Capítulo 6 - Natasha e Sarah

221 33 0
                                    


- E você viu Tristan novamente? – perguntou Natasha.

Sarah olhou no relógio de pulso em seu braço. Já passava de duas horas da madrugada e a garota estava ali, com arregalados, curiosa.

- Quem sabe continuamos amanhã? – sugeriu Sarah.

- Só se você estiver com sono... Por mim pode continuar. Estou sem sono. – falou Natasha na torcida para que Sarah não quisesse ir para cabine de sono.

Sarah sorriu:

- Quase não durmo. Sempre que deito e fecho os olhos, vejo toda a vida passar na minha frente.

- Então continue, Sarah. Por favor.

- Posso continuar...

- E não pare... – Natasha ouviu-se pedindo.

Natasha olhou para o cinzeiro. Havia até fumado. E não fazia isso há tanto tempo. Estava tentado parar.

- Sentou neste lugar quando fez a primeira viagem no trem azul? – perguntou Natasha.

- Sim... Na primeira, na última e em todas as outras.

- Jura? Me conte tudo...

- Vou continuar... Pode fechar os olhos se quiser.

- Posso fechar, Sarah... Mas mesmo de olhos abertos eu consigo ver tudo exatamente como foi. Parece mágico...

Sarah deu um suspiro:

- Sim, no início tudo pareceu mesmo mágico. Era tanto amor, tanta alegria... mas aos poucos todos estes sentimentos foram transformados em dor e tristeza. E a menina que um dia foi flor se transformou em pedra.

- Mas você foi para o internato? Ou voltou e procurou Tristan? Mas era tão jovem... Só tinha 11 anos? Estava apaixonada? – Natasha fazia tantas perguntas que Sarah não tinha como responder ao mesmo tempo.

- Fui... E só conseguia pensar naquele garoto. Passaram-se os anos e eu não conseguia tirá-lo da minha mente. Eu já era uma mulher e Tristan já devia ser um homem. Eu me perguntava se ele lembrava de mim ainda. Contava os dias para poder sair daquele lugar. Mas não foi tudo tão ruim. Aprendi a ler e escrever. Tive aulas de francês, alemão e piano. Aprendi a costurar e sobre tudo que a igreja católica construiu. Então completei 15 anos.

Natasha fechou os olhos e voltou à estação ferroviária, em Deolinda, onde Sarah esperava para voltar para casa.

SEGUINDO NO TREM AZUL  (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora