Dia Estranho

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Ano 2125, Universo 3

— Você está aqui agora. E com certeza, segura. — Disse o doutor de jaleco branco, sentado à mesa e olhando para mim. Estamos numa pequena sala e atrás dele há uma enorme janela que reflete a luz de um belo pôr do Sol.

— Assim espero.

— Está bem? Parece enjoada.

— Estou bem.

— Você seguirá o programa e em breve irá embora. Temos algumas coisas a fazer antes. Joyce, o que você está fazendo aqui é incrível, muita gente vai ser beneficiada por isso.

— Mesmo que isso custe a minha vida. É, eu não tenho nada a perder mesmo.

— Não diga isso, Joyce.

— O que irei dizer? "Ah, nossa… Estou me sentindo ótima com vocês me enchendo de drogas diariamente."

— Você é engraçada, Joyce — Diz ele dando um sorriso.

— Tá. Posso ir agora?

— Ah, sim. Pode, por favor, chamar o Jeff para mim?

— Tá bom. 

    Levanto e me dirijo até a porta. Minha cabeça doía. Só queria ficar deitada e não fazer mais nada, arrependida de ter vindo para cá. Porém, cansada de ver tanta gente morrendo por vírus que aparecem por aí. Você deve está se perguntando do que estou falando. Eu digo: o mundo está doente e cheio de doenças, me voluntariei para uma vacina que vai curar todas as doenças e isso é um saco. Estou aqui, andando no corredor cheio de gente de jaleco, andando para lá e pra cá. Sim, me sinto num hospício. Chego na sala onde todos que estão no programa participam. Lá, temos várias coisas bacanas: filmes, comida, séries, “internet”, videogames, tudo de bom mesmo. Em troca de estar aqui, somos “cobaias” de seus experimentos.

— Jeff, ele está chamando.

— Ai, que saco, o que ele quer agora? — Pergunta ele, lendo seu livro enquanto fala comigo.

— Talvez chupar seu…

— Joyce. — Uma terceira voz interveio, era o Carlos, um saco de pessoa.

— Oi!? — Disse eu, bem seca com ele.

— E a boca lava quando?

— Ah, vai à merda!

— Naqueles dias hoje?

— Cansada. Só quero tomar uma cerveja.

— Então vamos. — Hesitou ele, andando na frente

— Não com você.

— Ah, relaxa, vamos como amigos.

— Vai se fu...

— Epa!
  
     Reviro os olhos e o ignoro, sento no balcão que está a frente. Muita gente está na sala, o Jeff sumiu de vista e o Carlos me acompanhou se sentando também. Cara chato, legal, mas chato.

— Bom, que dia você vai?

— Quinta.

— Na quinta? Pensei que seria na sexta.

— É, mudou. — A cerveja já está servida, viro todo o copo.

— Joyce, você tá bem?

— O que você acha, Carlos?

— Pra mim você está sempre de mau humor.

— Não devia ter vindo pra cá.

— Então por que veio?

— Ao contrário de você, tenho meus motivos. Ou nada a perder mesmo... Tanto faz.

— Eu também tenho meus motivos, assim você ofende.

— Tá, Carlos.

— Olha, você sabe que qualquer coisa pode conta comigo, tá?

— Ok.

— E se....    

   Eu saio da mesa e deixo ele falando sozinho. Não estou com paciência, ainda mais para o Carlos. Falta uma semana para ir embora, apesar de estar aqui seja bom para as pessoas, é cansativo. Ando para o meu quarto, cansada e zonza, nunca me senti tão assim, estranha. Minha porta está entreaberta. Ué!? Deixei assim quando saí? Empurro a porta. Que...? Piso numa poça de sangue, um corpo estirado no chão, no meio daquele quarto. Era o Jeff. Meu Deus!.. Sinto-me acelerada. Meu corpo mole e sem reação alguma.

Impulso (Revisado)Where stories live. Discover now