O sol em Porto Rico era muito mais quente que em Âmbar, então, quando o nosso Uber chegou, eu estava totalmente suada, necessitada de um banho. Era inacreditável como Louise conseguia manter o bom humor sob uma temperatura tão causticante. Na verdade, como ela conseguia manter o bom humor em qualquer situação?! Bem que eu preferia ser assim, mas para me tirar do sério não era preciso muito — mais uma característica herdada do meu pai.

A minha mãe era o extremo oposto: mantinha a sua fleuma e tranquilidade em todas as 24 horas do dia, sete dias por semana. Vivia constantemente me persuadindo a fazer o mesmo: "Minha filha, uma princesa não deve jamais se exaltar desse jeito", "querida, olha os modos à mesa, nada de celular no momento do banquete", "Valentina, eu espero que você se comporte nesse baile, ou vai afastar a atenção do príncipe Edgar".

Notas sobre o príncipe Edgar: era o filho do Rei de Ametista, o reino vizinho. Os nossos pais queriam nos unir em matrimônio em prol dos interesses políticos deles. Ed era o sonho das ladies de Âmbar, os olhinhos delas brilhavam em cada baile ou jantar onde ele estava presente — e vai ver era por isso que eu não tinha nenhuma amiga a não ser a minha prima, Gabrielle. Com certeza, aquelas garotas tinham inveja de mim por eu ter uma promessa de casamento com um cavalheiro que eu mal conhecia.

Ok, eu confesso que tinha uma característica "Princesa Disney" em meu coração: se fosse para eu me casar um dia, queria ao menos que fosse com o meu amor verdadeiro. Não tinha nenhuma experiência com o amor romântico, além do que aprendi com os livros,  mas podia dizer de o Ed não fazia muito o meu tipo.

Edgar Guilherme Wilson era um jovem extremamente educado e refinado em seus modos, "um verdadeiro cavalheiro"— na opinião de minha mãe —, sempre despejando elogios à minha família: "Se vossa realeza me permite dizer, Woodland é o lugar mais agradável em que já estive", "como são espetaculares os vossos jardins", "Que ceia fabulosa, temo não ser merecedor de tantas atenções", dentre outros elogios pomposos. Se essa bajulação toda era porque ele concordava em se casar por interesses, ele devia ao menos direcionar esses elogios à mim e não aos meus pais e suas propriedades. Podia ao menos disfarçar!

Eu não entendia muito de amor, mas sabia que, para eu me apaixonar, o cavalheiro precisava ser, no mínimo, autêntico. Imagina só estar ao lado de alguém sem saber se aquela pessoa te admira ou aos seus bens e títulos!

Mas, em Porto Rico, eu podia ser apenas a Tina, uma garota anônima  tirando umas férias.

Alugamos uma casa muito charmosa pelo Airbnb — não quis me hospedar num hotel convencional, porque eu teria regalias: refeições chiques, serviço de quarto, três toalhas limpas por dia

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Alugamos uma casa muito charmosa pelo Airbnb não quis me hospedar num hotel convencional, porque eu teria regalias: refeições chiques, serviço de quarto, três toalhas limpas por dia... — O lugar não era nem um terço do tamanho dos meus aposentos reais, mas era melhor assim, o espaço menor tirava de mim a sensação de solidão na qual eu estava habituada. Coloquei sobre a mesinha de cabeceira alguns livros que eu havia levado, caso a viagem ficasse entediante. Louise, que ficara no quarto ao lado, caiu no sono assim que terminamos a ceia, ou melhor o pequeno jantar que consistiu, basicamente, em uma Lagosta à Thermidor, um prato francês que eu nem preciso mencionar de quem fora a ideia de preparar.

Não Muito PrincesaWhere stories live. Discover now