano fica insistindo para que eu faça uma festa mesmo que seja para poucas pessoas. Eu lhe disse que não me importaria de passar o dia com ela, mas Sofia como sempre precisa de mais. Então concordei em passar o fim de semana no sítio de seus avós para ela parar de me atormentar com esse assunto. E para provar a mim mesmo que amadureci, convidei o Bruno para que Sofia enfim tenha um tempo com ele fora do colégio. Eu sei que vai me doer para um caralho, mas preciso deixá-la ir para que eu consiga me libertar desse sentimento que se apossou de mim desde o dia em que ela entrou na minha vida.

— Ei, cara... Você tá bem? — Luigi pergunta no batente da porta do banheiro do sítio dos avós de Sofia. Nem percebi que estava me encarando no espelho enquanto pensava sobre minha vida.

— Eu vou ficar. — murmuro desanimado e vou para o quarto.

— Mano, nada contra ao Bruno, mas o que deu em você para ter chamado o cara por quem sua garota tá afim?

— Primeiro... Sofia não é minha garota. E segundo... Eu preciso deixar de ser apaixonado por ela se eu ainda quiser ter sua amizade.

— E vai desistir dela antes mesmo de ter se declarado? Não consigo entender como você pode ser tão frouxo assim!

— E você quer que eu faça o quê agora? Jogar a bomba em cima dela e esperar ver sua reação diante de algo que ela não está esperando?

— Como sabe se ela não vai refletir e começar a te ver de outra forma?

— Eu já perdi minha chance, Luigi. Não tente me fazer mudar de ideia. Sofia teve tempo o suficiente para me enxergar de outra forma por conta própria. Se nada aconteceu é porque talvez eu não a mereça.

Ouvimos passos subindo as escadas e paramos de conversar. Não demora muito e Sara está a nossa porta querendo saber por que não descemos ainda.

— É que o senhor mariquinha aqui é um enrolado para se arrumar. — Luigi tenta parecer engraçado, mas Sara não dá à mínima e eu acabo me divertindo com suas expressões faciais.

— Bom, ande logo vocês dois, pois os cavalos já estão prontos. — ela avisa e se vira para ir embora.

— Aprende comigo. — Luigi sussurra confiante e vai atrás dela. — E aí gatinha, quando vai me dar uma chance? — ele pergunta despretensioso.

Fecho a porta do quarto e lhes sigo.

— No dia de São Nunca está bom pra você? — Sara responde sarcasticamente e não contenho meu riso. Luigi olha para traz e não parece nem um pouco afetado com o fora que ela lhe deu.

Profundo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora